Música

Os 33 melhores discos de 2015

Foto por Joel Fowler, Design por Christopher Classens.

Neste dezembro, o THUMP vai olhar para 2015 como o ano da música eletrônica e da dance music. Nós juntamos nossas melhores faixas e nossas mixes favoritas, e hoje, temos o prazer de trazer nossos 33 discos preferidos de 2015. Descobrir quais álbuns seriam escolhidos não foi fácil, mas ao menos mostra quantos discos nos tocaram esse ano.

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33) Future Brown – Future Brown [Warp]

Não é sempre que a primeira música de um grupo chega como um relatório completo de sua missão, mas é justamente isso que Future Brown fez com “Wanna Party” no verão de 2014. Sobre uma suave batida metálica, o jovem MC Tink, de Chicago, solta “Don’t you wanna party, put some liquor in your body, fuck this club, let’s get drunk” (Você não quer curtir, colocar bebida no seu corpo, foda-se essa balada, vamos ficar bêbados).

Rebobine pra fevereiro, quando o grupo internacional — formado pela produtora e compositora iraniana Fatima Al Qadiri e a dupla Nguzunguzu (Asma Maroof e Daniel Pineda) — soltaram sua estreia auto-intitulada, na qual sua discussão sobre políticas de balada se mistura, sem fronteiras, com o fato de que sons internacionais são muitas vezes ignorados. Com a facilidade de DJs experientes, eles fizeram colidir sons transatlânticos do pop latinoamericano ao grime do Reino Unido, e ainda contaram com alguma ajuda de um elenco eclético incluindo embaixadores do bop: Sicko Mobb, a cantora de R&B Kelela e a veterana rapper Shawnna. Por isso a música merece o prefixo “post” sem o sentimento de pretensão. Agora vá pegar um drink.—Max Mertens

32) Julio Bashmore – Knockin’ Boots [Broadwalk]

Julio Bashmore não tem problema em entregar música pegajosa; muito do seu legado vem de seu dom de conjurar os sons mais contagiantes do verão, como a “Battle for Middle You” de 2012 e “Au Seve”. No entanto quando falamos com ele sobre seu disco, Bashmore enfatizou seu desejo em criar um disco de estreia de verdade, não apenas um “monte de beats” aglomerados. É essa visão que dá a longevidade de Knockin’ Boots para além das pistas de dança. Em meio a hinos de colocar as mãos para o alto como “Holding On”, “Rhythm of the Auld” e “Kong” existem várias faixas transbordando de personalidade. Seja em “Umuntu,” com participação de Okmalumkoolkat rimando em uma mistura de inglês e zulu, ou na pegada mais ballroom e house com “What’s Mine is Mine” e “She Ain’t”, Knockin’ Boots promoveu Bashmore de um produtor de grandes faixas para um com uma visão.—Angus Harrison

31) Siete Catorce – Paisajes [Enchufada]

Torcer e deformar a música das pistas o máximo possível parece ser o desafio que Siete Catorce (ou Marco Gutierrez) gosta de enfrentar. Depois de estrear com um EP lançado com um dos coletivos mais descolados do México, o N.A.A.F.I, o jovem produtor seguiu lançando um disco que saiu pelo selo do Branko, a Enchufada. As faixas em Paisajes são batizadas a partir de diversos climas que você encontra de costa a costa no México, e seus sons são tão voláteis quanto. O lançamento apresenta um desafio para todos, dos DJs que precisam entender como sincronizar o álbum com o resto, às pessoas que vão precisar encontrar outras formas de dançar. Paisajes é uma verdadeira exploração de novas ondas e rítmos para a pista de dança global.—Valeria Anzaldo

30) Brawther – Endless [Balance]

Continuando a longa linha de ótimos discos do selo Balance (um sub selo do Chez Damier e Ron Trent), é o primeiro álbum do produtor parisiense Brawther. Endless se desloca para o lado menos frenético da discografia de Brawther, dependendo mais das batidas nuas dos grooves de fim de noite do que suas produções anteriores. Também remonta algumas de suas produções lançadas anteriormente mais cobiçadas em Balance e My Love Is Underground, como “Late Night Paris,” “Don’t Go” e “Le Voyage” — junto com um remix não lançado de Jeremiah “Khawuleza”. O resultado é uma coleção excepcional de músicas abrangendo cinco anos — assim como uma caixa de ferramentas para qualquer DJ que saiba o que é bom. —Joel Fowler

