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Halloween

O que sua fantasia de Halloween diz sobre você

Na maioria das vezes: que você é babaca.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
(Foto via Flickr/Paul Stein) 

Matéria originalmente publicada na VICE UK.

Halloween, que datinha esquisita né. Quando eu era criança, parecia uma festa organizada para irritar os adultos — "Isso é coisa de norte-americano", dizia meu pai, parado na janela de casa, com as luzes apagadas, vendo entre as cortinas garotos de moletom e máscara do Pânico baterem na porta, mastigando um rabanete. "Isso é tudo merda de norte-americano, porra." Me deixaram pedir doces na casa dos outros exatamente uma vez, vestido com um monte de meias cheias de jornal costuradas no formato de aranha, e só na casa da senhora do final da rua para quem minha mãe tinha ligado antes para ver se eu podia ir pedir doces lá. Mas ela não tinha nenhum doce, então me convidou para sentar no sofá dela enquanto ela me fazia creme de limão numa torrada. Sentei lá e comi a torrada como a pequena aranha silenciosa que eu era, depois voltei quatro casas para a minha residência.

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Aí algo imperceptível mudou no ar: talvez eu tenha crescido, talvez aquele sentimento antiamericano tenha mudado, talvez todo mundo só tenha percebido que o Halloween é uma boa desculpa para encher a cara, mas agora sempre tem um monte de molequinhos de cinco anos na porta do seu apartamento, acompanhados pela mãe simpática, e você tem que revirar os armários da cozinha atrás de alguma coisa que não seja feijão mofado. Além disso, no final de semana acontecem umas mil festas ao mesmo tempo: festa na casa de alguém, festa no bar, festa anti-Halloween, reuniõezinhas assustadoras. Pode resistir o quanto quiser, mas às 4 da tarde do sábado você vai sentir aquela coceirinha para sair fantasiado e beber um ponche num copo de plástico com uma aranha colada na borda. Não dá pra resistir. Se entregue.

Olha: Você já confirmou "presença" em cinco festas no Facebook, então estatisticamente vai acabar em uma delas. E aqui vão as pessoas que você vai encontrar lá, e elas vão estar fantasiadas de:

(Foto via Flickr/Donostia Kultura)

ZUMBI

Na verdade, tem até um gráfico que mapeia "quanto você se esforçou na sua fantasia de zumbi" contra "quanto você é babaca", que é mais ou menos assim:

Por exemplo, se você está usando uma camiseta rasgada suja com um pouco de sangue falso e alguma tinta verde na cara que prometia muito mais cobertura do que você conseguiu, então parece só que você está enjoado de andar de ônibus, não morto: você não é babaca.

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E também como exemplo: se você está usando uma fantasia especializada ou máscara de zumbi, alguma coisa que você teve que pedir na internet com dois meses de antecedência, você é um pouco babaca mas posso tolerar tomar uma cerveja com você.

Agora, o último exemplo: se você está usando quinhentas camadas de látex, coberto de feridas de qualidade cinematográfica, fingindo mancar, usando roupas esfarrapadas cuidadosamente e fica repetindo que " The Walking Dead é muito bom, gente", "não, você tem que assistir até depois de ficar ruim – mas eu não acho ruim, na verdade a série é incompreendida – pra realmente sacar qual é, o que você não saca", tipo "olha, eu tenho uma tatuagem do Walking Dead" e "olha essa foto minha vestido de zumbi numa convenção com um cara do elenco de The Walking Dead", então você é um completo babaca, um puta babaca, o maior babaca de todos, sua existência como fã faz o conceito inocente de gostar de coisas ser ruim.

Adivinha qual dos três acima vão aparecer na sua festa com doze pessoas "HALLOWEEN DA MORTE NA CASA DO JAMIE" no sábado?

