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Sexo

Hackers publicaram porno nos sites do auto-proclamado Estado Islâmico

Os terroristas estão bastante confusos.

Na quinta-feira, 11 de Janeiro, a partir das 22h30, CYBERWAR chega ao Canal Odisseia. CYBERWAR é uma das novas séries VICELAND que estreiam em Portugal em 2018 e mostra-nos a forma como a guerra online é tão perigosa como qualquer outra travada no mundo real.

Em CYBERWAR, entre muitos outros temas, investigamos os meandros da espionagem governamental, vemos como a Internet se converteu em mais um campo de batalha na luta pela hegemonia política e descobrimos o quão exposta está a nossa segurança pelo simples facto de estarmos ligados à net.

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Este artigo foi originalmente publicado na VICE Austrália.

Quando se cresce como muçulmano, ideias sobre sexualidade são muitas vezes suprimidas, ou mesmo proibidas [Nota do editor: nada de muito diferente do catolicismo mais fervoroso, na verdade]. Na realidade, ninguém fala sobre sexo, ou te contas coisas sobre o assunto. Quando vi aquela cena do Titanic em que a mão de DiCaprio desliza pela janela embaciada, foi-me dito para não olhar para o ecrã - a minha imaginação foi forçada a preencher as lacunas. Da primeira vez que vi porno foi totalmente o oposto do que na minha cabeça seria uma relação romântica. Senti-me um pouco enjoado e muito envergonhado e depois um bocado chateado por os meus pais andarem a fazer aquilo. E depois, senti-me outra vez mal-disposto.

Num esforço para acabar com o Daesh, o grupo de hackers iraquiano “Daeshgram” tem vindo a explorar o sentimento de culpa e a ansiedade dos fundamentalistas através da publicação de pornografia nos seus canais de comunicação oficiais. Durante o anúncio de que iria ser instalado um centro de media numa parte da Síria ainda controlada pelo auto-proclamado Estado Islâmico, o Daeshgram publicou uma imagem de uma mulher despida, retirada de um filme porno. Um vídeo de apoiantes do Daesh a verem o anúncio foi alterado, de forma a parecer que os extremistas estavam a ver uma projecção pornográfica.

A proeza acabou por conseguir plantar sementes de dúvida em fóruns online. Apoiantes do Daesh começaram depois a menosprezar os sites onde o vídeo circulou, com declarações como "os cruzados dos media dizem que a Amaq [a "Agência de Notícias" do auto-proclamado Estado Islâmico] foi 'hackeada'". O anúncio foi completamente ofuscado pela vergonha causada pelo choque da indecência. A pornografia colocou em causa a confiança no seu mais respeitado meio de comunicação.

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Consequentemente, o Daeshgram fingiu confirmar as suspeitas de que estava a controlar o site da Amaq, através de um vídeo em que garantia que tinha "hackeado" a web de propaganda do Daesh. Vários membros do grupo criaram pequenos feudos online, outros removeram elementos de grupos secretos onde discutiam os planos. O pico dos esforços disruptivos dos hackers deu-se quando o próprio Daesh disse aos seus apoiantes para não confiarem na Amaq. E isto não é algo de somenos, já que a Agência é o principal site usado pelo grupo terrorista para, por exemplo, reivindicar os seus ataques.

O Daeshgram é constituído por seis muçulmanos do Iraque, que exploram as potencialidades da tecnologia moderna para interferir no "califado virtual" e tentar travar a sua crescente popularidade no Médio Oriente. Do grupo fazem parte estudantes, engenheiros e investigadores na área da cibersegurança que, obviamente, mantêm em total segredo de amigos e familiares as suas actividades.

Ainda no início de Novembro, o Fossbytes relatava que a Amaq teria garantido que o seu site era "impossível de ser hackeado". Uma reivindicação a que um hacker muçulmano chamado Di5s3nSi0N rapidamente respondeu com um "desafio aceite". Em poucas horas, o desafio foi ultrapassado e foram revelados vários e-mails com informação sobre os subscritores da Amaq.

De forma semelhante, em 2016 um hacker denominado WachulaGhost atacou as redes sociais do Daesh com a publicação repetida de porno gay a partir dos seus perfis. O hacker garantiu na altura que teria pirateado mais de 250 contas associadas ao Daesh, substituindo o seu conteúdo por mensagens relacionadas com o orgulho gay e pornografia. WachulaGhost disse à CNNMoney “[Nós] descobrimos a vulnerabilidade, então pensámos 'vamos tomar conta dos perfis… e humilhá-los".

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Quando hackers muçulmanos exploram sensibilidades culturais em actos de guerra psicológica, deixam cicatrizes que duram muito mais tempo que as feridas físicas. Orgulho e vergonha são as emoções mais importantes na vida social do mundo muçulmano. Suicidios e homicídios ocorrem bastas vezes sob o condicionamento de ideias bastante abstractos como a "honra". Enquanto adolescente excitado preferia levar 100 chibatadas a que os meus pais ou amigos vissem o meu histórico de pesquisas online - bem, na verdade, todos nós preferíamos, certo? Só que, na nossa cultura, a culpa psicológica é espiritualmente imperdoável.


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