29) Seven Davis Jr – Universes [Ninja Tune]

Durante uma das viagens mais safadas de George Clinton aos confins do universo, ele fez suave e doce amor com um conjunto de estrelas. 30 anos depois, Seven Davis Jr apareceu na costa oeste com uma pilha de discos e uma canção. O groove, alma e energia positiva de David Jr tanto como produtor quanto vocalista transborda em sua estreia, Universes, disco lançado pela Ninja Tune. Coloque esse disco em uma festa e todo mundo, do seu vizinho normalzão até seu amigo viciado em techno, vão dançar igualzinho. Não é apenas funkeado — é o funk. Quem precisa reinventar a roda quando você já tem a nave espacial?—Jemayel Khawaja

Helena Hauff – Discreet Desires [Werkdiscs/Ninja Tune]

O disco Discreet Desires da Helena Hauff é tão lindamente sedutor que não conseguimos parar de falar dele. É uma preciosidade compacta, um conjunto cuidadosamente colocado de ondas sonoras agudas e minimais que borbulham com a inventividade da ingenuidade. Discreet Desires é o tipo de disco que Xeno & Oaklander passaram anos tentando fazer — uma provocação, um reunião de arpegios ácidos, dignos de filmes de horror de John Carpenter e ambientação de um trem fantasma. Não é imediatamente adorável (e nem tenta ser) mas com audições repetidas ele realmente vira algo especial.—Josh Baines

27) DJ Sotofett – Drippin’ For A Trip [Honest Jon’s]

A primeira dança de DJ Sotofett com Honest Jon foi um claro exemplo da inabalável criatividade do produtor. A estreia do co-fundador da Sex Tags Mania no selo britânico juntou um refrescante house, requintado tribal e um dub levitante junto com a colaborações de mais seis artistas diferentes. Os intensos ritmos que você ouve em músicas como “Nondo Original Mix” pareciam o resultado de uma estranha colisão de gêneros, afinadas com frases de guitarra e teclados para formar densos e suaves grooves. Se você não conseguiu ir à praia esse ano, então coloque um par de fones de ouvido e esse disco provavelmente estará perto o bastante.—Juan Pablo López

26) Xosar – “Let Go” [Opal Tapes]

O utilitarismo descompromissado do techno e o inimitável misticismo do paranormal formam uma conjunção estranha, mas às quatro da matina no calabouço underground, o lugar certo para ouvir as batidas de Xosar, esse tipo de estranheza parece uma ótima ideia. Sheela Rahman surgiu da obscuridade dos subúrbios de San Jose até ter sua própria sala no estúdio da lenda analógica Logowelt, no espaço de um ano. Seu disco de estreia Let Go, lançado no selo Black Opal, é a arfante e psicodélica obra-prima que a confirmou como uma iconoclasta do techno. Suas oito faixas são mais arriscadas na faixa de uma hora que muitos produtores em toda sua carreira, e ao final, você pode até repensar sua posição sobre o poder de cura dos cristais.—Jemayel Khawaja

25) Hunee – Hunch Music [Rush Hour]

O disco do germânico-coreano baseado em Amsterdã lançado pelo Rush Hour pode parecer um pouco diferente no papel dos sets de DJ focados no house e na disco acelerada que o colocaram no mapa, mas é tão corajoso e classudo quanto. Com Hunch Music, Hunee, também conhecido como Mr. Hunch, ou Hun Choi, arpeja cores de toda sua paleta artística, indo entre o techno pulsante, estranhos jatos de sintetizador, house perfeitamente contido (“Rare Happiness”) e até mesmo um hipnótico sample de Sun Ra (“The World”) — tudo isso enquanto evita ser pego nos clichês das formas mais convidativas da house music que trilhou seus elogiados EPs (e grande parte da house music desse ano), assim como ironicamente, seus sets de DJ ao redor do mundo.—David Garber

24) RP Boo – Fingers, Bank Pads & Shoe Prints [Planet Mu]

RP Boo faz o tipo de footwork que soa como se alguém jogasse toda a música americana pós 1985 em uma máquina de lavar e colocasse no inexistente modo EXTREMO. É uma experiência desorientadora, que força o ouvinte à submissão, puxado para baixo com toda essa propulsão. Footwork, no final das contas, encontra um jeito de distorcer o espaço e tempo, brincando com a percepção por meio da repetição. E Fingers, Bank Pads & Shoe Prints é o som, e o choque, do novo. Bem, novo-velho, pelo menos.—Josh Baines