(Foto via Flickr/Crystal Rolfe)

NOIVA CAVEIRA MEXICANA

De pé às 5 da manhã, ela toma banho e parte para sua rotina de cuidado da pele de oito passos. "A rotina", ela diz para as colegas de apartamento que têm que trabalhar no sábado e precisam do banheiro para tomar banho antes do turno, que ficam suando no sofá por 45 minutos depois daquela corrida de manhã de sábado, vermelhas e esperando, "é a chave para a fantasia de noiva caveira mexicana". Das 11 às 14h ela bebe smoothies e diz "DIAS DE LOS MUERTOS" com um sotaque ainda mais rocambolesco. Das 14 às 15h ela passa enrolada numa toalha olhando o Tinder.

Ela joga no Google "o síndico pode me impedir de ter cachorro", às 16h ela passa a base branca com uma esponja. Das 17 às 19h ela passa no WikiHow e abre várias guias no YouTube, pintando cuidadosamente rendas em volta dos olhos. A festa já começou trinta minutos atrás. 20h e o Uber já desistiu de esperar, então você espera 20 minutos antes de tentar de novo. Mais um atraso de vinte minutos tentando enfiar um vestido de noiva. "Pelo menos", ela diz para si mesma, 13 horas acordadas e com o estômago cheio de Prosecco, "pelo menos todo mundo na festa vai adorar".

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21h30. Ela toca o interfone. Está mundo barulho, ninguém está ouvindo, então ela tem que esperar até alguém chegar e deixar ela entrar pela portaria. 21h45 ela faz sua grande entrada: flutuando como uma noiva morta. Todo mundo a ignora porque está tocando aquela música do Drake. Bebendo vodca pura sozinha na cozinha. "Sim, é um vestido de noiva de verdade", ela diz para um rapaz que parece estar xavecando, até que a namorada dele chega por trás e elogia sinceramente a maquiagem dela. "Uau", ela diz. "Caramba – ficou lindo." Primeiro de três choros no banheiro, seis Pringles e um vômito. Uber de volta para casa um pouco antes da meia-noite. Uma selfie amarelada no banheiro no Instagram no dia seguinte – corajosamente legendada "melhor halloween de todos #diadosmortos #diadelosmuertos #caveiramexicana #Mehico #noiva – consegue 12 likes.

Tirar a maquiagem leva uma hora e meia e ainda fica um pouco.

MEU DEUS, TEM UM CARA AQUI VESTIDO DE RICK DO 'RICK AND MORTY'

Ah, que bom, ele está fingindo que está arrotando. Até passou um spray branco no cabelo. Fez umas pontas de gel. Até dá aquela gaguejadinha. Ah, não, que legal, né. É legal que seu irmão tenha uma coisa para se distrair depois que a Louise deu o fora nele e o médico disse que ele não pode mais fumar maconha. Melhor que a fase Breaking Bad, né, quando ele tentou organizar um quiz no boteco. Pelo menos ele não faz mais isso.

(Foto via Flickr/Ryan Harvey)

SUPER-HERÓI, TARZAM OU QUALQUER COISA QUE EXIJA FICAR SEM CAMISA

Tem sempre aquele cara que começou a tomar creatina 18 meses atrás, nunca lê as notícias e usa o Halloween como uma desculpa pra mostrar o peito musculoso, e temo que ele vai aparecer na sua festa e você pode pensar – talvez se você se focasse mais na dieta, cortasse os carboidratos, comesse mais vegetais; talvez, com um pouco de trabalho e dedicação, você pudesse ter um abdômen de novo também – mas aí você olha o Story dele do Instagram no dia seguinte e ele já começa tomando um shake às 6 da manhã e indo pra academia, mas você ainda está acordado porque exagerou na madruga e achou que mais minas iam ficar, mas elas foram embora logo de cara e você e um cara chamado Dominic ficaram acordados até altas horas passando remixes engraçados no YouTube um para o outro, e você pensa: é, não vai rolar. Talvez seja hora de admitir que você prefere morrer umas duas décadas antes do que ter que aprender o que é Whey.

