O arranque oficial do Verão foi neste fim-de-semana em Serralves, com muita música e vários eventos culturais para famílias sem dinheiro para pagar um ATL em condições.Isto é o que eu escreveria se realmente tivesse sido Verão nos últimos dias, mas não: na décima edição do Serralves em Festa (SeF) o tempo esteve cinzento, choveu e fez frio. Ainda assim, se não foste nem sabes o que perdeste — e este ano nem sequer houve porrada (= festa de borla + não revistarem o pessoal).
"O tempo no Porto é incrível, ainda bem que viemos para cá fazer Erasmus."
Durante os meus passeios labirínticos (se tivesse ido sozinha, estava lixada), entre grupos de amigos e famílias com crianças pequenas, muitas delas estrangeiras, ouvi: “’Bora ali ver uma cena cultural?” — se fosse só uma amigo, são 220!
Sim, choveu mas nada que tenha impedido a concretização dos tais 220 eventos marcados para as 40 horas. O pessoal, como de costume, também compareceu em peso, dando razão ao lema: de borla, até injecção na testa!
O SeF é uma maratona cuja programação representa tudo o que Serralvez faz ao longo do ano: música, teatro, dança, exposições, performance, cinema, vídeoarte, fotografia, oficinas, visitas guiadas, circo, famílias a passear, jovens a tirar fotos e turistas asiáticos — este é, inquestionavelmente, um evento para todos os gostos e para todas as idades. Aposto que, algures entre sábado e domingo, te deparaste com a pessoa menos provável do mundo a ver o mesmo concerto que (e a gostar tanto como) tu.
Claro que a grande parte das pessoas nem conhece a programação, mas as surpresas são, maioritariamente, positivas. Caso contrário, podes sempre optar pelo programa não-oficial: um piquenique, uma caminhada ou uma sessão de duas horas a alimentar os patinhos do lago. A cena fixe no SeF é que há sempre liberdade para criares o teu evento dentro do evento oficial.
E espaço não falta. Este ano a organização até nos brindou com zonas wireless, para podermos actualizar o Instagram quase em tempo real. #Boa!
A parte menos intelectual da festa está espalhada pelos jardins. Há quem procure em Serralves o espírito de um verdadeiro festival de Verão, só que aqui tens direito a relva limpa e as casas de banho (de cerâmica) estão sempre impecáveis. O Prado é o lugar ideal para relaxar, deitado ou sentado, de pé ou em roda, e, apesar de ser o mais mediático do festival, não ofusca os acontecimentos espalhados por todo o recinto.
No sábado, como prometido, os Loosers deram um banho de música experimental. O aleatório afinal pode ter significado e eles bem que fizeram balançar alguns corpos debaixo da chuva miudinha que caía nessa altura. Os impermeáveis e os guarda-chuvas foram os aliados de muita gente, mas também houve quem preferisse dançar descalço. Um bonito cenário para o fim da primeira tarde e os Loosers a ganhar no Ténis por duplo 6-0.
Esfoliante natural para os pés. E ainda há quem pague para fazer pedicure.
A malta da Terrain Ahead, uma editora tão jovem quanto aliciante, marcou, ainda na noite de sábado, presença na Casa de Serralves com a electrónica de IVVVO e Solution. Foi alta exploração sónica. Os putos presentes parecem ter curtido tanto quanto eu (muito).
Outros concertos que vi: os Sensible Soccers jogaram com muito carinho e criaram bons momentos para acasalar, os King Midas Sound abriram a festa no Prado com uma explosão de dub e dancehall que fez tremer o chão, os Diamond Version transformaram o Prado numa pista de dança para a malta das Belas Artes e os Pachanga Boys foram a cena mais hippie a acontecer em 40 horas de programação (decide se isso é bom ou mau.
"Amor, temos de falar."
Isto é um Do ou um Don't?
E ainda: Maria & The Mirrors foi fixe, mas estavam bué nervosos e tiveram o azar de levar com alguns problemas técnicos. Dirty Honkers, a substituir os cancelados Duchess Says, foi um híbrido esquisito de géneros que pôs toda a gente a mexer e que acabou por despir o vocalista, Gad Hinkis (as outras pessoas no palco acabaram com pouca roupa).
O fim da tarde de domingo ficou por conta dos Monster Jinx. O monstro roxo, nosso amigo, subiu ao palco do jardim Maria Nordman (uma estreia, tanto quanto sei — por favor repitam) para pôr o público a saltar e para darem milhões de spoilers de Game of Thrones (melhor parte).
Após classificar o concerto no SeF como o auge do colectivo, o Stray mostrou-nos como é eficaz a fazer rap de fato e gravata (veio directo de um baptizado, ao que parece). A “Venera o Diabo (Faz Festas a Gatinhos)” fechou a actuação e mereceu até uma pequena invasão de palco cheia de frescura.
Para ti também.
Enfim, não é todos os dias que se tem um fim-de-semana deste calibre — até porque só há um sábado e um domingo por semana. Pena a conjuntura, mas valha-nos a festa. Da nossa parte, não têm de quê.
Eu, toda rota, no fim da noite de domingo.
Para o ano há mais!
Fotografia por Rui Oliveira