Filme de assalto é um gênero muito trilhado – para homens. Quase sempre são uns caras que se juntam para roubar alguma coisa valiosa, e talvez por isso eu nunca tenha entendido a graça de filmes de assalto. As mulheres, se estavam na equipe, tinham um status secundário na melhor das hipóteses – pense em Ellen Page em A Origem, ou Isla Fisher em Truque de Mestre. Bling Ring: A Gangue de Hollywood, de 2013, finalmente tinha um esquadrão de mulheres, mas era mais um filme indie que um blockbuster mesmo, estilo Em Ritmo de Fuga ou a onipresente franquia Missão: Impossível.
Oito Mulheres e um Segredo, com um orçamento de $70 milhões, é provavelmente o primeiro grande filme de assalto com um elenco central só de mulheres, e precisa ser reconhecido como o marco que é. A nova sequência da franquia Onze Homens e um Segredo – dirigida por Gary Ross, apesar do diretor original Steven Soderbergh ter ficado como produtor – tem Debbie Ocean (Sandra Bullock), a irmã de Danny Ocean, emergindo de uma temporada na cadeia com um plano elaborado para roubar o colar mais caro da Cartier, o Toussaint. O colar é avaliado em $150 milhões e guardado num cofre, etc., etc. Ele exige um grupo de exatamente sete pessoas – calculou precisamente Debbie Ocean – para ser roubado. Essa é a deixa.
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Os filmes anteriores eram cheios de disfarces engraçados, mas o grande triunfo de Oito Mulheres é como ele se apoia na noção de que mulheres podem dar o golpe definitivo simplesmente porque nunca serão suspeitas. Isso parece entrar na linha do grande tema dos filmes e da televisão com mulheres no papel principal dessa temporada, como a insistência de Killing Eve de que só uma mulher pode chegar perto o suficiente do alvo para acertá-lo na artéria femoral sem que ele perceba.
Como seus antecessores, Oito Mulheres é um filme leve, mesmo assim revolucionário. Diferente de muitos blockbusters, o longa é realmente diverso, e o jeito como as bandidas são mobilizadas sugere uma crítica à escalação étnica de Hollywood. As mulheres brancas e magras do filme podem se infiltrar na Vogue e se fingirem de convidadas do Met Gala, enquanto as mulheres não brancas atuam como pessoal da limpeza, apesar das três delas serem as mais qualificadas no aspecto técnico – Rihanna faz a hacker, Awkwafina é a batedora de carteira e Mindy Kaling é a joalheira que precisa desmontar uma complexa peça de diamante no menor tempo possível.
Os golpes do enredo são divertidos, mas o roteiro só é marcante pelo espaço que dá para as atrizes fazerem seu trabalho. E elas não decepcionam. Bullock e Cate Blanchett estão impenetráveis como o cerne da equipe, Debbie e Lou, uma dupla que parece estar flertando de vez em quando e sozinha consegue reviver o lado foda dos nomes de idosa. Rihanna e Awkwafina encarnam suas personagens com uma confiança de pastiche que equilibra as atuações mais discretas de Mindy Kaling e Sarah Paulson. Anne Hathaway interpreta a estrela narcisista Daphne Kluger, que é muito mais tímida do que você esperaria de uma diva. E Helena Bonham Carter está maravilhosa em sua performance neurótica e de “má atuação”, que lembra muito sua sensacional encarnação da Hermione Granger no último Harry Potter.
Não seria um filme de “X Pessoas e um Segredo” sem aquelas piscadinhas óbvias para o público. No cenário do Met Gala em Oito Mulheres, vemos o grande golpe de todos – celebridades interpretando gente normal num evento quando literalmente acabamos de vê-las na vida real. Ver a Rihanna como Nine Ball emergir no tapete vermelho com um deslumbrante vestido vermelho é engraçado especificamente porque todo mundo lembra da icônica roupa de Papa que ela usou no último Met. O cenário também significa uma participação especial atrás da outra: Serena Williams, Gigi Hadid, Anna Wintour, Heidi Klum – essa última deixando a Sandra Bullock mostrar seu conhecimento de alemão.
O filme é tão enraizado no agora que parece até uma cápsula do tempo de 2018: num dos trechos mais fofos, Awkwafina ensina Mindy Kaling a usar o Tinder. Também é obviamente um filme que todo mundo esperava faz tempo – ele deve fazer $40 milhões no fim de semana de estreia.
Alguns acusaram Oito Mulheres e um Segredo de ser machista por focar em joias, mas o esteriótipo de mulheres obcecadas por diamantes acaba derrubado no filme. Toda vez que nossas heroínas passam tempo demais olhando para uma joia – para poder roubá-la – elas deixam a impressão de que sua fascinação é só um passatempo tipicamente feminino. (Homens também roubam joias, como em Treze Homens e um Novo Segredo, mas os críticos nunca disseram que homens são obcecados por joalheria.)
Pode não ser uma reinvenção completa do gênero – afinal de contas, é o quarto filme de uma série. Mas essa é a direção que a franquia está tomando agora, e eu daria meu dinheiro de boa vontade por uma sequência. Eles nem precisam me roubar.
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