CARA MORTO, MAS USANDO TERNO

Uma fantasia muito "meus pais me compraram um terno para uma entrevista de emprego que eu não consegui dois anos atrás, e eu estou tentando usar uma última vez antes da minha cintura aumentar irreversivelmente", né. Tentou um negócio "Gomez Addams", mas acabou com "filho adulto bancando o padrinho no casamento da mãe com o padrasto". É melhor deixar o terno para os adultos, meu rapaz.

ALGUM TIPO DE LENHADOR MORTO

Todo homem na face da Terra atualmente consegue se vestir de lenhador. Todo homem. Se você entrar na casa de um homem agora e pedir pra ele se vestir de lenhador, ele nem vai questionar: ele pode se vestir de lenhador em 15 segundos. Todo homem tem uma camisa xadrez, um jeans colado, bota de inverno e uma touca. Todo homem dorme com aquela camiseta que já foi branca e agora é cinza. Todo homem procura uma desculpa para deixar a barba crescer por seis dias mas não tem coragem suficiente para usar barba mesmo. Sei disso porque eu já fui para uma festa de Halloween como lenhador. Jogue um pouco de sangue falso do lado do rosto e você nem precisa de um machado de brinquedo. "Sou um lenhador!", diz todo homem vivo, como se se vestir com as próprias roupas fosse uma puta conquista. Como se o conceito mais assustador conhecido por eles não fosse trabalho braçal. "Olha, gente. Eu me fantasiei!"

(Foto via Flickr/stillwellmike)

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PALHAÇOS

Ninguém tem medo de palhaço, medo de palhaço é uma ideia falsa, todo mundo que diz que tem medo de palhaço na verdade só quer parecer interessante. Não converse com o cara no canto que veio vestido como um Pennywise mascote de supermercado, porque ele vai repetir uma dessas quatro opiniões antes de olhar no celular e pedir que algum dos seus amigos chatos apareça na festa, mas eles dizem que não têm fantasia porque não acharam que iam sair esta noite, mas tudo bem:

1- "Você já jogou o novo FIFA? Eu não. Prefiro PES."

2- "Livro favorito? Tem que ser 1984."

3- " Hurt do Johnny Cash é melhor que o original [abaixa o óculos de sol].. que é do Nine Inch Nails, aliás."

4- "[Uma longa explicação sobre como ele tentou aprender japonês para ler mangá da direita para a esquerda como o Kami-sama queria, mas só aprendeu 'oi', 'tchau', 'esposa' e 'do um ao oito' e, resumindo, é tudo culpa do sistema educacional que deveria ensinar japonês para as crianças a partir dos cinco anos, maldito Tony Blair por me deixar um baka]

PINTURA FACIAL MEIA-BOCA DE ESQUELETO

Honestamente, só tenho respeito pelo cara que só foi convidado pra festa meia hora antes e decidiu usar uma camiseta e uma calça preta, um Converse furado e uma pintura facial grossa de esqueleto, especialmente por causa da comida de toco que ele vai levar quando a namorada descobrir que ele usou três lápis de olho dela e um tubo inteiro de iluminador Fenty pra fazer isso. O cara vai ser tão xingado que as bolas dele vão entrar no corpo.

Sei lá do que esse cara prateado está vestido. (Foto via Flickr/GoToVan)

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QUALQUER MEME VAGAMENTE CONTROVERSO

Qualquer pessoa fantasiada de alguma polêmica pro Halloween – ah, você é a Melania Falsa, né? Sensacional, cara – é quase patologicamente comprometido com seu grupo no WhatsApp; o grupo é a razão da vida dele; ele reacende a zoeira quando ela seca e passa cada noite levando isso além; ele senta no sofá e faz piada com o Bake Off – "que que é todo esse merengue, gente?" – enquanto as outras pessoas estão vivendo a vida real; ele considera todos os 22 caras que moram no seu celular, todos chamados Gareth, seus melhores amigos; ele compartilharia nudes 1000% com o grupo; ele muda o nome do grupo uma ou duas vezes por hora; o grupo é tudo que ele tem, ele está de joelhos agora, no azulejo coberto de decorações que caíram e tampinhas de garrafa: "Por favor", ele implora, "pelo amor de deus, não tire a minha zoeira, é tudo que eu tenho" – ele chora – "É – tudo – que – eu – tenho…"