23) Len Leise – Lingua Franca [International Feel]

Lembrete de amigo: não existe pergunta mais chata no mundo do que “O que é balearico?”. Estamos em 2015 e sabemos o que é balearico — é o que quer que você queira que seja! É um estado de espírito! São palmeiras e garrafas de Skol! É pôr do sol, Jose Padilla e DJ Harvey, o som de congas e guitarras estridentes! É Lingua Franca de Len Leise, uma obra prima contemporânea absoluta lançada pelo melhor selo de balearico que existe ( o International Feel) e é certamente o melhor disco de balearico a surgir na Austrália, que é tão longe das Ilhas Baleares quanto você possa imaginar. É balearico, a propósito. É um disco balearico realmente bom.—Josh Baines

22) M.E.S.H. – Piteous Gate [Pan]

Piteous Gate

looms with a threatening presence—there is no party to speak of here. James Whipple never descends into self-indulgence on his first album as M.E.S.H.; every hiss, every liquid embellishment, is considered and full of purpose. From “Epithet,” with its sounds of a SWAT team kicking down the door, to the negative space-filled “Jester’s Visage,” it’s elemental beyond any easy, explosive drop. All nine tracks on Piteous Gate are anchored by a cohesive mood, alluding to dance tropes without once descending into cliché. No exposition, just intrigue.—Lachlan Kanoniuk

21) Dam-Funk – Invite the Light [Stones Throw]

Esse nativo de Pasadena tem nos presenteado com fatias suculentas de funk já há muitos anos — o que não é surpresa, visto que ele tem uma das coleções mais carregadas de feromônios que o homem já viu. No disco mais recente de Dam-Funk lançado pela Stones Throw, Damon G. Riddick oferece uma história da longa linhagem do gênero, operando a diversão com participações de Ariel Pink, Junie Morrison, Leon Sylvers, e Q-Tip. Combinado com as brilhantes pegadas de Riddick e um renovado foco em conteúdo lírico, é um elenco lotado de estrelas que deixa o LP cheio de boas vibes.—David Garber

20) Nicolá Cruz – Prender el alma [ZZK Records]

Lançado no selo argentino ZZK, o disco de estréia de Nicolá Cruz é um casamento da herança local com a tecnologia digital. Mas também é uma busca por seu lugar no mundo, como se o produtor equatoriano estivesse ajoelhando e escutando as paisagens que o inspiram. A resultante expedição aos andes é tão introspectiva quanto voluptuosa, usando densos sons análogos e ritmos ritualísticos para embalar o ouvinte em um estado meditativo. Prender el alma é o som do coração de um continente acordando.—Juan Pablo López

19) Rustie – EVENIFUDONTBELIEVE [Warp]

EVENIFUDONTBELIEVE

pode ser simplesmente o mais glorioso “foda-se” que nós já ouvimos. De seu título desafiador ao safado crédito “Feat Rustie” que está ao lado de algumas faixas, o disco é o som de um produtor recusando a trabalhar sob qualquer especificação que não sua própria. A produção é o que nos pega primeiro — é um disco de Rustie afinal de contas — mas em audições seguintes, são as irresistíveis pegadas pop que acertam, escondidas no meio dos frenéticos efeitos sonoros e ensurdecedores beats recheados de baixos. Faixas como “Death Bliss” e “Big Catzz” flutuando entre esquisitos builds e enxurradas de gostoso alívio, enquanto hits como o destaque “Morning Starr” acertam seu passo até o paraíso do trap. Como a arte da capa, é uma peculiar, rosada e perfeita tempestade.—Angus Harrison

18) Rionegro – Rionegro [Cómeme]

Quando o disco de estreia de Rionegro foi lançado em outubro desse ano, ele se tornou um clássico contemporâneo instantâneo. O projeto colaborativo entre Matias Aguayo, Sano (Sebastián Hoyos), Gladkazuka (Gregorio Gomez) e Natalia Valencia ganhou o nome da cidade colombiana próxima de onde os quatro amigos se trancaram durante um mês, explorando tradicionais ritmos latinos como salsa, boogaloo e merengue com as máquinas de hoje. Sua selvagem e poderosa cozinha — que inclui como destaque uma homenagem ao hino peruano da cumbia “La Danza de los Mirlos” — honra suas raízes nativas enquanto faz uma viagem psicodélica através da floresta amazônica. Ritmos contagiantes são colocados entre maracas progressivas, bombásticas percussões e MPCs, resultando em um disco de 11 faixas de house galático atemporal emanando das entranhas da selva sulamericana.—Juan Pablo López

