O Movimento Health Goth se Vendeu?

Uma health goth. Foto cortesia de Adelaide Valerie.

Health Goth é uma página do Facebook criada no começo do ano passado. Todo dia os moderadores postam algumas imagens – net arte, roupas esportivas em preto e branco (como acima), próteses médicas cobertas de marcas – e a comunidade vê, curte ou deixa um comentário. A tendência passou mais de um ano fervendo discretamente, ocupando um canto do Facebook onde as pessoas postam fotos de caras musculosos usando máscaras de gás.

Mas nas últimas semanas, vários meios de comunicação mainstream dos EUA parecem ter descoberto a cena, descrevendo a coisa toda como uma “tendência de estilo de vida que envolve malhar em roupas dark”. Nada a ver.

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E isso emputeceu alguns dos seguidores da página HG: ninguém estava entendendo qual era a deles. Aí a Marie Claire publicou um artigo sobre o movimento ao lado de matérias com as regras de beleza de Matthew McConaughey e como jejuar pode prevenir Alzheimer, e mais seguidores expressaram seu descontentamento. Ninguém estava manjando qual era a deles.

“Não me entenda mal – adoro o movimento Health Goth, mas muita coisa vem sendo escrita sobre isso e isso vem chamando muito atenção”, disse um health goth. “Acho que isso pode parar nas mãos erradas e gerar uma publicidade errada.”

Aí, no final de semana passado, essa imagem apareceu no Facebook do Health Goth:

“Seus garotos tiveram uma reunião na Adidas hoje, mamãe, consegui”

Mas o que isso significa? Que os caras por trás da página conheceram um pessoal da Adidas, óbvio. Mas o que isso significa? A Marie Claire realmente achou a próxima grande tendência? Ou o interesse corporativo vai acabar com um grupo cujos interesses vão de armamento tático a equipamento de proteção de motocross e BDSM?

Recebi um e-mail de uma empresa de relações públicas informando que “o número de health goths dobrou no último ano”, e que “a tendência é atribuída a celebridades ‘góticas’ como Kylie Jenner, Kat Von Dee e Jessie J”. Então parece que a coisa está se inclinando mais para a última possibilidade.

Chris Cantino, Mike Grabarek e Jeremy Scott (não o estilista) começaram a página e fazem a curadoria das imagens postadas desde maio de 2013. Chris é videoartista e Mike e Jeremy são profissionais de medicina que têm uma banda chamada Magic Fades. Entrevistei os três (mas colei as respostas deles numa só voz do Health Goth) para saber o que eles acham dessa atenção do mainstream.

VICE: Oi, gente. Vocês podem definir o que é Health Goth para quem não faz a menor ideia do que estamos falando?
Health Goth: Basicamente, Health Goth é uma coleção de estilos e mentalidades que já existem – como o street goth, várias coisas da internet e vídeos fetichistas de roupas – que levamos para o Facebook. Isso também e influenciado por propagandas de marcas esportivas e os ambientes renderizados que elas criam.

Vocês criticaram os artigos que saíram sobre o Health Goth. Vocês acham que foram representados equivocadamente pela mídia?
O principal é que eles estão tentando definir uma coisa que é basicamente amorfa. Também colocaram muita ênfase em frequentar academia, que é uma coisa que a gente nunca fez.

Foto cortesia de Chris Cantino.

Acho que eles enfatizam o lado saudável disso porque veem essa atenção à melhoria do físico como uma oposição aos princípios góticos “tradicionais” – tipo usar rendas e tentar ficar o mais pálido possível.
É, e essa contradição é parcialmente de onde o interesse vem, porque isso está constantemente desenterrando novas justaposições. Mas há outras coisas envolvidas em tentar ser saudável além de manter a forma: meditação, comer bem, ocupar ambientes limpos. Essa coisa de malhação veio de um cara chamado Jonny Deathface. Ele escreveu os “Dez Mandamentos do Health Goth“, comprou o domínio na internet e começou a vender umas camisetas bregas. Aceitamos que não temos a propriedade do Health Goth, mas não queremos que as pessoas pensem que estamos apenas querendo vender camisetas toscas.