(Foto via Flickr/Daniel Speiss)

FANTASMA DE LENÇOL

Eu gosto do fantasma de lençol, porque é o mínimo do mínimo, né? Um lençol vagabundo, dois buracos, fazer um barulhos de "uuuuuu" quando você chega, perder a fantasia inteira 20 minutos depois. A fantasia de fantasma de lençol diz: Ei, o mínimo é bom o suficiente. A fantasia de fantasma de lençol diz: Sim, eu durmo no sofá em vez de na cama. O fantasma de lençol diz: Eu nunca lavei essa calça e nunca vou lavar. O fantasma de lençol diz: você não tem que pagar seu empréstimo estudantil até ter renda fixa, então faz sentido só pegar bicos de barman por quatro anos. Fantasma de lençol diz: me dá um cigarro, cara? Depois te compenso. Fantasma de lençol diz: alguém pode bolar um beck? Tenho seda aqui, se alguém tiver o resto… Fantasma de lençol diz: estou a cinco anos de ficar careca da noite para o dia e anunciar que planejo fazer curso técnico. Fantasma de lençol diz: Ainda tenho um pôster do Scarface no meu quarto, mesmo tendo 26 anos.

(Foto via Flickr/Gaudencio Garcinuño)

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HARLEY QUINN

Evite a mina na festa de Halloween 2017 fantasiada de Harley Quinn, porque tem 90% de chance de uma selfie dela viralizar e um monte de caras de fedora no Instagram comentarem "GANHOU A INTERNET, MILADY", e de um cara sem camisa de cabelo pintado de verde com "damaged" escrito na testa de lápis de olho e papel-alumínio nos dentes colocar fogo em alguma coisa no final da festa, que pode ser em você ou nessa lata de lixo cheia de aerossol, e ele vai se mandar antes de ver o caos se desenrolar. Não tente se meter com a Harley Qui.

FANTASIA MUITO COMPLEXA/OU CARA COMPRADA NUMA LOJA DE FANTASIA

A primeira vez que me dei conta de que morava numa cidade brega foi num Halloween, durante o dia, em 2009, quando peguei um ônibus até o centro e vi uma fila virando o quarteirão para entrar na loja de fantasias, com centenas de pessoas esperando para entrar. No ano seguinte: a loja de fantasias do meu bairro contratou um segurança pra cuidar do pessoal que esperava horas para comprar uma máscara de lobo de 60 paus. O que estou dizendo aqui é: qualquer um que não é a Heidi Klum e compra uma fantasia profissional cara para o Halloween está estragando nossa cidade, isso é basicamente gentrificar o Halloween, e esse cara tem que ser expulso da festa apropriadamente.

(Photo via Flickr/Paul Stein)

GATINHA

E aí, sou eu, a gatinha. Me fantasio de gatinha há oito anos consecutivos. Todas as minhas amigas também estão vestidas de gatinha. Um pouco sobre mim: tenho 4 mil seguidores no Instagram, acredito sinceramente em horóscopo e a tela do meu iPhone é totalmente fodida. Eu [ emoji de palmas] não [ emoji de palmas] terminei [ emoji de palmas] a [ emoji de palmas] faculdade [ emoji de palmas] de comunicação [ emoji de palmas].