17) Letta – Testimony [Coyote]

É fácil pensar o grime como uma coisa de Londres, mas os últimos anos viram o som sair de vários lugares inesperados — Los Angeles, possivelmente, sendo o mais inesperado deles. Álbum de estreia de Letta (o primeiro disco saído do cada vez mais influente selo Coiote) é escuro como o carvão, um pedaço alterado de música que continuamente parece estar prestes a implodir. Sua versão afiada como navalha das melhores fórmulas do gênero estão todos presentes e corretos, mas rearranjados e recontextualizados. Parece que americanos conseguem fazer grime, no final das contas.—Josh Baines

16) Rabit – Communion [Tri Angle]

Quando o Rabit lançou seu disco de estreia Communion pelo Tri Angle um dia antes do Halloween, a imprensa ficou um pouco reticente em definir a pouco classificável música de Eric Burdon. Ele mesmo confessou ter problemas em categorizar sua música em gêneros, dizendo em uma entrevista: “Eu acho que nunca coloquei uma tag de gênero em uma música minha no SoundCloud”. Quando você passa algum tempo com Communion é fácil enxergar por que — do violento assalto de “Pandemic” às atmosferas de “Burnerz” — o disco é uma experiência potente e intrinsecamente visceral. O álbum também contém muito a pensar a respeito, como questões de políticas sexuais, injustiça e manipulação midiática que são exploradas por meio de samples vocais e rasgados e desolados beats influenciados pelo grime. Conforme a faixa final “Trapped in this Body” apaga, fica claro que esse disco irá deixar marcas.—Angus Harrison

15) DJ Richard – Grind [Dial]

Desde sua fundação junto com Young Male em 2012, White Material de DJ Richard se estabeleceu como um dos melhores fornecedores de techno e house sombrios. Seguindo sua ótima contribuição para a compilação de aniversário de 15 anos da Dial, o enigmático lançamento do LP de DJ Richard se afasta do rebelde som techno com o qual ficou conhecido em White Material; ao invés Grind encontra DJ Richard se voltando para dentro, pintando cada uma das faixas do disco com um tom diferente de emoções. Um disco controlado e por vezes fisicamente opressor de um dos melhores talentos dos EUA. —Juan Pablo López

14) Funkstörung – Funkstörung [Monkeytown Records]

Se você já teve um amigo sabe-tudo, nerd musical, você provavelmente já ouviu falar de Funkstörung — se não pela música, pelas intermináveis histórias que as pessoas gostam de contas sobre como esses dois caras da Bavária estavam “tão a frente de seu tempo, muito antes de Ostgut Ton ou Innervisions”. Verdade seja dita, ninguém mais quer ouvir isso. O que importa é que em 2015, dez anos depois de seu último disco, Chris De Luca e Michael Fakesch foram lá e fizeram de novo. Cada faixa desse disco nos deixou perdidos em suas batidas. Não se aprofunde demais nisso: se não você vai se tornar um dos seus amigos chatos com inermináveis monólogos sobre o maravilhoso trabalho deles.—Andreas Meixensperger

13) Linkwood – Expressions [Firecracker]

A coisa incrível sobre o segundo disco de Linkwood, Expressions, é a habilidade do produtor escocês de evocar tantos lugares diferentes enquanto os cobre com as mesmas névoas, como a neblina de sua cidade natal de Edimburgo. Cheio de texturas do ambient, muito do disco soa como um microscópio apontado para uma sessão de cordas presa dentro de uma concha que vagueia na corrente. Enquanto as faixas de entrada do disco — como “Ignorance Is Bliss” — acenam vagamente para o material anterior de Linkwood, faixas como “Reef Walking” tomam a frente com seu atemporal arrastar melancólico. Um ótimo negócio tanto para Linkwood quando para o selo Firecracker.—Joel Fowler

12) Arca – Mutant [Mute]

