Todas as fotos cortesia de Pokémon National Championships.
Pokémon é um eSport? Faço a pergunta na sala de imprensa do Campeonato Nacional de Pokémon do Reino Unido, e um debate animado começa. Alguém sugere que o jogo não tem profundidade suficiente em seu metagame competitivo — os mesmos monstros aparecem com frequência demais nas últimas rodadas. E mesmo assim, a variedade nos conjuntos de movimentos em potencial e as diferentes estratégias e combinações que emergem, ajudam a manter as batalhas tensas e concentradas. O jogo também tem suas surpresas: o vencedor inglês da chave sênior do Campeonato Mundial do ano passado triunfou graças ao uso de um Machamp raro. Talvez sua natureza baseada em turnos tire Pokémon da categoria de eSport. Os videogames mais competitivos acontecem em tempo real. Que esportes são baseados em turnos? “Xadrez?” Eu digo que não, argumentando que alguns nem o consideram esporte, e a conversa passa para outras coisas.
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Além do mais, a questão pode ser discutível. Pokémon tem mesmo um elemento competitivo, e esse evento foi projetado para permitir que as pessoas joguem o jogo num ambiente de torneio. Mas este é meu quinto ano consecutivo assistindo o campeonato nacional (duas vezes em Birmingham, duas em Manchester e agora em Liverpool) e todas as vezes o evento parece mais um encontro de fãs de Pokémon onde por acaso acontece uma competição. O que não é necessariamente uma crítica: a vibe é relaxada e informal, e isso contribui para uma atmosfera amistosa e receptiva. Marti Bennett, escritora e ex-competidora, resume por que gasta uma fortuna em viagens e hotéis para vir ao evento. “O campeonato é mais para juntar pessoas”, ela diz. “Essa é minha coisa favorito em Pokémon.”
Depois de trabalhar anos em revistas que cobriam a Nintendo, ganhei um entendimento e uma apreciação pelos jogos Pokémon, mas não me classificaria como um fã hardcore. Meu filho, por outro lado, já investiu 600 horas só no Pokémon Omega Ruby, mesmo se considerando mais um colecionador que um competidor; e vamos sempre ao evento porque ele gosta de conhecer outros fãs da franquia e assistir às competições. Este ano ele decidiu ir ao evento vestido como Harley, um treinador extravagante de cabelo roxo do desenho animado. A resposta geral é realmente fofa. Um adolescente passa e deixa sua aprovação: “Demais o cosplay, cara”. “Muito legal”, diz uma garota mais ou menos da mesma idade, levantando os olhos de seu 3DS. Várias pessoas pedem para tirar foto com ele, e ele fica feliz em aceitar. (Mais tarde ele me diz, com toda sua modéstia típica, que foi “bombardeado por paparazzi”. Não sei se um adolescente com mochila do Squirtle conta como paparazzo, filho.)
Radiante com sua fama recém-descoberta, ele se senta com o melhor amigo para jogar algumas rodadas do novo Pokkém Tournament do Wii U. O jogo da Bandai Namco fez sua estreia no campeonato este ano, e a Pokémon Company chamou o mestre de jogos de luta Ryan Hart para ser o comentarista. Assim como o torneio principal e as finais do jogo de cartas, as partidas são transmitidas via Twitch, a primeira vez em que o campeonato inglês é transmitido ao vivo.
Simpático e abordável, Hart é a escolha ideal para cobrir um jogo de luta Pokémon. Dez minutos antes dele entrar para comentar a segunda rodada do torneio, consigo pará-lo para uma conversa informal. Antes de alguém nos interromper dizendo que ele é esperado na sala de comentários, ele me diz que vem jogando Pokkén há uma semana direto, se preparando para o evento e aprendendo os nomes e movimentos dos personagens, assistindo outros jogadores para entender a estratégia, padrões e erros mais comuns. “Estou me divertindo muito”, ele diz. “É uma novidade inteligente nos jogos de luta.”
Pergunto se Pokkén poderia se tornar uma jogo competitivo grande no circuito dos eSports. Hart diz que está impressionado com o equilíbrio do título. “Um cara jogando com um Sceptile venceu o torneio principal, e dizem que esse é um personagem médio/baixo. Isso mostra que as pessoas entenderam a hierarquia errado ou, mais provavelmente, que os desenvolvedores fizeram um bom trabalho em equilibrar o jogo.” E quais são as principais diferenças que ele vê entre Pokkén e outros jogos de luta? “Obviamente a demografia é muito mais jovem”, ele diz. “Uma coisa que Pokkén traz e que nenhum outro jogo de luta fez é que vir para torneios [como este] é um evento para a família. Você tem os pais que trazem seus filhos e todo mundo passa o dia aqui.”
Pauso o gravador do meu iPhone, sabendo que ele precisa trabalhar, mas a conversa continua enquanto ele explica por que Pokkén é um passo positivo para a acessibilidade do gênero. “É bom ter um jogo de luta que realmente encoraja novos jogadores”, ele diz. “Sabe, alguns desses jogadores mais jovens têm reflexos incríveis – eles podem ser os jogadores dos games de luta do futuro.” Ele dá uma risada. “Eu devia ter dito isso enquanto você estava gravando.” Ele vai embora e eu escrevo furiosamente todas as palavras que consigo lembrar.
Amistoso, acessível, encorajador: fica claro que o espírito do Pokémon se estende ao Pokkén. Se havia dúvidas sobre como a comunidade dos videogames de luta se misturaria com a base de fãs mais ampla de Pokémon, logo fica claro que esse diagrama de Venn tem uma sobreposição enorme. E mesmo assim, apesar da presença de Hart e das transmissões por Twitch, sinto uma ligeira hesitação da Pokémon Company em divulgar mais o evento. O número de inscritos foi menor que o antecipado, resultando em longas esperas entre as rodadas. Ouço rumores de que o evento simplesmente não teve publicidade suficiente.
E essa hesitação talvez seja compreensível. A maioria dos outros eSports foram pensados para competição, enquanto o elemento competitivo é apenas uma das facetas de Pokémon, um jogo criado principalmente para que os jogadores troquem e colecionem monstros. A Pokémon Company tem apoiado à cena competitiva enquanto garante que a série não se torne conhecida apenas como um jogo de batalha, mantendo assim seu aspecto de inclusão. Porque é exatamente esse tipo de atmosfera que permite a entrada de novos jogadores e o desenvolvimento deles num ambiente receptivo. Como Marti diz, Pokémon quer reunir pessoas — nesse caso, em uma das comunidades de videogame mais simpáticas e entusiasmada que já vi. Independente das falhas do Campeonato Nacional como evento competitivo, nesse ponto o evento é, sem dúvida, um sucesso.
Tradução: Marina Schnoor