Ajarn Wassana Chuensumnaun e um amigo.
Jamie Fullerton
Tecnologia

Conheça o grupo tailandês de OVNIs que acredita que alienígenas vão nos salvar do Armagedom

O 'portal espacial' onde eles supostamente conversavam com os alienígenas sofreu uma batida policial, mas eles não vão desistir.

Em sua casa no centro da cidade de Nakhon Sawan na Tailândia, Ajarn Wassana Chuensumnan, fundadora do grupo UFO Kaokala, me educou sobre os alienígenas com quem ela conversa regularmente.

Há uma batalha na parede entre recordações budistas e desenhos enquadrados de extraterrestres pilotando espaçonaves elaboradas. Um modelo em tamanho humano de um alienígena cinza cabeçudo, daqueles clássicos, fica no lobby, e as botas prateadas da criatura são cheiradas ocasionalmente por um gato. Cerca de 10 membros do Kaokala com camisetas com desenho de galáxias lotam os sofás, concordando com a cabeça enquanto Wassana discute seu relacionamento de 21 anos com os seres do espaço.

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Há muitos detalhes para digerir, tipo como os alienígenas não definem os sexos, e comem energia em cápsulas “porque têm bocas pequenas”. Não vi nenhuma piscadinha ou risada entre os presentes, com idades variando de 20 a 60 anos. As 50 pessoas que formam o cerne do grupo Kaokala, mais milhares de seguidores deles na internet, levam alienígenas muito a sério. Isso porque em vez de nos destruir estilo Independence Day, o grupo acredita que eles planejam nos salvar da aniquilação.

Wassana, 47 anos, dedicou sua vida a ouvir seus amigos ETs e aguardar os planos deles para salvar a humanidade, mas há pouco tempo a conversa foi grosseiramente interrompida. Em agosto, o local rural sagrado que o grupo Kaokala usava para canalizar as mensagens dos aliens sofreu uma batida das autoridades locais.

Os membros do Kaokala foram obrigados a reagrupar, mas estavam felizes em me levar para a cena da batida para mostrar que eles sobreviveram a esse revés. Afinal de contas, o destino da nossa espécie depende disso. “Quero informar o público que alienígenas estarão aqui para ajudar as pessoas da Terra”, disse Wassana, sob o olhar sombrio de uma pintura de dois alienígenas cinzentos.

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Wassana e sua irmã Somjit Raepeth, 60 anos, dizem que vêm se comunicando com alienígenas de Plutão e um planeta chamado Lokukatapakadikong desde 1998. Segundo elas, os aliens de Lokukatapakadikong são humanoides padrão de cabeça grande cinza: tipo os extraterrestres superinteligentes do Arquivo X. Os alienígenas de Plutão não têm uma forma sólida: são tipo um gás.

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Vinte e um anos atrás, do nada o pai das irmãs disse ter recebido um contato alienígena enquanto meditava. Inicialmente céticas, elas tentaram meditar com ele. “Meu pai recebeu uma onda e passou pra mim – foi como uma linha de telefone sendo trocada”, disse Wassana. “Senti como uma 'energia motivacional' me empurrando.”

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Ukrin Thaonaknathiphithak no lago perto da montanha Khao Kala. O grupo Kaokala diz que ali fica um portal para o espaço embaixo d'água. Imagem: Jamie Fullerton

Quando a linha direta com os ETs foi estabelecida, a conversa se focou na Terceira Guerra Mundial e no apocalipse nuclear. As irmãs ouviram como os ETs queriam falar com os humanos para um dia nos dar a tecnologia para sobreviver a tudo isso, antes de forjar uma “nova geração” de humanos. Isso inspirou a dupla a construir uma comunidade de seguidores para ajudar a passar a mensagem.

Apesar da história improvável, a sinceridade delas se provou muito convincente. Depois de ganhar atenção através do boca a boca em Nakhon Sawan, o Kaokala expandiu sua presença online e realizou encontros públicos, ganhando atenção nacional através da mídia.

Uma comunidade se cristalizou. Manop Ampan, 65 anos, é um ex-oficial de comunicações do governo local, que agora ajuda a comandar as redes sociais do grupo. Krittaya Ketkaewsuwan, uma designer de 30 anos de Bangkok, se juntou ao grupo porque adorava ficção científica e queria muito ver um OVNI. Ela disse que acreditava em “50%” das alegações do Kaokala.

Ploy Buranasiri, 29 anos, outra designer, disse que a espiritualidade foi a porta de entrada dela para o Kaokala. Segundo Wassana os alienígenas escolheram a Tailândia como ponto de contato porque o país tem muitos budistas, que podiam usar a meditação para se comunicar com eles. Além de falar com os aliens através da meditação, Ploy acredita que ela pode ver o “karma das pessoas”, e é ativa no grupo há nove anos. “No começo minha mãe achou que eu estava louca”, ela disse. “Mas expliquei pra ela que não fazemos nada de mau. Só estamos tentando ajudar as pessoas.”

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Ann Thongcharoen, a core UFO Kaokala member, in Nakhon Sawan.

Ann Thongcharoen, do grupo UFO Kaokala em Nakhon Sawan. Imagem: Jamie Fullerton

Outros foram mais fundo no buraco de minhoca. Ann Thongcharoen, 28 anos, que trabalha no restaurante da família em Bangkok, apontava casualmente locais de avistamento de alienígenas como se fossem prédios históricos num passeio turístico. “Aqui foi onde vimos os aliens de Plutão – eles usam trajes sintéticos para andar na Terra”, ela disse enquanto caminhávamos pela montanha Khao Kala: um precipício coberto de vegetação luxuriante a meia hora de carro da casa de Wassana.