Podemos estar comemorando muitos discos esse ano por sua reconfiguração do passado, mas se as contínuas conquistas de Arca forem levadas em conta, a paisagem eletrônica hoje em dia ainda está coberta de oportunidades. Continuando da onde Xen (2014) parou, Alejandro Ghersi continua a construir gigantescas pontes industriais e delicados fios ligando as fraturas entre a fria tecnologia e o calor da carne humana. Mutant é, se qualquer coisa, um disco mais sensual. Os golpes reverberados de “Gratitud” colocam o produtor expressando um lado bem mais pungente e tangível, enquanto a elevadora “Faggot” tem um tipo trágico de solidão nela, sua voz isolada e sampleada soando contra a percussão dispersa. Mesmo em faixas que soam agressivas como “Vanity”, a inegável qualidade humana da música da Arca ressoa mais alto do que nunca. —Angus Harrison

11) Lotic – Heterocetera [Tri Angle]

2015 foi um ano bem grande para Lotic. Seu nome é familiar hoje em dia, tendo recentemente recebido aclamação crítica por seu mix de “Agitations” no selo alemão Janus, teve seu perfil publicado em praticamente todas as revistas eletrônicas, e fez uma união histórica com a Björk (ele a remixou e abriu para ela ao vivo), nada até sua estreia na Tri Angle com Heterocetera, quando tudo começou a encaixar. Nomeado a partir de um artigo da influente escritora feminista negra Audre Lorde, o disco é uma declaração de como a história deve ser contada. Com colagens de som de pista, finos sintetizadores eletroacústicos e até um sample de Masters at Work — de seu hino do vogue “The Ha Dance” — o EP marcou um degrau muito importante para a abordagem altamente politizada e radicalmente empolgante, e mal podemos esperar o que vem em seguida.—Alex Iadarola

10) Kode9 – Nothing [Hyperdub]

No começo do outono passado, enquanto as árvores começavam a secar, eu dei uma volta com Kode9 (também conhecido como Steve Goodman) até um templo Taoista, escondido no último andar de uma construção discreta em Chinatown. Enquanto ajoelhamos em frente à estátutua do Buda, o chefe do selo Hyperdub me apresentou alguns dos conceitos por trás de seu novo álbum, Nothing: “Quando eu estava lendo sobre o vácuo e o nada, eu cheguei na ideia de que eles podem parecer vazios, mas na verdade contém toda essa excitação invisível, agitação e energia”, me disse ele. “Se chama Energia de Ponto Zero, que é o nome da primeira faixa de Nothing — é o que estou tentando transmitir nesse som estranho e brilhante”.

Essa ideia (que o nada pode, na verdade, ser cheio de sentido) aparece de novo e de novo no disco, que ele fez em memória ao amigo MC Spaceape, que morreu em outubro de 2014, seis meses depois do DJ Rashad, outro amigo próximo e colaborador da Hyperdub. Em “Void”, espaços vazios são deixados onde vocais de Spaceape costumavam ir; outra faixa “Wu Wei” é batizada a partir de um princípio taoísta da não-ação.

Mas a canção mais poderosa do disco é a última, “Nothing Lasts Forever”. Lembrando o seminal trabalho de John Cage em “4’33”, o som consiste de dez minutos e nove segundos de silêncio. A não ser, é claro, que é tudo menos isso: você pode ouvir pequenos ruídos e sussurros no fundo se você ouvir atentamente. “Eu estava procurando por ‘nada’ no YouTube, e eu encontrei esse vídeo de um monge zen budista japonês”, explicou Goodman. “Ele dizia, ‘eu quero que todos prendam a respiração agora’, prendendo sua respiração, ele disse tudo o que eu queria dizer”. Goodman pegou o segmento de dois minutos e o repetiu cinco vezes, resultando na faixa final. Enquanto calçávamos nossos sapatos e nos dirigíamos à porta, eu percebi que era por isso que Nothing seria um dos discos mais poderosos do ano: ele sintetiza nossa busca diária de encontrar sentido no vazio que nos cerca — e especialmente no espaço mais vazio de todos, a morte.—Michelle Lhooq

9) Jlin – Dark Energy [Planet Mu]

