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O império do churrasco do Salt Bae é temperado com problemas trabalhistas

Scabby the Rat is After Salt Bae

Três anos atrás, o Salt Bae se tornou um meme vivo por temperar carne de um jeito extravagante. Desde que viralizou no começo de 2017, ele acrescentou novos truques a seu repertório: estapear e lubrificar a carne, temperar carne com um moedor de pimenta gigante e enrolar carne em ouro comestível, além de não pagar os garçons hora extra, roubar suas gorjetas, impedir mulheres de trabalhar como garçonetes e impedir a sindicalização.

A última acusação foi tema de um protesto semana passada perto da Union Square em Nova York. Salt Bae, nome verdadeiro Nusret Gökçe, tem um segundo restaurante na cidade abrindo em breve na Park Avenue, e está usando mão de obra fura-greve para construí-lo. Na quinta-feira, dezenas de pessoas, além de um rato inflável gigante chamado Scabby, apareceram para chamar atenção para a contratação de uma empresa sem sindicato, a Alba Services, para construir o novo restaurante, que se chama #saltbae. Um vídeo postado por Tafadar Sourov, um representante do sindicato Local 79, mostrava manifestantes usando bigodes falsos estilo Salt Bae e jogando sal na calçada. Eles gritavam “Salt Bae, pague um salário de sindicato” e “Fique com seu bife, trabalhadores querem o que é direito deles”. (A Alba Service, que não respondeu nossos pedidos de comentário, foi processada em 2017 sob o Fair Labor Standards Act por não pagar hora extra e fazer os trabalhadores assinarem declarações de recebimento do salário sem receber; o caso ainda está em andamento. Um dos advogados de Gökçe disse: “O chef Nusret não estava envolvido na contratação da Alba Services, e nem ele nem a companhia estão conscientes de qualquer problema trabalhista que a Alba Services pode estar tendo com seus funcionários”.)

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Scabby, the giant inflatable rat; the union protestors' sign
Scabby fez uma aparição na frente do segundo restaurante do Salt Bae, ainda em obras em Nova York.

Quer o Salt Bae tenha contratado a empresa ou não, essa é só a última coisa numa longa lista de acusações de que ele e seu negócio tratam mal os trabalhadores – uma lista tão grande que os próprios advogados dele descobriram a existência de algumas queixas através da VICE.

Gökçe e seu negócio, Nusr-Et Steakhouse, estão encarando dois processos por roubos de salário, abertos ano passado em Nova York e Miami. (O processo aberto em Nova York está se aproximando de um acordo, segundo os advogados de Salt Bae.) Além disso, em novembro, sua empresa pagou $230 mil para quatro garçons do restaurante do Salt Bae num acordo da National Labor Relations Board (NLRB). Ele tem uma coleção de queixas na NLRB, incluindo três abertas semana passada por supostas práticas trabalhistas injustas. E recentemente, uma mulher que trabalhava no restaurante do chef em Miami processou ele e seu negócio no Condado de Dade de Miami por discriminação sexual.

Sabe alguma coisa que todo mundo deveria saber? Entre em contato com a autora em laura.wagner@vice.com ou laura.wags@protonmail.com.

Compere entrou com uma reclamação na EEOC em janeiro de 2019, como noticiado pelo Miami New Times. Aí, em dezembro, ela abriu seu processo por discriminação sexual. Compere, que trabalhou como garçonete por 10 anos em vários restaurantes antes de se inscrever para trabalhar na Nusr-Et Steakhouse em Miami, disse que foi entrevistada pelo próprio Salt Bae, segundo o processo. Apesar de ter se inscrito para trabalhar como garçonete, ele disse, segundo o documento, que “a via como food runner”, alguém que traz os pratos para a mesa mas não atende os clientes, e ela aceitou a posição na esperança de ser promovida para garçonete. Segundo a queixa:

Por meses, os gerentes do Nusr-et pediram que Salt Bae promovesse Compere para garçonete, porque ela era claramente mais qualificada comparada com muitos dos outros garçons. Salt Bae disse que “a via só como food runner” e negou os pedidos. Aproximadamente cinco meses depois que o restaurante foi inaugurado, Compere finalmente foi promovida para garçonete em tempo integral. Como garçonete, Compere podia ganhar muito mais do que como food runner. Mas Compere continuou sendo tratada diferente dos garçons homens.

Quando Salt Bae vinha para Miami e trabalhava no restaurante, Compere era frequentemente obrigada a desistir de seu turno de jantar e trabalhar no turno do almoço para que não fosse vista por Salt Bae. Ou, Compere era obrigada a desistir de seus turnos como garçonete totalmente e era obrigada a trabalhar servindo coquetéis para esconder o fato que era garçonete. Quando Compere trabalhava nos turnos de almoço como garçonete ou trabalhava servindo coquetéis, ela ganhava consideravelmente menos.

A decisão de não contratar Compere como garçonete, ou obrigá-la a trabalhar em turnos e posições inferiores, era baseada no sexo de Compere.

“É importante que as pessoas façam essas queixas de discriminação de gênero, porque não há razão para que homens e mulheres não possam fazer esses trabalhos igualmente”, disse o advogado de Compere, Lowell Kuvin. “A ideia é que você não pode fazer o sexo ser um tema ou identidade de marketing do seu negócio. Mulheres são o ganha-pão da família tanto quantos os homens. É uma questão de igualdade.”