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MÁSCARA DE SUPERMERCADO + A ROUPA QUE VOCÊ JÁ ESTAVA USANDO MESMO

Toda festa de Halloween é assombrada pelo mesmo fantasma: um cara de 24 anos chamado Tom que aparece com uma máscara de 1,99 (ainda com a etiqueta do preço) e só, ele bebe três latinhas de cerveja ao mesmo tempo, é amigo de um amigo que não foi convidado, e você escuta ele dizer toda hora "É, eu não ia vir porque sabia que todo mundo ia estar fantasiado, mas…" A cerveja? Compradas individualmente na loja de conveniência da esquina. O Tom não vai compartilhar suas latinhas. Ele comprou exatamente o quanto ele ia beber, para mais ninguém. O Tom comeu a maior parte – se não todos – os salgadinhos da festa. Esse é o problema: a presença dele – seu protesto apolítico do conceito de Halloween, engraçado ele falar sobre isso mesmo não sabendo nada – amarga a vibe toda da festa. A fadiga se espalha pelo local como um miasma. Todo mundo ali tentou, menos ele. "Do que você está fantasiado?", você pergunta pra ele, olhando para o adidas puído, a calça suja, a camiseta com a gola esgarçada, a jaqueta de colarinho encardido, a corrente da carteira, o cabelo despenteado. "Sei lá, cara", ele diz. Ele tira a máscara para conferir. "Um tipo de… diabo, acho." Sim, um tipo de diabo. Mas você precisava mesmo da máscara?

'JOGADOR DE FUTEBOL'

Porra – não olha agora, sabe aquela mina com quem você fez faculdade, que você não gostava muito mas acabou morando na mesma república por 18 meses, com a passivo-agressividade aumentando, tipo, você nem sabia que era possível lavar o banheiro passivo-agressivamente, tipo alguém que arruma a cozinha só pra te irritar, porque isso é possível e ela é a pessoa que fazia isso, e agora ela te convida pra beber no aniversário dela mas você nunca vai porque é longe, tem que pegar ônibus, e porque na verdade você odeia ela mesmo: bom, o namorado novo dela, atrás de você, ele veio vestido de "jogador de futebol".

Estranho. É como diz aquele velho ditado: é uma verdade universal que um cara que tenha um uniforme de futebol com meias combinando precisa pensar um pouco na vida. Todo mundo tem uma camiseta de futebol, cara. Todo mundo tem esse shorts. Mas não combinando, não com "RONALDO 7" escrito nas costas. Ah, sim, ele tem um shorts com um número "7". Ele também está usando a braçadeira de capitão, sim. Ele está riscando seu assoalho com a chuteira dele. O cara mais chato do planeta, te oferecendo um aperto de mão, atrapalhando a sua conversa colocando a cerveja e batendo a porta da geladeira forte demais.

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O verdadeiro horror, acho, é que ele é até de boa. Você sabe disso porque ele te encurralou na cozinha há 45 minutos e você não consegue passar por ele sem tocar a coxa exposta do cara, então você só fica encostado na pia, ouvindo o cara falar de impostos. "É, eu e a Sarah estamos economizando para financiar um apartamento agora", ele diz, e você já consegue ver o lugar, com piso frio e as paredes brancas, uma TV enorme na parede, uma mesinha de centro transparente, a cozinha toda branca, coito papai-mamãe baunilha numa cama perfeitamente arrumada. "Estamos procurando ainda, tem que ter duas vagas na garagem." O terror real é que ele está prosperando em tudo que você está fracassando. O verdadeiro horror é que, talvez, se você cortar o cabelo e começar a trabalhar no RH, talvez você consiga 1% do contentamento que esse cara sente. O verdadeiro terror é que, depois dessa conversa, você virou um dos três melhores amigos dele, e ele vai te convidar pra despedida de solteiro dele. O verdadeiro horror é que você chega a conclusão de que ele está vivendo a vida direito e você é o fodido.

BRUXA

O pessoal que se veste de bruxa é legal porque o Halloween é essa grande dança bárbara com você mesmo: decidir se você vai usar uma fantasia que acentua sua forma física para parecer sexy e assim te conseguir uma transa assustadora (veja: Tarzan, veja: "herói de filme de ação", veja: gatinha) ou se você vai usar alguma coisa ridícula e se divertir, foda-se, não importa a sua aparência – você está aqui pra se divertir, não pra ficar aparecendo, porra! – e aí tem esse espaço cinza que é a bruxa. Pele verde, perucona preta, uma capa esvoaçante. A Gangue das Bruxas chegou pra se divertir e comer todos os bolinhos temáticos de Halloween. As Bruxas chegaram para ficar rindo alto lá fora e fumar um monte de cigarros. As Bruxas são a vida e a alma dessa festa e – meu deus. Uma delas está batendo uma punheta no sofá prum cara com aqueles dedos de plástico que brilham. Meu deus, um dedo caiu na gelatina. Abortar, abortar, abortar!

