Recentemente o filósofo, astrólogo, professor e tabagista brasileiro Olavo de Carvalho falou um pouco sobre heavy metal em sua página no Facebook. A fórmula toda é um pouco engraçada, a imagem que a maioria das pessoas tem de ideia de “filósofo” passa bem longe dos conceitos heavy metal, e mais ainda do Facebook, ou seja, todo mundo toma um certo susto ao ver coisas assim juntas.
A critica que Olavo faz já é a respeito de como os caras do metal recepcionam as críticas, e o resultado é o que ele descreve e esperava, pois mesmo dentre seus discípulos a galera já levantou as espadas p’ra defender o metal.
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Olavão curtindo um DT
Me parece muito a história de Dom Quixote: no livro de Cervantes o protagonista fica louco após ler dezenas de romances de cavalaria e passa a acreditar que ele mesmo deva ser um cavaleiro andante, saindo pelo mundo dando bordoadas em inimigos que na verdade são pessoas comuns e nada lhe fizeram de mal.
Olavo se assemelha às figuras de um cura e um cônego que alertam o cavaleiro da triste figura de que aqueles livros não passam de mentiras, de exageros de mau gosto, e Quixote, que já se enfurecia contra aqueles que não o atacavam, se enfurece mais e faz longuíssimos discursos defendendo a cavalaria andantesca.
Muitos foram os que enviaram p’ra Olavo exemplos de heavy metal muito bem elaborados em questão de ritmo, harmonia, etc. Mas o professor (eu gosto como até o pessoal que nem é aluno dele chama ele de professor, me lembra até de futebol) não está falando disso, ele tá reclamando mais do comportamento quixotesco dos metaleiros e dizendo que a causa disso são as características que ele considera centrais do heavy metal: guitarras estridentes, vocais distorcidos e ritmo pungente, é como se ele dissesse que o resumo do que ele considera metal fosse o Massacration.
Que existe, e existe em grande número, esse tipo de metaleiro que defende o metal quase como uma religião, não da p’ra negar. Todo estilo tem seu estereótipo que vai se tornar alvo de piada, o pagode tem o cara que cheira cocaína p’ra caralho, o funk tem os caras de aba reta e assim por diante. O lance é que depois vem as doideras do Olavo p’ra dizer que o metal emburrece DE VERDADE, e aí não tem nem como defender. P’ra isso ele cita um livro chamado Musique, Intelligence et Personnalité. Bom, eu não li o livro, só uns trechos traduzidos informalmente num blog, e me parece que nele o autor tenta mais atacar a “música tam-tam” (bate-estaca) e falar que isso é coisa do pessoal esquerdista, que a degeneração da arte na França faz com que eles não tenham mais bons gestores, e um monte desses bagulhos políticos que a gente tá já bem servido nos nossos feeds do Facebook.
A música tem efeito sobre o nosso cérebro, isso é sabido desde Platão, mas claro que é exagero dizer que algo do ritmo, harmonia ou melodia seja a causa da galera sair defendendo o metal em comentários de vídeo de funk no YouTube, ou colocando no status do msn a frase
▂▃▄▅▆▇█▓▒░O MuNdO SoH SeRaH PeRfEiTo QnD o UlTiMo ᴘᴀɢᴏᴅᴇɪʀᴏ fOr EnFoRCaDo NaS CoRdAs dE uMa ɢᴜɪᴛᴀʀʀᴀ░▒▓█▇▆▅▄▃▂
Resumindo o papo: eu não concordo com tudo o que esse véio diz: ele ainda fala uns lances de que o metal é essencialmente do capeta e tals, e talvez nem tudo ele esteja falando sério. Eu só queria criar um panorama e tentar entender o que tá se passando (e dar umas boas risadas). Se você quiser, pode ir lá na página do Olavo defender o metal e declarar seu amor à sua senhora Dulcinéia, ou concordar, ou discordar de umas partes e curtir outras, enfim:
Publicação by Olavo de Carvalho.
Publicação by Olavo de Carvalho.
Publicação by Olavo de Carvalho.
Publicação by Olavo de Carvalho.
Bônus: acabei descobrindo esse gostosíssimo texto em que um maluco fala ter encontrado Olavo de Carvalho sob “êxtase divino” num show dos Los Hermanos, parece uma fanfic adolescente, e um provável Olavo de Carvalho aparece nos comentários dizendo que o autor do texto sempre lhe pede uma entrevista, mas que ele nega.
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