Você já conhece o Jhay Cortez. O cantor porto-riquenho tem sido a arma secreta dos sucessos de música urbana há algum tempo; ele é creditado como o compositor de singles das paradas da Billboard como “Amanece” de Anuel AA, “Criminal” de Natti Natasha e Ozuna, e “RLNDT” de Bad Bunny, para citar alguns. Pelo menos dois dos maiores singles bilíngues dos últimos anos – “I Like It” de Cardi B e “I Can’t Get Enough” de Benny Blanco e Tainy – se beneficiaram de seu trabalho nos bastidores. E ele tem sido essencial para a ascensão nos EUA de J Balvin tanto quanto o produtor reggaetonero colombiano das antigas Sky El Rompiendo. Mas na cabeça dele, ele ainda é um garoto num estúdio, louco para pegar o microfone.
“É estranho”, diz Cortez sobre esses sucessos, segurando uma taça de vinho branco no bar Henry do Life Hotel numa tarde em Nova York. “Essas conquistas, mesmo tendo trabalhado nelas, não considero como minhas.”
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Enquanto a música “Blem” de Drake toca suavemente nos alto-falantes do restaurante, ele descreve sua desconexão existencial em ser visto principalmente como compositor em vez de um artista de pleno direito. “As pessoas falam mais sobre isso que eu”, ele diz sobre sua ascensão escrevendo músicas para outras pessoas. “Vejo mais [essas músicas] como uma colaboração com os artistas.”
Cansado de esperar nos bastidores, Cortez lançou seu segundo projeto mês passado. Um mix robusto de reggaeton e trap, com uma pitada de pop, Famouz o apresenta como um artista totalmente formado, com uma consciência firme de seus processos e execução de suas ideias. Da música de abertura “Subiendo El Nivel” pra frente, sua experiência brilha através das canções. Estando incorporado na indústria por tanto tempo quanto ele, Cortez tem o acabamento que muita gente na indústria mataria para ter, que se encaixa muito bem em suas faixas principalmente românticas. Esse material adjacente ao R&B o leva para um público maior que aquele que se volta para o trap pelas letras pesadas e ostentação de luxos. Apesar de terem dito a ele para incluir mais participações especiais de seus amigos famosos para garantir o sucesso comercial, ele decidiu se colocar sozinho para preencher todas as faixas. “Claro que você vai ser bom se só fizer um verso de uma música”, ele brinca. “Eu queria me obrigar, com ou sem participações, a sempre ser eu nas músicas.”
O álbum deu a ele seu maior sucesso como artista principal até agora. Com alguns versos de Bad Bunny e J Balvin, o remix “No Me Conoce” mostra suas habilidades tanto no pop quanto como um adepto mais que capaz de competir com dois dos maiores nomes do urbano. Com apenas um mês, o single já teve mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, em questão de semanas entrando para o top 10 doméstico da plataforma. A perspectiva de entrar para o Hot 100 da Billboard parece certa.
Como muitos rappers dignos de nota que cantam em espanhol hoje, Cortez começou fazendo reggaeton, o que explica sua facilidade em “No Me Conoce”. Ele diz que Álvaro Díaz e Myke Towers foram alguns de seus primeiros rappers latinos favoritos, e depois de ouvi-los, ele se sentiu confortável para operar no formato trap, como mostra seus singles de 2017 “Se Supone” com Darell e “Costear” de 2018 com Almighty. (A faixa acabou ganhando vários remixes, incluindo um da estrela em ascensão de Miami Mariah e outro com o próprio Towers.) Pioneiros como Díaz e Towers demonstram o que Cortez considera uma abordagem relativamente americanizada do rap, mas ele dá crédito a Anuel AA e Bryant Myers por desenvolver um estilo mais porto-riquenho, um com que ele se identifica, assim como outros jovens morando em seu país.
“Acho que a ilha tem seu próprio som”, diz Cortez, citando as letras e flows como algo único comparado com o resto da cena mais ampla do trap. “É tudo gíria. Algumas pessoas não entendem o que estamos dizendo, mas isso é muito legal.”
Sua distinção entre o trap tocando nas ruas de San Juan versus o que vem de Atlanta coloca um contraponto nacionalista aos argumentos para unificar esses estilos geograficamente criados num só. Enquanto ele não parece ver problema em Anuel cantando no último álbum de Gucci Mane ou Jon Z chamando atenção num single de YG, ele se orgulha muito das contribuições de Porto Rico por serem distintamente representativas de sua própria cultura.
Crossover, um feito comercial que ele já alcançou várias vezes nos EUA para outros, parece ter menos valor para Cortez do que manter sua credibilidade e ser verdadeiro ao som porto-riquenho. “É uma guerra entre o que as pessoas querem, o que as empresas querem”, ele diz, e perto de um representante da Universal Music. “Pra mim, a questão são as ruas primeiro. Não ligo muito para as rádios.”
Matéria originalmente publicada na VICE EUA.
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