(Foto via Flickr/aka Tman

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A PESSOA QUE TENTOU MESMO DAR UMA FESTA DE HALLOWEEN LEGAL, GENTE, MAS TEM ALGUÉM AQUI QUERENDO ESTRAGAR TUDO

Dois tipos de pessoas abrem sua casa para uma festa: caras que usam muita droga, sempre têm um olho machucado e dormem com o mesmo conjunto Umbro que usaram três dias seguidos no trabalho, e gente que realmente surta se alguém quebra um copo na cozinha. Por alguma razão não existe meio termo: festas só são dadas por gente patologicamente suja ou patologicamente louca com arrumação. Não é coisa de gente sã dar uma festa. Convidar amigos e estranhos pra sua casa é a pior coisa. É por isso que quem dá a festa nunca sai dela com a sanidade intacta.

Você lê a VICE, né, então muito provavelmente frequente festas horríveis, em quintais sujos ou algo assim, onde não importa derrubar uma latinha inteira de cerveja na escada, porque por volta da 1 da manhã o anfitrião vai dizer – "Já volto, gente, vou buscar mais cerveja!" – e nunca mais é visto, e você só vai ter notícias dele às 6 da manhã do dia seguinte no Facebook, dizendo "Você já foi? Eu ainda estou acordado!" Aí um cara muito silencioso e alto com uma jaqueta de couro até o pé é o DJ sozinho numa sala iluminada por neon azul, e às 3 da manhã a vibe vai ficar realmente sinistra e você vai embora.

A alternativa, claro, é ir para a casa de alguém que fez lanchinhos temáticos que viu no Pinterest, colocou teias de aranha em todas as portas e escondeu todas as taças frágeis num armário trancado, e o convite no Facebook já pedia voluntários para "ajudar a arrumar a casa depois". Aquela pessoa insiste que todo mundo use bolachinhas de papelão sempre que colocar uma garrafa em qualquer superfície disponível. Às vezes você acaba numa festa assim, e tudo bem. Se você nunca comeu um bolo inteiro sozinho bêbado numa festa, você não viveu de verdade.

Mas essas festas sempre acabam de um jeito horrível: com marcas de sapato sujo no tapete do corredor, alguém fica apagando e acendendo a luz, a playlist do Spotify foi sequestrada por alguém que colocou umas faixas de trance sombrias, e o anfitrião está chorando, e três pessoas vestidas de esqueleto saem de um quarto que todo mundo achou que estava trancado com a pélvis da fantasia molhada, e um cara com pintura facial de vampiro está cheirando carreiras na apresentação de MBA do colega de apartamento, e a coisa está ficando feia – às 2 da manhã já tem três traficantes na festa, o chão está coberto de lama, casacos e tampas de garrafa, alguém derrubou uma garrafa inteira de vinho na toalha de mesa, alguém te oferece casualmente ketamina, e a coisa está saindo do controle – você só queria colocar uma fantasia, né, dançar sem ironia ouvindo Thriller, comer uns lanchinhos e colocar umas lápides decorativas de isopor, mas agora a coisa está drasticamente amarga, e você está trancado num apartamento a quilômetros da sua casa, e alguém continua apagando e acendendo a luz, tem mais de uma pessoa chorando e: meu deus. Você está cercado de monstros e rapidamente se tornando um deles.

Talvez esse seja o verdadeiro significado do Halloween. Por isso seu pai nunca te deixou pedir doces quando você era criança, e não porque "parece mendigar". Permita que a escuridão entre um centímetro que seja e os humanos vão abraçá-la totalmente. Olhe para as suas mãos. Elas estão cobertas de sangue. O sangue não é seu e não é de ninguém aqui. Ele sabia. Ele sabia o que você acabaria se tornando. Feliz Halloween, seu animal.

@joelgolby

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