A firma de Kuvin também está representando Compere, além de mais de 20 outras pessoas, numa ação coletiva contra o restaurante de Salt Bae em Miami, aberto em janeiro de 2019. O processo diz que o negócio de Salt Bae não pagava salário-mínimo e hora extra sob o FLSA. O caso, Kuvin disse a VICE, está m andamento.

Outro processo no FLSA foi aberto contra Salt Bae e seu negócio em janeiro de 2019 em Nova York; o processo também diz que o famoso restaurante do chef não pagava salário-mínimo e hora extra. O querelante Mustafa Fteja, que trabalhou como garçom no restaurante de Salt Bae de janeiro a dezembro de 2018, disse que Gökçe estava regularmente no restaurante, “interagindo com clientes e funcionários, instruindo empregados, tinha autoridade para contratar e demitir funcionários, mudar seu pagamento e dia de pagamento, e mantinha registros das horas trabalhadas e compensações dos funcionários”. A queixa diz:

Os réus pagavam Fteja abaixo do salário-mínimo porque ele é um funcionário que recebe gorjetas e eles estava m se beneficiando do crédito de gorjetas: a diferença entre salário-mínimo obrigatório e a taxa dos empregados que recebem gorjeta deve ser paga, desde que certas condições sejam atendidas. Isso é frequentemente chamado de “salário-mínimo de gorjeta”. Os réus nunca informaram Fteja ou os outros garçons de que eles estavam tirando um crédito de gorjeta: eles não informaram isso verbalmente nem em qualquer declaração de salário. Fteja juntava suas gorjetas com as dos outros garçons, barmen, baristas, hosts, runners, bus boys, sommeliers, sushi men e gerentes (“Tip Pool”).

Fteja também disse que sofreu retaliação quando perguntou sobre suas gorjetas: “Os réus demitiram Fteja por reclamar sobre eles ficando com algumas de suas gorjetas […] Como ele reclamou sobre a retenção de gorjetas, os réus deram ainda menos gorjetas para Fteja que para os garçons que não reclamaram sobre a retenção de gorjetas”.

Chrusty Reuter da Meister Seeling and Fein, a consultoria americana da companhia Nusret, disse a VICE: “A companhia nega qualquer irregularidade com respeito a queixas de empregados e queixas trabalhistas”, e que a ação coletiva em Nova York está prestes a chegar num acordo final. (Os advogados dos querelantes não responderam nossos pedidos de comentário.)

A negativa geral é estranha considerando que, em novembro passado, Gökçe, encarando acusações do NLRB de que ele demitiu quatro funcionários de seu restaurante em Nova York por perguntar sobre as gorjetas, concordou em pagar um acordo de $230 mil. O New York Daily News informou que os trabalhadores “disseram que a gerência nunca dizia a eles quanto eles tinham coletado em gorjetas. Em vez disso, eles recebiam cheques semanais de $2 mil a $2.500, que diziam que incluíam gratuidades”. O documento que mostrava a divisão de gorjetas, segundo o relatório, era considerado confidencial pela gerência.

Numa entrevista com o Daily News, os quatro garçons – Batuhan Yunkus, Onur Usluca, Yunus Delimehmet e Suleyman Kucur – descarregaram em Görkçe.

“Ele está tentando esconder sua atitude autoritária e ditatorial”, Yunkus disse ao jornal. “Ele não liga para as leis locais.”

Kucur falou sobre a obsessão de Gökçe com Scarface: “Ele é muito influenciado pelo filme. Ele acha que é o Tony Montana. Ele me disse ‘Qual o nome do restaurante? Nusr-Et. Qual o meu nome? Nusret. O que eu falo é o que vale aqui’”.

Reuter, a advogada de Gökçe, disse inicialmente: “As questões com o NLRB já foram resolvidas”, e não estava sabendo das três queixas no NLRB feitas na semana anterior contra Nusr-Et até que a VICE perguntou sobre elas. Ela disse: “Não estávamos conscientes dessas queixas, nem meu cliente. Como o [site do NLRB] mostra, as queixas acabaram de ser feitas e os avisos serão enviados. Não podemos comentar até recebermos as notificações e entender as bases das alegações, e a identidade dos acusadores”.

O advogado que fez as queixas no NLRB, William Michael Brown, disse a VICE que três queixas foram feitas em nome de três partes diferentes.

No ritmo atual, com o novo restaurante abrindo qualquer dia desses (originalmente a previsão de inauguração era no meio do ano passado), Salt Bae – assim como suas políticas trabalhistas – está de volta aos holofotes.

“Pra mim isso indica ganância corporativa”, disse Sourov, representante do Local 79, para a VICE na frente do restaurante na quinta passada. Ele disse que os manifestantes do sindicato estavam ali porque acharam que o restaurante seria inaugurado naquele dia, mas ele não parecia terminado. Lá dentro, caixas estavam empilhadas até o teto, e escadas e outras ferramentas eram visíveis da rua.

“Equipes de construção não sindicalizadas nem sempre são tão eficientes”, disse Sourov.

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