O Kenneth Anger conhece todos os segredos sórdidos da Babilónia

Alguns dias antes da minha entrevista com o Kenneth Anger, comecei a sentir-me meio estranho. Imaginei uma cena horrível: eu sentado em frente ao cineasta, 80 e tal anos de história, num quarto escuro e antigo, e ele a ficar cada vez mais frustrado com as minhas perguntas idiotas. E, apesar de não acreditar nessas coisas, comecei a preocupar-me com a possibilidade de o irritar ao ponto de ele me rogar uma maldição (não seria a primeira vez, já lá chego). Ainda não percebi se fui amaldiçoado ou não, mas, independentemente disso, consegui mesmo fazer aquilo a que me propus.

Queria conversar com o Kenneth porque ele transfigurou a estética hollywoodiana com algumas das curtas-metragens mais emblemáticos e impressionantes alguma vez feitas. Boa parte do seu trabalho — especialmente Rabbit’s Moon, Scorpio Rising, Kustom Kar Kommandos, Lucifer Rising e Mouse Heaven — situa-se num contínuo transformador das regras da sociedade, das crenças e da iconografia norte-americana. O Kenneth também é o autor de Hollywood Babylon e Hollywood Babylon II, livros que detalham escândalos silenciados envolvendo famosos desde a época do cinema mudo até finais da década de 1960. Alguns críticos duvidam das afirmações feitas pelo autor, mas quem são eles? Não estavam lá. E, claro, antes de existirem pragas sociais como a People, o TMZ e a Us Weekly era muito mais fácil para as celebridades passarem incólumes com suas atividades mais sórdidas.

Durante a minha viagem para LA, o seu nome apareceu-me várias vezes de maneira aleatória. Quando visitei o Museum of Death, na Hollywood Boulevard, por exemplo, comentei com o casal que cuida do local sobre a entrevista que ia fazer e eles contaram-me que tinham sido amigos do Ken durante anos, até ao dia em que ele os amaldiçoou três vezes.