Depois do intervalo de Agosto, o 5.ª à Avenida volta já hoje ao BANANACAFE para mais uma rodada de Cutty Cocktails. Mudou o mês, mas mantém-se o Verão neste Setembro que ainda convida a combater o calor com uma bebida preparada à boa maneira dos nossos especialistas. O vosso papel nesta festa é simples: escolham o melhor lugar da esplanada e aproveitem as músicas que os nossos convidados seleccionaram para vocês. A animação rola a partir das sete da tarde e continua até às duas da manhã.
Desta vez não podíamos estar mais entusiasmados com a dupla de convidados que convocámos para trazer música até ao 5.ª à Avenida: são eles Rui Miguel Abreu e Ilo Oliveira. Apresentar o primeiro não é tarefa fácil, já que se trata de um dos mais imparáveis jornalistas e divulgadores de música que temos por perto. Encontrar Rui Miguel Abreu junto à mesa de mistura é normalmente sinónimo de algumas horas bem passadas a ouvir hip-hop, funk de primeira apanha e o ocasional mash-up preparado com trabalho de casa. Podemos lê-lo e escutá-lo um pouco por toda a parte, mas a casa do Rui Miguel Abreu fica no sempre recheadíssimo 33-45.org. A casa do Ilo Oliveira não sabemos onde fica, mas já o vimos a representar CIMENTO. por várias salas do país e sabemos que tudo é possível quando este rapaz aparece com alguns discos na mala. Não faltará certamente uma malha de Wu-Tang Clan para dar um abanão na Avenida. Venham daí então, porque estes dois patrões sabem o que fazem. Já de seguida ei-los a responder a algumas perguntas.
Fotografia por Ricardo Miguel Vieira
VICE: Como grande digger que és, que limites é que impões a ti próprio quando vais para uma loja procurar discos?Rui Miguel Abreu: Bem, limites só mesmo os da carteira. Gosto de todos os formatos; de todas as eras e de todos os géneros: rock de diversas confissões, reggae da Jamaica, funk da América, de África e de qualquer outro sítio onde alguém tenha descoberto o segredo para extrair groove de um baixo, kraut da Alemanha, easy listening de Itália.
Consideras as referências musicais passadas um bom refúgio para as novas sonoridades?
Não há presente ou futuro sem passado. E quase tudo o que soa a novo já foi, de certa maneira, inventado algures no passado. Pode é ter passado despercebido…
Estás a pensar em que tipo de música para levar ao 5ª à Avenida?
Ainda está um calorizinho, por isso pensei em reggae clássico, um pouco de disco sound, talvez soul, easy listening para os momentos de maior preguiça, talvez algum jazz de lounge de hotel. Logo se vê.
VICE: Olá, Ilo. O teu nome deixa-nos curioso. Conheces outro Ilo além de ti? É um nome com algum significado religioso?
Ilo Oliveira: Não conheço mais nenhum e acho que ninguém que eu conheça alguma vez se tenha cruzado com outro. Só mesmo os meus pais, que me deram este nome porque tinham um amigo brasileiro assim chamado e curtiram largo. Conto pelos dedos das mãos as pessoas que entendem bem o meu nome, sendo normal ficarem curiosas. Chamam-me de tudo, desde Will, Ivo, Ildo… Farto-me de receber, também, convites para “gostar” da página do Instituto de Línguas de Oeiras (I.L.O.), fotos com o poster do filme Ilo Ilo, que está agora em exibição numa data de cinemas, e há um edit para os New Musik de um gajo com este nome que aparentemente é popular no Discogs — recebi uns quantos emails a perguntar se era eu. No fundo amava que tivesse um sentido religioso ou xamanista, mas não. Foi só um belo pretexto para alguns putos gozarem comigo na escola.
Por que décadas passarão os discos que trazes até à Avenida?
Dificilmente encontro, na minha colecção de discos, música anterior à década de 1960. Vou tentar passar por todas. Anseio por rodar malhas dos T-Connection, do Johnny Winter, Talk Talk, A Tribe Called Quest, mas também a “Anaconda” da Nicki Minaj, por exemplo. Vou, sobretudo, libertar-me um pouco daquilo que normalmente escolho para CIMENTO. (hip-hop) e levo discos que normalmente ficam na estante.
Tens memória de qual terá sido o final de noite perfeito com CIMENTO?
Isto é a coisa mais foleira que podia responder, mas não posso revelar publicamente os contornos da melhor. Foi numa festa num teatro muito manhoso e envolveu strippers. O Mário (1/3 de CIMENTO.) não estava presente, infelizmente, e creio que nem ele sabe em detalhe o que se passou. Se o Rodrigo Nogueira (1/3 de CIMENTO.) beber uns cocktails a mais talvez vos dê detalhes. Ainda assim, recordo o primeiro aniversário da VICE Portugal no Plano B, no Porto. Tocámos horas a fio na entrada e no final da noite convidaram-nos para descer e tocar na pista. Foi memorável: tudo a dançar, aos saltos e berros com alguns bangers, sobretudo quando soltámos a “Simon Says” do Pharoahe Monch. Talvez acrescente a primeira vez que tocámos no Lux, em que apagaram as luzes do bar, cheíssimo, e fechámos o nosso set com Simon & Garfunkel. Havia muita gente abraçada e a dançar de olhos fechados.
Qual é o teu sample favorito de todo o legado Wu-Tang Clan? Acreditas que perseguir a origem desses samples é uma boa maneira de descobrir nova velha música?
Sem dúvida a linha de piano da “Shame on a Nigga”. Ia dizer que era do Duke Ellington mas é do Thelonious Monk a tocar Duke (“Black and Tan Fantasy”). Nem é dos mais evidentes mas lembro-me de ouvir isto, ainda a minha ligação de internet era de 56Kbps, e adorar aquela pausa marcada pelo piano, que dá um tom sinistro e cinematográfico à música e isso tem muito que ver com o universo dos Wu-tang. O RZA é um mestre. Naquela altura consultava os booklets dos discos que ia podendo comprar e realmente aquilo parecia-me infinito. É claro que a internet nos deixou mais perto de tudo isto mas os samples são uma boa maneira, sobretudo, de partilhar.