Agora a maioria de nós conhece a história de Jlin: ela não mora em Chicago; trabalha em uma siderúrgica em Gary, Indiana; faz trilha sonora de desfiles de moda; e faz o mais brutal e danificado footwork que você já ouviu. O que quer dizer que podemos focar em sua música. O lançamento da Planet Mu, Dark Energy, corresponde ao seu nome. É uma explosão de energia feroz, nervosa, antisocial e gloriosamente confusa, que bomba e bomba, mas ainda assim consegue ser uma das audições mais satisfatórias de 2015.—Josh Baines

8) Darkstar – Foam Garden [Warp]

“Ahm, pessoalmente eu não experimentei tanto do mundo, eu não viajei muito, e é provavelmente por causa disso que eu me sinto bem aqui. Eu sou feliz aqui”. Assim começa a conversa no começo de “Javan’s Call”, a penúltima faixa no Foam Island de Darkstar. Inspirado amplamente em entrevistas que a dupla fez com pessoas de vinte anos em Huddersfield, samples que aparecem através do disco, Foam Islands articula a existência no norte da Inglaterra, uma vida vivida longe da prosperidade e atenção da capital. Apesar de inicialmente terem construído sua reputação em 12 polegadas com Hyperdub, Foam Islands continua a empreitada mais recente de fazer álbuns baseados em canções. Esses hinos sobre pessoas e lugares são obras complexas; tocando pequenas frases e refrões atraentes sobre uma cama de sintetizadores rodopiantes e delicada instrumentação.

Pode parecer um pouco injusto chamar o disco de triste. Ele contém uma quantidade imensa de esperança, e os personagens que ocupam o disco soam longe de estar quebrados, no entando, há uma gravidade curiosa o puxando para baixo. As vozes ouvidas no disco falam de ocupar um espaço na Inglaterra moderna que o resto do mundo parece ter esquecido. Darkstar fala da realidade de morar dentro de uma bolha, e mais desconcertante, o conforto que vem com isso.—Angus Harrison

7) Björk – Vulnicura [One Little Indian]

Em “Stonemilker”, a faixa de abertura de Vulnicura, seu nono disco, Björk geme: “All That Matters is/ Who is open chested/ And who has coagulated” (tudo o que importa é/ quem tem o peito aberto/ e quem é coagulado). A faixa poderia descrever quem é emocionalmente fechado ou aberto, mas funciona igualmente como uma descrição da bizarra e vagamente sexual capa do disco, que mostra o torso da artista aberto. A música dentro é igualmente perturbadora e encantadora — um disco sobre separação, claro, mas algo bem maior e sem fim do que isso, acompanhando o doloroso relato em primeira pessoa do término de um relacionamento com vagos floreios de produção, entre eles contribuições de Arca e The Haxan Cloack. Quando a épica jornada desse disco chega ao final, é difícil não se sentir um pouco aliviado, e talvez um pouco curado também.—Gigen Mammoser & Emilie Friedlander

6) Jamie xx – In Colour [Young Turks]

Como o Caracal do Disclosure, a estreia solo de Jamie xx olha pesarosamente para o passado, seja através do morno bater de velhas baterias eletrônicas ou o desenterrar de empoeirados samples dos anais da cultura de rave do Reino Unido. O diverso alcançe de referências de Jamie — grime, drum and bass, dubstep, e seu trabalho com The xx, entre outros — providencia uma qualidade literal ao nome do disco, como se In Colour ele estivesse de certa forma revelando o espectro total de sua memória sonora.Apesar de não ser o disco mais revolucionário do mundo, o produtor londrino corre alguns riscos (principalmente, na faixa inspirada no dancehall “I Know There’s Gonna Be (Good Times)”, que chama o MC de Atlanta Young Thug e o artista jamaicano Popcaan em uma tentativa sincera de criar um jam de verão que funcionou). A faixa pode guardar a chave do que faz esse disco tão poderoso, mostrando a habilidade de Jamie de misturar produção precisa com os sons de ontem, e de certa forma ainda parecer estar apontando para o zeitgeist.—Gigen Mammoser

5) Floating Points – Elaenia [Luaka Bop/ Pluto]

Foi preciso cinco longos anos para Sam Shepherd lançar um disco inteiro, mas valeu a espera. Gravado de maneria bem improvisada — e eventualmente apresentado ao vivo com uma banda de 11 integrantes — Elaenia leva o ouvinte por campos de delicada instrumentação ao vivo, sussurros de spiritual jazz e, é claro, as melodias sem limite de Rhodes e Buchla que levaram o londrino direto ao estrelato underground.

