Esta matéria foi originalmente publicada na VICE NEWS.
No domingo, um referendo não oficial na Venezuela acabou em violência quando homens armados dispararam contra uma multidão de eleitores, matando uma pessoa e ferindo outras três. O referendo foi organizado por ativistas que se opõem os planos de Nicolas Maduro de reescrever a constituição.
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A vítima, uma enfermeira de 61 anos, foi morta por homens armados em motos em Caracas — ela aguardava na fila para o voto simbólico quando foi atacada. Um jornalista também foi sequestrado, roubado e espancado até conseguir fugir. A violência se tornou a norma na prolongada crise política na Venezuela, com 100 pessoas mortas desde abril.
Acadêmicos monitorando a votação disseram que mais de sete milhões de venezuelanos participaram do referendo não obrigatório. Os oponentes temem que o plano de Maduro, de criar um poderoso novo corpo legislativo chamado Assembleia Constituinte no final do mês, leve o país, antes próspero, para mais perto da ditadura, aumentando os poderes executivos do presidente e atropelando os poderes do parlamento já existente.
Com a opção de responder sim ou não para três questões, a maioria dos participantes — mais de 98% — rejeitaram a proposta da Assembleia Constituinte, pedindo eleições presidenciais antes do fim do mandato de Maduro em 2019, e disseram que as Forças Armadas do país devem defender a Constituição atual.
“Hoje, a Venezuela se levantou com dignidade para dizer que a liberdade não anda para trás, democracia não é negociável”, disse Julio Borges, chefe do parlamento controlado pela oposição, depois que os resultados foram anunciados no começo da segunda-feira (17). “Não queremos uma Assembleia Constituinte fraudulenta imposta. Não queremos ser Cuba.”
Francisco Panizza, professor de políticas da América Latina da London School fo Economics, disse à VICE que o comparecimento no referendo foi “impressionante”, mas que provavelmente não deve mudar as coisas. Mais de 7 milhões de pessoas votaram, um número representando bem mais de um terço dos 19,5 milhões de eleitores registrados do país, e apenas um pouco menos que os 7,7 milhões de votos para a oposição nas eleições legislativas em 2015.
“Isso é parte de uma série de medidas tomadas pela oposição que não tiveram impacto na estratégia de Maduro até agora”, disse Panizza. “O fato de a maioria estar contra Maduro não significa que ele deve sair, porque ainda tem poder.”
Maduro, um socialista que substituiu seu mentor, Hugo Chavez, depois de sua morte em 2013, categorizou o referendo como insignificante, e jurou continuar com os planos de votar a Assembleia Constituinte em 30 de julho, dizendo que esse é o único jeito de tirar o país da crise política e econômica atual.
Agora o país se prepara para mais distúrbios, como líderes da oposição prometendo protestos de “Zero Hora” para exigir eleições gerais. Manifestações enormes se tornaram uma ocorrência quase diária na Venezuela desde que a crise começou em abril, quando o Supremo, que muitos veem como cheio de juízes pró-governo, dissolveu o parlamento e transferiu o poder legislativo para si.
Apesar de a ação ter sido revertida alguns dias depois, o governo provocou ainda mais fúria quando proibiu o líder da oposição, Henrique Capriles, de participar de qualquer atividade política, abastecendo acusações de que o país está caindo numa ditadura.
Apesar das pesquisas de opinião mostrarem que o apoio a Maduro caiu abaixo de 22% — e 85% se opõem aos planos de reforma constitucional — ele prometeu levar a proposta à diante, e disse que usará força se necessário. Os dois lados se acusam de querer dar um golpe.
Tradução: Marina Schnoor