A simplicidade de Nego Gallo é uma das coisas mais complexas e honestas do rap nacional. Em tempos de hypa, skrrrrrr, speed flow e discurso vazio, Carlin vem sem camisa, descalço e com o rosto de Jesus tatuado no lado esquerdo do peito pra dizer que os ventos que sopram de Fortaleza trazem algo de muito importante para a música brasileira.
“O Bagui Virou”, primeiro single de Veterano — álbum que estreia no dia 10 de janeiro do ano que vem — está na rua nesta sexta-feira (7) e traz uma pequena amostra das 11 faixas que completarão o disco. Com produção do também fortalense Coro MC e coprodução de Leo Grijó, no som Nego Gallo apresenta uma visão particular de uma ensolarada, violenta e densa Fortaleza. Uma cidade que respira o reggae e as gangues, o mar e as favelas, uma cidade única em sua complexidade.
Gallo, ao lado do seu chapa Don L, é uma das vozes mais respeitadas do rap nordestino desde o Costa a Costa. Referência para as novas gerações, ele fala da importância do grupo para o Nordeste. “O ‘bagui virou’ não só pra mim — virou pra uma pá de moleque que tá aqui no Nordeste, pra um bocado de sonhador que quer viver, que quer passar por essa vida e dizer que viveu, que valeu a pena.”
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Falar com Gallo sobre música é discorrer sobre a vida, sobre as coisas mais simples, as pequenas conquistas. Este som que você está tendo a oportunidade de conhecer hoje é mais um exemplo desse olhar simultaneamente complexo e simples. “Essa música fala de vitória. Parece, por exemplo, quando você consegue alguma coisa na tua vida. Você consegue comprar uma moto. Essa moto vai te levar pra um corre, pra um trampo, te fazer ganhar um grana, sei lá, te fazer se aproximar daquela gata que você quer se aproximar numa condição bacana. É o alvará que apareceu. ‘O Bagui Virou’ é isso”, afirma.
O bagui parece realmente estar virando para Nego Gallo. Este som está sendo cantando em seus shows antes mesmo do lançamento (se liga nesse vídeo no Dragão do Mar, em Fortaleza). Há seis meses, no dia 30 de junho deste ano, o título de sua música batizou a coluna esportiva da jornalista Lulie Macedo na Folha de S.Paulo.
Ele fala de como essa música tem caminhado. “A importância dela tá em como ela tem sido recebida, um sentimento de dever cumprido. Fizemos por onde, construímos essas pontes, chegamos ao coração das pessoas. Trocamos de igual, longe da hierarquia, longe dessa ilusão que distancia as pessoas. Mas muito ciente de todo o compromisso que a gente tem com todo mundo que vem depois da gente.”
Sabemos que é difícil para o rap brasileiro sobreviver fora do eixo Rio-São Paulo, as tretas estão aí há anos. Mas depois de Comunista Rico, do Diomedes Chinaski, Bluesman, de Baco Exu do Blues, depois do show que reuniu Don L, Nego Gallo, Diomedes Chinaski, Coro MC e Doiston no Sesc Belenzinho e depois deste som — e mais ainda quando Veterano estiver nas ruas — vai ser difícil ignorar a qualidade das produções e dos MCs nordestinos.
Dê o play no clipe, ouça o som no Spotify e anote na agenda: o próximo single “Downtown” tem lançamento programado para o próximo dia 20.
Produção: Coro MC
Co-produção, synths adicionais, mix e master: Léo Grijó
Guitarras: Bruno Dupre
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