No caminho todo, a carreira de Smith tem sido uma declaração de seu espírito temerário, seja ele fazendo uma turnê pelo mundo com seu set ao vivo ou tocando em baladas como a finada (infelizmente) Plastic People, onde ele uma teve uma residência junto com o iconoclasta do jazz-house Theo Parrish. Aqui, Floating Points aparece na natureza contínua do álbum transitando da calma ao quase fora de controle quando “Perorarion Six” aparece. Elaenia não é feito para a hora da festa, mas é música que conversa com seu corpo inteiro, tocando cada parte de seus sentidos consistentemente, mas imprevisivelmente. Por que não é assim que funciona a vida e a boa música?— David Garber

4) Hudson Mohawke – Lantern [Warp]

O melhor jeito de ouvir Lantern é sozinho. Sim, o disco é imenso, ele bate forte, é uma celebração. Coloque ele numa festa, e você vai ficar pulando por aí abraçando os amigos dentro de minutos. Mas se você quer realmente compreender seu potencial, desligue os sons do mundo em volta de você, coloque seus fones, e feche os olhos.

Alguns discos soam como filmes, mas Lantern soa como um sonho. Hudson Mohawke é tão conhecido pelas suas grandes faixas de balada como parte do TNGHT e colaborações com artistas como Kanye West e Drake que muitos de nós esperávamos algo parecido em Lantern. O que ganhamos, porém, foi uma corrida de coração através de porões escuros, paisagens urbanas, galáxias reluzentes e os quartos mal iluminados de amantes dormindo. HudMo vem afiando sua própria voz — uma que salta da instrumentação ao vivo de rock para batidas gabber em uma batida do coração — desde 2009 com Butter, mas em Lantern, esses pulos erráticos encontraram sua realização plena, e com isso, maturidade.

E pode parecer uma palavra estranha para se aplicar a um disco tão incansavelmente hiperativo, mas é apropriado. Lantern é incontestavelmente emocional, mas isso não torna a emoção caricata — a proximidade de “Indian Steps”, a alegria de “Brand New World”, e a triunfante “Scud Books”, todas são conclusões maximais e orquestrais de um sentimento sem fronteiras e uma imaginação singularmente irrestrita. Com essa liberdade, e sua agora considerável experiência, Hudson Mohawke foi capaz de produzir um disco que voa através do universo no espaço dentro da sua cabeça.—Angus Harrison

3) Grimes – Art Angels [4AD]

Uma carta de amor ao rádio de Nashville que também funciona como uma critica à imprensa musical? Hinos pop do top 40 que funcionam tão bem cantando no seu quarto quanto em um estádio? Uma faixa inspirada em filmes de faroeste apresentando uma rapper taiwanesa chamada Aristophanes? Se você tinha qualquer preocupação que o novo negócio de Claire Boucher com a Roc Nation de Jay Z pudesse diminuir suas ambições artísticas, o muito aguardado quarto disco de Grimes deve resolvê-la imediatamente.

Por mais distante e até incongruente que os pontos de referência musicais de Art Angels possam ser, é o disco mais polido e singular da artista canadense até o momento. E muitas das suas melhores faixas — “Kill V. Maim”, por exemplo, tem vibes de cantos de cheerleaders com uma faca retrátil, e “Venus Flu” assistida de Janelle Monae — vê Boucher colocando o sexismo da indústria na mira da sua produção. Enquanto Grimes costuma falar desses assuntos há anos, sua plataforma para fazê-lo nunca foi tão grande — ou mais urgentemente necessária.—Max Mertens

2) Oneohtrix Point Never – Garden of Delete [Warp]

Garden of Delete

me fez chorar a primeira vez que o escutei — o que é estranho já que não é exatamente um disco que soa sentimental. Eu estava sentada em uma sala de reunião na frente de Daniel Lopatin e alguns colegas de trabalho, absorvendo os rasgados sintetizadores e os vocais viscerais, e tudo o que eu conseguia pensar era como livre tudo soava. Aqui eu estava (provavelmente no meio de algum deadline de edição ou de escrita, meu gmail piscando a cada minuto com um e-mail de trabalho) e Lopatin estava ocupado escavando os meandros enterrados de seu cérebro pubescente cheio de Nine Inch Nails e filmes de terror, fazendo um disco que ele provavelmente sabia que iria polarizar seus fãs.

