O skate nunca será o mesmo sem Jake Phelps

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Nunca vai existir ninguém como Jake Phelps (1962-2019). Ele amava o skate mais que qualquer coisa. Ele dedicou sua vida ao esporte. Mesmo às vezes atravessando a rua pra evitá-lo, lembro de muita coisa que ele me disse. Muitas ligações dele, de um número que era 415-666-alguma coisa, me davam medo de atender. Mas eu sempre saía das ligações citando partes das nossas conversas: “o quê, você ainda está dormindo? Acho bom que você tenha ficado acordado até tarde com o Jason Dill e os geradores”. (O nome da minha banda, se eu tivesse uma.)

Ter trabalhado com ele e na Thrasher por alguns anos provavelmente é a parte do meu currículo que mais me orgulha, algo que nunca deixo de falar quando me perguntam sobre minha carreira. Thrasher, o logo, o nome é conhecido no mundo inteiro. É uma publicação autêntica e confiável. Ela nunca se vendeu quando poderia, e mudou minha vida. E muito disso tinha a ver com o Jake. Ele começou na sala de distribuição. Diz a lenda que Phelps foi pra sala do editor-fundador Kevin Thatcher depois de rasgar todas as páginas da revista que ele não tinha gostado e disse “toma, essa é a revista”. E o Kevin disse “se você acha que pode fazer melhor, pode tentar”.

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De certa maneira, o Jake não era realmente o editor quando trabalhei lá. Ele era mais tipo um “editor no geral”, como dizia Glenn O’Brien. Se precisava filmar, eu ligava pro Luke Ogden. Se eu tinha escrito algo errado, eu ligava para o Ryan Henry. Michael Burnett preenchia boa parte da revista com suas fotos e textos. O Jake nem tinha um computador na mesa dele. Ele não tinha um e-mail. Ele nunca fez uma caixa de mensagem de voz. Ele te ligava e era melhor atender. Ele recebia as pessoas na sala dele como se fosse um svengali ou vidente do skate, dizendo o que ele gostava e o que não gostava. Muitas vezes as declarações dele pareciam duras demais ou erradas, só com o tempo você lembrava e pensava “ele tinha razão”. As pessoas tinham teorias da conspiração sobre a Thrasher e o Jake, e trocavam histórias e sussurros. As pessoas diziam que Jake tinha tirado a assinatura delas, ou falado mal delas numa legenda. Quem é banido? O Jake escolhe o Skatista do Ano ou as pessoas realmente votam?

O skate poderia ter virado qualquer coisa. Já foi uma modinha da molecada. Poderia ter virado um balé, um esporte metido a besta, freestyle, poderia ter continuado sendo o hobby paralelo dos surfistas. Gente como Tony Alva, Mark Gonzales, Eric Dressen e Lance Mountain levam crédito como aqueles que influenciaram como é andar de skate. E foram pessoas como Craig Stecyk, Glen Friedman, Spike Jonze, Stacey Peralta e Grant Brittian que nos mostraram como era cobrir, fotografar e falar sobre skate. Mas de todos os jornalistas, fotógrafos e editores, Jake Phelps tinha uma das vozes mais distintas – e com certeza uma das mais altas.

Quando trabalhei na série Epicly Later’d, eu passava por uma lista mental: “Será que o Jake vai achar isso legal? O que o Jake acha do skate nas Olimpíadas? Só sigo a deixa?” Concordando com ele ou não, o Jake é uma daquelas vozes pelas quais medimos o skate. Ele era o cara passando o folclore e as regras tácitas. Agora que ele se foi, temos permissão para mudar tudo? Quem vai manter as coisas na linha?

Admito que fazer uma homenagem para Jake Phelps é complicado. Ele era uma pessoa profundamente difícil. Alguém que você respeitava mas evitava quando podia. Alguém que podia fazer e dizer coisas escrotas, um cuzão. Ouvi histórias e ele me chocou muitas vezes. Mas às vezes ele me chocava se importando, não só com o skate mas comigo, e com muitos e muitos outros skatistas como eu.

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