Os drones e as câmeras do Doria não saíram tão bem quanto nas propagandas

O bom filho à casa torna. Um ano depois da criação do Dronepol, projeto do prefeito João Doria que municiou a Guarda Civil Metropolitana com drones para vídeo de monitoramento, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana exibiu os avanços do programa na 13º Feira e Conferência Internacional de Segurança entre os dias 6 e 8 de março em São Paulo.

Uma escolha pertinente: foi na edição de 2017 do mesmo evento que Doria negociou a doação dos primeiros drones para o projeto com a empresa chinesa Dahua. Na época, o prefeito focou a divulgação do Dronepol no X820 da Dahua, modelo com câmeras de alta definição, autonomia longa, resistência a extremos de temperatura e ênfase no custo de R$ 400 mil.

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Só tem um detalhe: o X820 nunca saiu do chão. O modelo não tem homologação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e não pode voar no Brasil.

Ainda assim, a equipe da CGM na feira parecia satisfeita com o projeto. Hoje, o Dronepol utiliza cinco drones (dois Phantons 4, dois Spiri, e um modelo customizado) no monitoramento de áreas de risco e reservas ambientais, assim como suporte em manifestações e ações na Cracolândia, por exemplo.

Defeitos e proibições à parte, o aspecto mais interessante do Dronepol é o tal modelo customizado, um protótipo feito pela própria Guarda Civil para parceria público-privada nenhuma botar defeito. Construído a partir de um kit F550, o drone foi adaptado para auxiliar em salvamentos na Represa de Guarapiranga e é capaz de jogar uma boia para quem estiver se afogando.

“Qual banco de dados? A PM tem um banco X, a Civil Y, e a Guarda Civil um Z. Não conversam.”

Outro projeto de 2017 reapresentado em 2018 e que parece não ter vingado como Doria gostaria é o City Câmeras. No ano passado, o prefeito anunciou a plataforma cujo objetivo era ampliar a capacidade de monitoramento da Guarda Civil tanto por meio da doação de câmeras por empresas, quanto pela integração de dispositivos particulares ao sistemas.

De fato, o número de câmeras aumentou: se antes eram 75, hoje já passam de 1400. No entanto, o volume não se traduz em informação de qualidade. “Nós tínhamos câmeras PTZs [sigla para Pan/Tilt/Zoom] espalhadas de maneira estratégica, com um bom zoom óptico, que permitiam acompanhar a trajetória de um suspeito, mas a um custo muito alto”, contou um servidor da GCM.

A manutenção e gestão das 75 câmeras antigas custavam R$ 300 mil ao mês para a Prefeitura, que encerrou o contrato em novembro.

Hoje, com câmeras mais simples disponibilizadas por pessoas e empresas, não é possível chegar perto da qualidade anterior. E ainda há dependência de um bom sinal de internet do parceiro. “Mesmo que conseguíssemos câmeras como àquelas para o City Câmeras, apenas uma delas ia acabar com a internet do cara”, explicou.

Reconhecimento facial, então, nem pensar. Uma das tendências apresentadas na ISC, a tecnologia demanda uma capacidade de geração e processamento de imagens que vai além da disponível para o City Câmeras. Além disso, como ressaltou o servidor da CGM, mesmo que fosse possível reconhecer as faces, não haveria com que compará-las. “Qual banco de dados? A PM tem um banco x, a Civil y, e a Guarda Civil um z. Não conversam.”

O problema, aliás, é um dos focos do recém-criado Ministério Extraordinário da Segurança Pública. Na abertura do evento, frente ao alto oficialato das polícias militares e corpos de bombeiros de todos os estados brasileiros, o ministro Raul Jungmann destacou a necessidade de melhorar a capacidade de comunicação dos sistemas de informação dos órgãos públicos brasileiros. Em outras palavras: está na hora das polícias aprenderem a trocar figurinha caso queiram criar um programa eficaz de vigilância urbana.

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