Enquanto sociedade, nós americanos podemos ser chocantemente ruins em introspecção, e piores ainda em sermos bons consigo mesmos quando descobrimos coisas dentro de nós que preferíamos não descobrir. Em Garden of Delete, Lopatin fez os dois: dos solos de bateria de deixar você com dor de cabeça de “Sticky Drama” aos doentes vocais da balada em “Animals”, ele mergulhou na raiva, esperança, vergonha e desconforto corporal que todos nós experimentamos no estágio entre a infância e a maioridade. Ainda mais, ele canalizou esses sentimentos usando linguagens musicais datadas que foram trilha sonora musical para seu rito de passagem, como industrial e nu metal. Que vergonha, você pode dizer. Talvez, mas não são as pessoas mais confiantes as que são corajosas o bastante para mostrar sua vulnerabilidade?

Como Lopatin colocou durante nossa recente conversa no Beats 1, se você der uma olhada dura e pesada na puberdade — aquele momento quando nossos corpos mudam, e nossa visão do mundo ao nosso redor se torna incerta — existe algo bem inspirador, até político nisso. Algo que pode guardar a chave para entendermos suas elásticas produções.

“Eu acho que a mutação em um nível biológico é tão punk quanto qualquer coisa consegue ser”, ele me disse, ao explicar a canção “Mutant Standard”. “apenas acaba com a cara da ordem”.—Emilie Friedlander

1) Holly Herndon – Platform [4AD/RVNG Intl.]

Provavelmente foi a melhor realização da minha carreira: fui bloqueada por Deadmau5 esse verão depois de chamá-lo de “daddy troll” no Twitter. Alguns dias depois do “incidente”, fui ver Holly Herndon trazer Platform à vida em um show que fazia parte de uma série de apresentações da Pitchfork no Brooklyn. Herndon estava acompanhada por seus colaboradores Mat Dryhurst e Brian Rogers, todos os três boquiabertos em seus laptops a maior parte da provocante apresentação.

Herndon cantou e suspirou enquanto plugins e processadores que ela construiu jogaram sua voz para o espectro alienígena. Ela tratou seu laptop como um instrumento, tocando seus dedos nas teclas como se fossem cordas de guitarra. Vídeos interativos de ambientes sintéticos habitados por figuras humanas, comida e entulho tecnológico foram projetados na parede. Enquanto isso, Dryhurst e Rogers pegaram as trilhas das mídias sociais do povo na plateia (presumivelmente da página do evento no Facebook), comentando nossa vida conectada com esperteza que projetavam em uma tela atrás deles. Para a minha surpresa, eu subitamente fui um alvo de suas brincadeiras: “Michelle, considere ele bloquear você um favor escondido”. Eu me senti como se tivesse sido acertada por um raio. A energia de ter sido escolhida no público foi aumentada pela violência dessa intrusão no meu mundo digital.

Minha faixa preferida em Platform é “Lonely at the Top”, a homenagem de Herndon ao fenômeno de YouTube de (em sua maioria) mulheres no YouTube usando diversos tons de vozes calmantes para ativar sentimentos de prazer em seu público. De acordo com sua colaboradora, Claire Tolan, sua versão reimagina as ferramentas de cura da ansiedade como “terapia para o 1%”, explorando as “as estratégias dos ricos para justificar seu estatus, de estar do lado rico de uma desigualdade global”. contra o fundo de teclado e barulhos de papel, uma voz feminina infantil repete: “Você realmente merece isso… tanta gente depende de você, e não é só porque você é bom no que faz — é porque você é uma pessoa maravilhosa”.

Tanto essa faixa quanto a minha experiência no show somam perfeitamente o que fez o disco de Herndon a obra-prima do ano. Enquanto outros abordam os temas com os quais ela se preocupa (cultura de internet, vigilância online, estruturas de poder invisíveis, e nossa ansiedade sobre tudo isso) a genialidade Herndon repousa em sua habilidade de comentar essas questões de formas que parecem íntimas, emocionais, e às vezes até engraçadas. Esteja ela procurando dados sobre seu público, se apropriando dos cantos mais estranhos da internet, ou apenas criando música de balada cerebral que você pode dançar — as visões cyber pop de Herndon visam o futuro, mas estão fundamentalmente preocupadas com as coisas que nos tornam humanos.—Michelle Lhooq

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