UFO Kaokala – Grupo de Coordenação de Alerta de Desastres Kaokala, dando o título completo – tirou seu nome da montanha Khao Kala depois que alienígenas aparentemente disseram a Wassana que ali ficava um portal para outra dimensão. Nos últimos seis anos, os membros se encontram perto das estátuas budistas no topo da trilha para meditar e ver OVNIs.

As evidências de avistamento de OVNIs deles não vão além de fotos borradas do que parecem tampas de panela pairando no céu acima da estátua dourada de Buda na montanha. Enquanto subíamos, Ann insistiu. “Aqui alguém viu um robô alienígena”, ela disse, enquanto a floresta ficava mais densa e os mosquitos começavam a atacar. Ela me disse para tirar fotos do céu, para que eles pudessem dar zoom e procurar espaçonaves mais tarde.

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A montanha Khao Kala, com suas formações rochosas irregulares e borboletas, estava calma e linda durante minha visita, mas recentemente foi cenário de um drama. No meio de agosto, a polícia e oficiais do Departamento Florestal fizeram uma batida no pico. As autoridades disseram que o grupo Kaokala estava invadindo área de floresta protegida ao construir um banheiro e uma estrutura de armazenagem perto das estátuas, e acampando ilegalmente ali. “Se um OVNI descer aqui, melhor ainda”, um oficial disse aos repórteres. “Vamos prender todos eles.”

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Charoen Raepetch, um membro do Kaokala identificado pela polícia como o homem por trás das estruturas na montanha, foi avisado que deve ser acusado formalmente em breve, e o grupo está se preparando para pagar uma multa de até 150 mil baht (cerca de R$ 20 mil). Wassana disse que os principais membros provavelmente vão tentar dividir o valor da multa, se isso realmente acontecer. Eles não dormiram mais na montanha desde a batida, e muito do equipamento deles foi apreendido pelas autoridades.

Walking up to the peak of Khao Kala mountain.

Caminhando até o topo da montanha Khao Kala. Imagem: Jamie Fullerton

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Ukrin Thaonaknathiphithak no local de meditação da montanha Khao Kala. Imagem: Jamie Fullerton

Não é a primeira vez que o Kaokala sofre pressão. Alguns tailandeses usaram as redes sociais do grupo para acusá-los de insultar o budismo ligando a religião a alegações loucas sobre aliens. Outros tinham suspeitas sobre de onde vieram as doações para Charoen fazer as estruturas no pico. Ann aponta que se tornar um membro do Kaokala não custa nada. Há poucos sinais de decadência entre os líderes do grupo que conheci.

“Algumas pessoas acham que o budismo não tem nada a ver com outras civilizações”, disse Ann. “Mas o budismo é sobre o universo, certo? Alguns acham que é só rezar e meditar, mas tem mais a ver com o espaço sideral. Vejo esses comentários, mas tento evitá-los. Não gosto de brigar com as pessoas.”

A batida não impediu o grupo de voltar para a montanha no final de semana após a visita das autoridades. No pico, Manop acenou com as mãos sobre imagens de espaçonaves gravadas numa pedra que eles colocaram perto do imponente Buda dourado. Pequenas pirâmides pretas estavam espalhadas pelo chão e equilibradas em galhos de árvores. Wassana limpou detritos ao redor da área que sofreu a batida; Ann e Ploy relaxaram na sombra de mais estátuas budistas, incorporadas pela tranquilidade da floresta.

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A vibe era mais “excursão de ônibus de final de semana” que “seita do fim do mundo”, e negócios locais sem associação com o grupo estão tirando vantagem do fluxo de obcecados por aliens. Depois de visitar a montanha, fomos até um mercado de Nakhon Sawan para comprar camisetas com desenhos de alienígenas que pareciam teletransportadas de uma rave dos anos 90.

Some Kaokala touches remained on Kha Kala mountain, despite authorities forcing the removal of much equipment.

Algumas pirâmides do Kaokala continuam na montanha Khao Kala, apesar de as autoridades terem removido muito do equipamento deles. Imagem: Jamie Fullerton

O comboio seguiu para uma loja de sobremesas, onde as paredes cobertas de grafite renderam mais selfies. Enquanto tomávamos sorvete de ameixa na casquinha, as irmãs disseram que o espírito do grupo Kaokala continua forte, que eles não estavam preocupados com a batida. Segundo elas explicaram, a comunicação com os ETs não depende de apenas um local – com portal ou sem portal. “Podemos ficar em casa e receber contato”, disse Ann. “Você nunca sabe onde estará na hora da Terceira Guerra Mundial.”

Eles planejam continuar meditando até que os aliens digam como sobreviver ao Armagedom. “Eles vão nos visitar através de diferentes gerações”, disse Wassana. “Antes do desastre nuclear, durante o desastre, depois e no período de restauração. Quando isso vai começar, não sabemos.”

Até lá, a diversão das viagens de final de semana do Kaokala vai continuar. Os funcionários do café colocaram seis tigelas cheias de sorvete na nossa mesa, causando uma confusão de colheres e flashes de celular.

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