Há um elemento subversivo no interesse de vocês por moda esportiva, ou vocês realmente gostam do que essas marcas estão fazendo?
Quando começamos, víamos propagandas ou roupas de que a gente gostava, e víamos alguma coisa sombria ou sexual que não deveria estar ali. Então o lado subversivo estaria em retratar essas propagandas sob uma nova luz, porque queríamos que esses aspectos fossem intencionais. E as coisas foram surgindo daí.

Foto cortesia de Jan-Peter Gieseking.

O que está acontecendo com a Adidas?
Tivemos uma reunião com a Adidas na sede em Portland. Muitas vezes essas empresas não conseguem realmente se conectar com sua propaganda – elas não percebem o que estão fazendo. Então acho que é aí que a gente entra.

Vocês receberam reações negativas por causa desse envolvimento com a marca?
A reação das pessoas vai ser o que tiver que ser, mas não estamos tentando fazer alguma coisa idiota para descolar uma grana fácil. Tem gente louca para fazer isso por aí, mas não a gente. Estamos indo bem nas nossas vidas normais. Se pudermos fazer algo que seja legal, ótimo – se vender é ótimo.

Qual é o papel da net arte na estética Health Goth?
Entramos nesse mundo através vários artistas da internet que estão fazendo uma coisa própria. Gente como Ramona Vektroid, Gergo Kovacs e Jono Mi Lo, que já estava lá no começo do seapunk. Somos ligados ao aceleracionismo como movimento no geral, e tudo isso tira coisas do bombardeio constante da publicidade.

Alguns anos atrás houve toda aquela discussão quando a Rihanna e a Azealia Banks entraram para a coisa do seapunk. Vocês acham que essa coisa de vocês estarem conversando com essas marcas tem a ver com o fato de que nada consegue ficar mais de cinco minutos fora do mainstream?
A perspectiva que as pessoas têm disso é muito estranha. Todo mundo dessa pequena cena surtou quando a Rihanna apareceu usando imagens seapunk no Saturday Night Live, mas pense quanta gente viu a apresentação sem ter a menor ideia de onde aquilo tinha vindo. Você não pode se preocupar com a cooptação da net arte porque essa é a natureza da cultura da internet. Isso tem o poder de fazer as coisas se referirem a elas exponencialmente. O que você vai fazer?

Foto cortesia de Adam Martinakis.

Agora que vocês estão prestes a ser cooptados, o que vai acontecer?
O lance com a estética aceleracionista é que isso pode ascender e ser reduzido a nada em questão de semanas. Mas, inevitavelmente, algumas dessas estéticas vão chamar mais atenção que outras. É aqui que estamos. Podemos continuar achando essas imagens, mas isso é realmente a respeito de como as pessoas se envolvem e interpretam isso. Se isso ficar marcado apenas como uma coisa de malhação, a cena vai morrer super-rápido. Ninguém vai dar a mínima pra gente indo malhar de preto no feed do Facebook.

Finalmente, o que está tocando na playlist do Health Goth no momento?
Música eletrônica distópica tem um apelo óbvio – selos como Pan e Liminal Sounds. Também curtimos sons industriais, o que é uma ligação com o gótico original. Coisas como L-Vis 1990, que é muito avançado em termos de produção, mas faz mixes com Front Line Assembly. Muitas das produções dele são tiradas dos sons que esses caras originais estavam usando, mas a coisa é limpa.

Mas temos evitado associar um som particular ao Health Goth, porque quando você liga áudio e visual, você limita e homogeniza. Veja o Witch House, que chegou a um ponto onde podia existir um aplicativo disso que juntasse batidas de hip hop com baixo profundo e jogasse um triângulo por cima. Não queremos isso.

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Tradução: Marina Schnoor