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​O Que o Acidente Com a SpaceshipTwo Significa Para a Virgin Galactic?

A espaçonave da Virgin Galactic sofreu um acidente no fim da semana passada e ao menos uma pessoa morreu. Isso é horrível. Mas e agora? A empresa tem pouco mais de 1000 clientes esperando por uma viagem ao espaço, e enquanto isso com certeza assustará alguns deles, o sonho do turismo espacial comercial seguirá adiante. Mas certamente isto é um contratempo.

Comecemos do começo. A SpaceShipTwo era a única espaçonave da Virgin Galactic, eles não tem outra, e mesmo que tivessem, uma explosão fatal não necessariamente inspira confiança em uma tecnologia que estava supostamente a poucos meses de levar seus primeiros civis em curtas viagens no espaço suborbital.

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“SpaceShipTwo era uma única espaçonave, não uma série delas. Eles nunca fabricaram uma frota”, disse-me Marco Caceres, analista da industrial espacial da Teal Group Corporation.

“É hora da Virgin voltar a trabalhar em cima daquela parte de engenharia que não é tão bacana ou interessante para as pessoas comuns”, disse. “[O CEO da Virgin] Richard Branson é um homem de negócios, então ele gosta de falar sobre clientes, mas a esta altura, eles tem que voltar para a mesa de projetos.”

BRANSON DEVERIA ESQUECER OS CLIENTES E VOLTAR-SE PARA A ENGENHARIA

No mês passado, o CEO da Virgin Galactic George Whitesides declarou durante um evento em Nova York que esperava levar Branson ao espaço (não o espaço orbital, mas aquele espaço com microgravidade que dá pra sair flutuando pela cabine, mesmo assim) este ano.

“Estamos na fase final de testes neste outono, esperamos ter uma surpresa de Natal para o Richard”, declarou, durante o evento.

É claro que isso não irá acontecer agora. Além do que, a Virgin Galactic promete levar as pessoas ao espaço logo há mais de 10 anos. Alguns clientes inclusive haviam começado a pedir seu dinheiro de volta antes mesmo do acidente de sexta-feira.

“Com certeza isto terá um efeito de refreamento no turismo espacial a curto prazo, que não direi que é puro hype, mas era otimista demais da parte de Branson acreditar que levaria para o espaço todos estes turistas no próximo ano”, afirmou Caceres. “Isto demorará entre um e quatro anos. Ainda não chegamos lá, mas acho que estamos perto.”

Richard Branson. Crédito: Jason Koebler

Um destes otimistas é Craig Horsley, um nova-iorquino que até recentemente morava em Manhattan – ele se livrou de seu apartamento lá e se mudou para o Queens para poder a pagar a passagem ao custo de 250.000 dólares. Durante o evento da Virgin Galactic, no mês passado, Horsley falou comigo longamente sobre suas motivações para ir ao espaço.

“Eu sei que estou pagando cerca de 1.500 dólares por minuto para ir ao espaço. Fiz um financiamento dando meu apartamento como contrapartida”, declarou. “Pensei em esperar até que Elon Musk ou Jeff Bezos fossem até lá, mas Branson é o primeiro.”

O questionei se estava nervosa quanto aos riscos. “Eu sou um idiota. Não fico nervoso com nada, só faço as coisas. Fico nervoso com coisas que exijam meu esforço, mas nesse caso só vou estar flutuando lá”, declarou. “Sinceramente, estava mais nervoso com o pagamento do que viajar ao espaço.”

Quando contatei Horsley ontem, ele disse ainda não estar pronto para falar sobre os recentes desdobramentos. Mas algumas pessoas que encontrei no Twitter que participariam da viagem expressaram seus pêsames para o piloto falecido e disseram que, infelizmente, desastres em voos de teste são esperados.

Per áspera ad astra – Rumo às estrelas embora com dificuldades. Meus pêsames pela família @virgingalactic Estamos com vocês. #MantenhaOTrajeto #espaçoédifícil

Um grande sacrifício por parte dos pilotos que arriscam suas vidas para levar adiante o sonho do homem comum de ir ao espaço

Nenhuma fronteira foi vencida sem correr discos. Nenhum meio de transporte é totalmente seguro. Fico ao lado dos bravos pioneiros do espaço, por toda a humanidade.

Caceres concorda com este sentimento, e é um que Whitesides ecoou em uma coletiva de imprensa na sexta.

“O futuro descansa de diversas maneiras em dias duríssimos como este”, disse. “Mas acreditamos que devemos isso aos que estavam pilotando aqueles veículos, bem como os demais que tem trabalhado tão duro nestes, compreender o ocorrido e seguir adiante, eis o que faremos.”

Craig Horsley. Crédito: Jason Koebler

No final das contas, o desastre de sexta sempre será lembrado como uma tragédia – mas, em última análise, pode se tratar de só um obstáculo no caminho para uma crescente indústria de turismo espacial. Caceres mencionou que muitos morreram durante os testes de foguetes e motores e a jato nos anos 50 e 60, e independente da Virgin Galactic, SpaceX ou qualquer outra empresa, os turistas eventualmente farão viagens regulares ao espaço.

Talvez seja hora de se empolgar um menos pouco com isso, porém. Apesar da SpaceShipTwo ter voado um total de 55 vezes, seu motor de foguete só havia sido utilizado três vezes antes do acidente da semana passada. Richard Branson esperava que as pessoas voassem em seu avião espacial no ano que vem, enquanto isso, sua equipe desenvolvia novas concentrações de combustível para foguetes uns poucos meses antes disso ter início. Kevin Mickey, presidente da Scaled Composites (empresa que operava o voo) disse que a nova mistura de combustíveis havia sido testada diversas vezes e não foi a causa do acidente.

“Eles ainda não haviam chego a uma mistura de combustível com a qual estivesse a vontade, e este ocorrido, junto do acidente com o Foguete Antares prova que é preciso fazer mais do que dois a três voos de teste antes de começar a levar carga pagante consigo”, afirmou Caceres. “Claramente este é o risco deste setor, e se fossem fregueses pagantes ou o próprio Branson, seria um enorme retrocesso.”

“Do jeito que as coisas estão, Branson tem uma lista de clientes que não exatamente está ficando mais nova. Ele não quer começar a sentir uma pressão para acelerar o passo”, adicionou. “Mas, bem, ele tem que esquecê-los e voltar-se para a engenharia.”

Tradução: Thiago “Índio” Silva