Imagem: cortesia de ©iStockphoto.com/clintspencer
A maioria das pessoas curte reclamar sobre listas de fim de ano só um pouquinho menos do que fazê-las, e não dá pra culpá-las. A lista de fim de ano, pra início de conversa, é um pedacinho subjetivo de efemeridades, então é absurdo esperar que tenha alguma relevância real. A não ser que você esteja fazendo uma lista específica dividida por gênero, é um esforço fútil na melhor das hipóteses, e, na pior, um exercício de enrolação pura. Como você vai “julgar” honestamente Nicki Minaj em relação ao Blut Aus Nord? É ridículo – mas isso não nos impede de tentar. Alguns de nós fazem listas pra ganhar uns pontinhos na cena, pra poder se gabar de algumas coisas (“ah, você nunca ouviu essa banda? Eles tão no meu top 5”) ou, ocasionalmente, por diversão. Às vezes você é pago para fazê-las, e sendo bem honestos, é isso que nos leva até o motivo pelo qual estas listas de fim de ano existem: grana. O lobby do marketing musical precisa de citações e listas para saciar sua bocarra escancarada; releases e adesivos nas capas de CDs precisam ter o que dizer, e é muito fácil mencionar que o Disco X foi um dos 10 Melhores de 2013 da Revista Dã do que parar pra pensar e escrever mesmo uma ou duas frases a respeito da música. Por isso que sobra pra gente, macacos com máquinas de escrever, a tarefa de brigar e gritar nossas preciosíssimas listas. É um círculo vicioso, mas como a própria Rainha Elton John certa vez disse pelo bem daquele leãozinho animado: “É O Ciclo Sem Fim / Que nos guiará / a dor e a emoção / pela fé e o amor / até encontrar / o nosso caminho/ neste ciclo, neste ciclo sem fim”.
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Para quem escreve, a coisa toda é bem intoxicante. Da agonia e êxtase de adicionar e subtrair de calibrar cuidadosamente cada integrante daquilo que se tornará uma lista de dez ou vinte ou cento e três absolutos, definitivos, juro por Deus, eu lá mentiria pra você? DISCOS do ano… Até a doce satisfação da conclusão, inebriada com o poder de saber que alguma banda talvez tuíte sobre a sua – A SUA – lista. Olha só, mãe, agora eu sou uma jornalista de verdade!
Dito isso, deixe-me te guiar pelo processo mental que todo jornalista passa enquanto faz sua importantíssima lista anual, para que você então esteja pronto para testemunhar a glória da lista de Melhores de 2014 daqui da galera do Noisey nos próximos dias.
1. NEGAÇÃO
Este ano vai ser muito mais fácil do que o ano passado! Tô preparadaço, sério. Já sei qual é meu favorito; tenho certeza que saiu este ano, ao menos. Quem liga se não ouvi nada além de Beyoncé e paródias no YouTube o ano inteiro; sou um crítico musical, eu sei o que é bom! Só vou dar um confere no meu iPod, e no iTunes, e no Spotify, aquela pilha de discos na mesa, e os CDs que empilhei do lado da pia, e as quatro promos digitais que recebi, e aquela demo do meu amigo e… É, este ano vai ser moleza.
2. RAIVA
Cacete, que saco. Listas de fim de ano são horríveis. As pessoas ficam enfiando as bandas erradas nas suas listas, por que tenho que escrever tantas sinopses? Odeio sinopses. Como você resume o essencial de um disco em 50 palavras? Que babaquice. Listas de fim de ano são babacas.
3. BARGANHA
Se eu deixar esse disco de fora e colocar esse, ninguém vai reparar que deixei de lado um puta álbum deste ano e pus no lugar uma bandinha punk de garagem que descobri semana passada, né? Não consigo mesmo escolher entre esses três discos de black metal depressivo atmosférico – são tão diferentes! E essa mixtape claramente é bem melhor que aquela outra, mas esse verso aqui é bem melhor que aquele, então talvez ela deva entrar… Mas péra, e esse refrão!
4. DEPRESSÃO
Nunca vou terminar isso. Por que não pode ser um Top 11? Merda, tenho que meter aquele disco de SeiLáQuem aqui, mas não posso tirar o disco X porque as pessoas acharão que eu não tenho cultura e meu editor vai ficar chateado. Eu não gosto muito desse álbum, mas ele é “importante” e as pessoas vão pensar que tô por fora se ele não entrar. Preciso encontrar algo mais obscuro também; todo mundo tem falado desse disco aqui, e preciso provar que sei mais que aqueles plebeus. Hm.
5. ACEITAÇÃO
Que se foda, já tá bom. Vou mandar essa porra. Nunca mais.
Kim Kelly está rankeando discos no Twitter.
Tradução: Thiago “Índio” Silva