Enquanto as especulações sobre sua ida para um ministério fervem nas redes, a Polícia Federal disponibilizou nesta segunda-feira (14) a íntegra do depoimento que o ex-presidente Lula deu após a condução coercitiva determinada pelo juiz Sergio Moro dentro da 24ª fase da Operação Lava Jato, no dia 4 de março. Se o circo acabou reacendendo a verve política da “jararaca”, com direito a dois discursos convocando a militância a lutar contra uma possível prisão e também o não-tão-inverossímil processo de impeachment da presidente Dilma, o depoimento mostra um Lula alternando-se entre o bem-humorado – no pique do “cadê o japonês?” com o qual teria brindado os agentes federais ao chegarem em sua casa – e o mau humor de quem se vê injustiçado.
Se Lula pode ensinar algo aos brasileiros, na política e na palavra, é a sua retórica, sua capacidade de trazer ao chão os assuntos mais espinhosos e simpatizar com qualquer contraparte que tenha à frente, sejam chefes de estado ou trabalhadores desempregados do terceiro mundo. Lendo a íntegra da transcrição é de se espantar não transparecer no registro alguma risada do delegado Luciano Flores de Lima, que colheu o depoimento – que, para nossa esperança, parece também ter sido gravado em DVD.
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Se o documento não esclarece nada de espinhoso, sejam as acusações de favorecimento ilícito ou a confusão “por que o Lula foi levado para Congonhas onde tinha um jatinho da PF e não para a sede da PF em SP e por que o Bolsonaro já tava em Curitiba soltando rojão?”, pelo menos traz um pouco das, creio, milhares de histórias que o Lula tem para contar do seu período na presidência, além de mostrar que, acusações à parte, nunca na história desse país, tivemos um presidente tão gente como a gente.

Aqui Lula explica que no Brasil nem dízimo se paga sem cobrador.
E você achava que “ensinar a pescar” era uma metáfora usada só por quem é contra o Bolsa Família?
Não deu tempo nem pro ex-presidente tomar um café da manhã. Sorte que providenciaram um misto quente.

Falando de boca cheia desde as greves do ABC.
Primeiro palavrão do depoimento, e uma lição: não deva nada pra ninguém (especialmente não deva na biqueira).
Mais tarde Lula repetiria esse pedido no bordão: “eu uso o sítio dos meus amigos porque os inimigos na emprestam”.
Quer ouvir uma orelhada do Lula? US$ 200 mil. Tá bem acima da média de cachês do rap nacional, pelo que eu ouvi por aí.
“Contador de ca(u)so)”: imagina um dueto Lula e Mano Brown? Eu pagava mais pra ver isso do que pra ir no Lolla.
E quem gosta de trabalhar no fim de semana pra ajeitar a cagada dos outros? O Lula que não é (nem eu).
Apenas um presidente latino-americano apoiado por mais de 50 mil advogados (e manos)
Numa das melhores histórias do depoimento, Lula conta como a sue equipe de segurança se virava com a magra diária que ganhavam durante as viagens oficiais.
A conversa continua, e o próprio delegado assume que as coisas melhoraram para a PF durante o governo do ex-presidente. Vamos ver se as diárias sobrevivem ao ajuste fiscal.
Como visto antes, assim como eu e você, o Lula não gosta de trabalhar aos domingos.
Lula é obrigado pela Lei 8.394-91 a guardar o acervo de presentes recebido enquanto Presidente da República – mas parece que ele vai passar a bola pra PGR.
O Lula leva muito a sério apelido de futebol.

Se pedalinho fosse algo assim tão “noooossa, um pedalinho”, não tinha tanto pedalinho na Av. Paulista no domingo.

CARRO. DE. BOI.
“No Guarujáex/ Duas laje é tríplex/ Chegou a OAS e reformou”
Vocês lembrar que o Lula se notabilizou pelas comparações? Então.
Como a gente pôde ver depois, o Lula tava puto mesmo.