O que querem os cientistas que marcharam em São Paulo

Neste domingo, cientistas e estudantes protestaram na Avenida Paulista, em São Paulo, contra os cortes orçamentários que a área tem sofrido no atual governo de Michel Temer. Cerca de mil pessoas compareceram ao local. Chamado de “Marcha pela Ciência”, o evento contou com apoio de profissionais de algumas principais universidades do estado, tais como USP, Unicamp, Unesp e PUC-SP.

O ato partiu do vão do MASP e caminhou por dois quilômetros por cerca de uma hora e meia. A principal demanda da manifestação foi contra os cortes que estão sendo feitos às áreas de pesquisa acadêmica. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a ex-presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, ressaltou que a questão não é de aumento salarial. “Estamos lutando para poder trabalhar, para fazer ciência”, disse. “Estamos lutando pelo Brasil.”

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A situação do financiamento à pesquisa brasileira têm sido tema de preocupação. Desde que o presidente Michel Temer assumiu o poder em 2016, profissionais da área sentiram os primeiros sinais de golpe nas contas com a junção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (o antigo MCTI) ao Ministério das Comunicações. Na época, os grupos de acadêmicos e simpatizantes — bem menos articulados — iniciavam seus primeiros protestos contra a atual gestão.

Desde então, a situação piorou e chamou atenção internacional. Ainda no mês de abril deste ano, a revista Nature — uma das mais importantes publicações científicas do mundo — jogou luz sobre o problema da falta de orçamento, expressando o medo de que os “cortes destruíssem de vez a ciência brasileira”, além do crescente êxodo de cientistas brasileiros para universidades internacionais.

Gráfico publicado na Nature mostra, em vermelho, a verba proposta para ciência. Em azul, o quanto foi gasto de verdade. Crédito: Nature

As queixas ganharam mais peso no último mês. No dia 29 de setembro, um grupo de vinte e três ganhadores do Prêmio Nobel se juntaram aos brasileiros na demanda pelo fim dos cortes e enviaram uma carta ao presidente Michel Temer. No documento eles se posicionam contra o corte de 44% do orçamento ocorrido neste ano de 2017 e do corte de 15% previsto para 2018. Declaram que “em outros países a crise econômica levou, às vezes, a cortes orçamentários de 5% a 10% para a ciência, um corte de mais de 50% é impossível de ser acomodado, e irá comprometer seriamente o futuro do país.”

A pressão e as opiniões estrangeiras surtiram efeito nos cientistas do Brasil. Em junho do ano passado, diante dos primeiros cortes, vale lembrar, Motherboard contou apenas 30 manifestantes na mesma Avenida Paulista.

Pressionado por todos os lados, o presidente Michel Temer ainda não se pronunciou sobre o caso.

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