O seu nome é John como poderia ser João, só não o é porque ele não é português. Tem as calças bem apertadinhas pelo chumbo da moeda britânica e arredores. O modelo de negócios deste “ghost liker” é muito simples: por cada “like” ou coraçãozito nas páginas das celebridades, ou das pseudo-celeridades, este gajo cobra dez cêntimos. Um comentário ou um diálogo de duas linhas faz subir 100 por cento o NASDAQ das celebridades, por isso este entrepreneur considera legítimo aumentar os honorários para 40 cêntimos.
É uma profissão estranha, mas ganha-se dinheiro a sério com a vaidade alheia. Neste mundo parece só haver dois tipos de pessoa: os famosos e os que querem ser famosos. E a internet é a água baptismal para todos eles. Até a Katy Perry, uma gaja com mais de 24 milhões de seguidores no Twitter, se fartou e pediu, no outro dia, que alguém desligasse a internet. Que puta de lata. Que irónico. E que boas mamas que ela tem.
A conversa que tive com este gostador fantasma profissional surgiu de uma discussão sobre o valor do mundo digital e do compromisso diário das celebridades para com este. É um dos problemas do show biz: o conteúdo não é importante, o que importa é aquilo que faz acontecer o conteúdo.
VICE: Olá John. Então, explica aí a tua cena.
John: Vou começar por dizer que há muita malta a viver à grande neste mercado. Foda-se, nem imaginas! O pessoal anda todo tapado, das orelhas aos fungos dos pés. A malta acha que pode facilitar e confiar nos amigos, mas não pode. Amigos do caralho, é o que é. A Lady Gaga e a irmã da Beyoncé — que agora é DJ, de tanto levar com o prato na trompeta —, estão fodidas se forem confiar nos amigos virtuais.
Ai sim, então porquê?
O amigo virtual só ampara o cenário. Não perde horas agarrado às redes sociais à espera do momento em que todos estão a dormir, ou nos copos com os amigos, para encher os “Carabooks”, os “Piupius” ou os “Jágramas” — não uso os nomes Facebook, Twitter ou Instagram, porque tenho medo que me processem.
Acabaste de os dizer a todos… Mas não te preocupes, acho que ninguém te vai processar. Já agora, ganha-se bem com essa profissão?
Toda a fama tem um preço e o meu até é bem compostinho. Repara que não há cá mínimos garantidos, é tudo taxa fixa. Sempre a cair. É fácil de fazer as contas no final do dia. O mundo digital é do melhor!
É mesmo. Qual é o somatório no final do dia, então?
Hmm, tem dias… Normalmente, consigo sacar 40 mocas na boa. Depende, é um mercado muito volátil. Felizmente, há muitos totós que acreditam em Hollywood como eu acredito na tainha da rainha.
[Aqui tenho de fazer uma pausa para pedir-vos desculpa pela tradução. Fiquei na dúvida se o John disse “mule” ou “mullet”. Ónus por ónus, achei que “tainha” era mais credível.]
Que tipo de pessoas requisita os teus serviços?
Há de tudo. Modelos da Noruega, Dinamarca, Eslováquia… Não estás a ver, meu…
Não estou a ver o quê, meu?
É gajos e gajas. Dizem coisas como: “Olá, eu sou o Ligó, modelo/actor/fotógrafo/cineasta e fiz estas fotos só para ti! Se gostares, faz ‘follow’!” e eu aperto o gatilho [risos], mas com uma força que nem imaginas. Foram muitos anos de Playstation — dois, no mínimo. Aliás, podia estar nos Jogos Olímpicos, mas não vou por causa da tendinite.
Não estou a perceber…
Há quem não me leve a sério, mas eu trabalho. Às vezes há um roçar de ombros com as estrelas — não sei se me faço entender —, nem todos têm as contas em dia. É a melhor parte da segunda metade do ano financeiro. Até já cheira!
[Por momentos, hesitei e pensei nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, o John fez-me viajar até ao ninho das Miss Universo. Mas, rapidamente, recompus a eloquência e continuei.]
E olha, já trabalhaste com celebridades portuguesas?
Claro, meu! Deixa-me pensar… O Villa-Lobos é português, certo?
Villa-Lobos ou André Villas-Boas?
Sim, esse, o André Villa-Lobos. Faço “like” nas cenas dele todos os dias! Mais no “Pintaeste” do que no “Carabook”. No Chelsea todos gostavam dele, mas era péssimo para o mercado. O gajo é bem-falante e até parece rafado de irlandês. É bonito o gajo! Mas, felizmente, o russão acabou-lhe com a carreira.
[O John deve ter um défice de atenção altíssimo, como podem reparar, insistiu em continuar a chamar-lhe Villa-Lobos.]
John, na nossa conversa off the record, dizias que o teu sonho era ser figurante ou DJ de trance minimal. É uma situação compatível com a tua posição laboral actual?
Não gosto que estejas a fazer comentários à minha pessoa. Falava na possibilidade de ser figurante de rabo, ou de pernas, sei lá. Sabes que não posso usar as minhas mãos nem a minha cara por motivos óbvios. Sou o gajo que disse a frase: “Se não podes ser famoso por 15 minutos, faz 15 mil amigos no ‘Carabook’.” Nem a minha voz posso usar em anúncios publicitários.
[Concordei humildemente e, sorrateiramente, dei de frosques. A carreira de DJ de trance minimal, naquele momento, fez todo o sentido.]