Os cartéis de drogas estão por toda parte no México, mas o Los Zetas ganhou o título de cartel mais tecnologicamente avançado e perigoso do país. Eles são ex-paramilitares, estão armados como um miniexército e até criaram sua própria rede de comunicação via rádio pra organizar seus horripilantes negócios de assassinato e tráfico de pessoas e drogas.
A rede de rádio do Los Zetas é a base das operações de nível mais baixo realizadas pelos “soldados de rua”. Ela mantém as atividades diárias funcionando enquanto também fornece um método rápido de comunicação pra rede de olheiros que monitora os movimentos da polícia e garante que o cartel esteja sempre um passo à frente das autoridades. Como você pode esperar de uma gangue que curte massacrar pessoas indiscriminadamente, eles não criaram sua rede de rádio de uma forma lá muito legítima. O que eles fazem é sequestrar especialistas em comunicação por rádio, e muitos dos 36 técnicos desaparecidos de que se tem notícia nunca mais foram vistos.
Los Zetas não é o único cartel com sua própria rede de rádio, mas aparentemente eles têm a maior e mais avançada de todas, o que significa que os militares mexicanos não estão tendo muito sucesso em derrubá-los. O coronel Bob Killebrew é escritor e presta consultoria em questões de defesa nacional pro Center for a New American Security, além de ter lançado recentemente como coautor o livro Crime Wars: Gangs, Cartels and US National Security. Conversei com ele sobre o Los Zetas e sua rede de comunicação por rádio.
Coronel Bob Killebrew
VICE: Oi, Bob. O que você pode nos dizer sobre o Los Zetas?
Bob Killebrew: Geralmente pensamos erroneamente que os cartéis são apenas traficantes de drogas, quando na verdade são grupos militares terroristas. Eles também lidam com sequestros, assassinatos, extorsão — todos crimes que só são possíveis de se realizar com grupos bem organizados e implacáveis. Eles não têm valores sociais, eles não têm um sentimento social, eles não seguem regras, e seus soldados rasos são jovens que basicamente decidiram que não vão sobreviver neste mundo. Eles não têm moral nem escrúpulos.
Caramba. Além de serem realmente brutais, eles também são muito organizados, certo?
Sim, eles têm uma mentalidade paramilitar… Uma cadeia de comando, uma valorização do que a tecnologia pode fazer pra aperfeiçoar suas capacidades paramilitares. Se você é um militar que deu início a um grupo assim, uma das suas primeiras preocupações é a comunicação. É possível construir redes de comunicação a um custo relativamente baixo se você tem conhecimento pra isso. Assim, é possível construir, digamos, uma rede de rádios de nível simples usada por motoristas de táxi que pode ser captada, retransmitida, amplificada e reenviada pra qualquer lugar que você quiser, e até mesmo criptografar essas transmissões depois de enviadas.
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A que distância que eles conseguem se comunicar usando os rádios?
Isso depende do alcance que eles querem ter. Se o taxista estiver ligando pra avisar alguém de que o exército mexicano está saindo da cidade, ele só precisa falar com as pessoas da área próxima. Então eles constroem uma rede que alcance essa distância — a chamada rede local. Mas pode haver uma segunda rede — a rede estadual, digamos —, assim como pode haver uma rede nacional. Desde que eles tenham um terreno pra montar os repetidores (que aumentam o sinal), acesso aos materiais e técnicos que saibam fazer isso, não há nada que os impeça de se tornarem globais, como tenho certeza que já são.
Uau. É tão fácil assim montar uma rede como essa?
A construção de uma rede assim precisa de muitos transmissores remotos, e o terreno no México favorece isso. A maior parte do terreno mexicano, particularmente Veracruz e lugares assim, tem uma geografia distinta que permite apontar antenas e repetidores a grandes regiões. O equipamento pode ser comprado no mercado aberto — não facilmente, mas é possível. O que o Los Zetas não têm é o conhecimento de engenharia pra fazer isso. Mas, claro, eles conseguem isso do mesmo jeito que conseguem o resto — sequestrando engenheiros, fazendo-os trabalhar pro cartel e depois eliminando-os.
Por que eles precisam tanto dessa rede?
Primeiro pra controlar seus carregamentos de drogas. Quando se começa a movimentar drogas é preciso comunicação contínua — eles não usam pessoas que não sejam totalmente confiáveis. A segunda coisa que eles precisam é gerenciar seus negócios: buscar droga, descarregar droga, reuniões… Esse tipo de coisa. E, em terceiro lugar, claro, é ter controle sobre a oposição. Se um taxista pode pegar um rádio e avisar: “Olha, o exército mexicano está saindo da cidade em dez caminhões”, é um sistema aprofundado de alerta antecipado.
A tecnologia de comunicação do Los Zetas vai evoluir?
Com certeza. Vai evoluir enquanto a capacidade evoluir. O Los Zetas não fará nenhuma pesquisa e desenvolvimento por conta própria, mas comprará material novo assim que chegar ao mercado. Eles resolveram o problema da tecnologia simplesmente sequestrando as pessoas que querem trabalhando pra eles. E as eliminam assim que acabam o serviço. Eles são uma organização muito eficiente.
Por que você acha que as gangues mexicanas são tão mais violentas que as outras?
Conversei com um chefe de polícia aposentado de Nova York que me disse que conseguia entender a máfia porque a máfia tinha regras. Eles não cometiam violência indiscriminada, não saíam baleando policiais simplesmente por diversão e existia um entendimento entre eles e a polícia. Mas ele disse que as gangues que enfrentamos aqui não têm regras. Elas simplesmente matam, ou fazem qualquer coisa que queiram. Acho que é um problema pra nossa sociedade. Não apenas isso, é um problema pra nossa civilização como um todo.
Qual o real tamanho da ameaça do Los Zetas e outros cartéis?
Acho que eles representam um novo tipo de criminoso do século XXI. E esses cartéis não são a máfia — eles são diferentes e piores. E se não enxergarmos isso como um fenômeno global, eles têm o potencial de desafiar seriamente nossa civilização. Eles têm muito dinheiro, têm inovações tecnológicas e são totalmente implacáveis. Eles operam até mesmo fora das leis informais que o crime costumava seguir.
Siga o Sam no Twitter: @sambobclements
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