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O cara que ajudou a inventar a máscara N95 acredita que achou um jeito de limpá-las e reutilizá-las

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Hospitais estão tentando esterilizar e reutilizar máscaras N95, empregando métodos de alta tecnologia como luz ultravioleta e peróxido de hidrogênio concentrado. Mas o pai da máscara N95 moderna acha que uma técnica muito mais simples pode funcionar: calor.

Peter Tsai é o cientista de materiais que inventou a tecnologia para fazer o material usado nas máscaras N95. Ele disse a VICE News que está pesquisando se usar temperaturas intensas nas máscaras por curtos períodos pode matar o vírus sem degradar as máscaras. Ele espera publicar os resultados da pesquisa dentro de alguns dias.

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“Vamos usar calor, 70 graus Celsius, por 30 minutos, para ver se isso pode matar o COVID-19”, ele disse na tarde de quinta-feira. “Devemos ter os resultados em um ou dois dias.”

Tsai, um professor recentemente aposentado na Universidade do Tennessee, é um dos muitos pesquisadores em companhias e instituições estudando calor como uma solução low-tech para a escassez de máscaras nos hospitais dos EUA. Desesperados para usar seus equipamentos de proteção por mais tempo que um único uso, enfermeiros e médicos disseram a VICE News que estão usando álcool ou até lenços Clorox para tentar descontaminar suas máscaras – uma tentativa desesperada que pode fazer mais mal que bem.

“Claro que ninguém quer limpar suas N95 todo dia e reutilizar EPP [equipamento de proteção pessoal], mas até recebermos ajuda do governo e segurança para profissionais de saúde se tornar uma prioridade, não temos escolha”, disse um residente do Elmhurst Hospital no Queens. “Os hospitais simplesmente não têm os suprimentos.”

“Devemos ter os resultados em um ou dois dias.”

Antes da pandemia de coronavírus atingir os EUA, o FDA e o CDC aconselhavam que as máscaras N95 não deviam ser reutilizadas. Mas para lidar com a escassez, várias agências federais mudaram suas recomendações. Enquanto alguns hospitais têm os meios para usar luz ultravioleta ou um novo processo aprovado pelo FDA utilizando peróxido de hidrogênio vaporizado para esterilização, outros centros médicos não têm esses recursos. Eles provavelmente só têm acesso a uma autoclave ou outro aparelho similar que pode aquecer itens enquanto controla a temperatura e umidade.

Já está bem estabelecido que altas temperaturas matam vírus. Por exemplo, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou MERS, pode ser morta se exposta a uma temperatura de 65 graus Celsius por mais de 15 minutos, segundo uma pesquisa de 2014 do Instituto Pasteur, uma fundação de pesquisa sem fins lucrativos com sede em Paris.

Máscaras também foram esterilizadas com sucesso para H1N1 usando calor úmido, segundo estudos feitos em 2010 pela Applied Research Associates, uma empresa de pesquisa e engenharia privada.

Mas essa cepa de coronavírus, SARS-CoV2, ainda é muito nova para ter um corpo de pesquisa avaliado e revisado por pares. O Instituto Pasteur está pesquisando se o novo coronavírus pode ser morto com altas temperaturas, mas a pesquisa não será concluída por vários dias ainda.

Jean-Claude Manuguerra, um pesquisador do instituto, disse que o SARS-CoV2 pode não reagir aos mesmos níveis de calor do mesmo jeito. Matar esse vírus, em comparação com cepas anteriores, pode necessitar de mais calor ou uma exposição mais longa.

“Isso é algo muito diferente entre vírus, e alguns deles têm uma excreção viral muito maior que outros”, ele disse. “No caso do SARS-CoV2, a excreção viral é muito maior que a do SARS, que é baixa no pulmão, e maior que a MERS.”

Para sua pesquisa, Tsai está usando números vindos da China, onde a pandemia teve início.

“Logo depois do surto, muitos virologistas fizeram diversos experimentos, e descobriram que 65 graus Celsius por 30 minutos podem matar o COVID-19”, Tsai disse a VICE News.

O truque é encontrar a temperatura perfeita que mata o vírus enquanto não destrói a máscara. Temperaturas acima de 100 graus Celsius podem matar qualquer vírus – mas provavelmente destruiriam a máscara N95 no processo. Mas Tsai disse que certificação europeia exige que as máscaras resistam a 70 graus Celsius por até 24 horas.

As máscaras também são carregadas eletrostaticamente. Isso permite que elas suguem e prendar partículas de ar que podem conter vírus, em vez de permitir que essas partículas se espalhem ou até entrem no corpo de uma pessoa. Tsai, que inventou o processo, disse que a carga eletrostática pode ser desfeita se a máscara é exposta a temperaturas superaltas, o que poderia tornar o equipamento menos eficiente. Mas na temperatura certa, aquecer as máscaras pode salvar vidas.

Scott Mechler, engenheiro mecânico da Consolidated Sterilizer Systems de Massachusetts, disse que isso combina com a pesquisa que ele vem conduzindo. Apesar de sua companhia não estar trabalhando com vírus ativos, ele disse que eles têm experimentado com temperaturas nas quais as máscaras começam a se degradar.

“Se você vai até 100 ou 120 graus Celsius, você começa a ver a degradação rápida das máscaras”, ele disse. “Estamos focados em tentar não danificar a máscara, e estamos usando números de 65 a 80 graus Celsius por 30 minutos para tentar atingir isso, sem ir acima.”

Mas Mechler alertou que as máscaras só podem ser reutilizadas de três até cinco vezes quando são desinfetadas assim.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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