Esta matéria foi originalmente publicada na i-D .Na manhã de 10 de dezembro de 1989, milhares de ativistas da ACT-UP AIDS cercaram a Catedral de São Patrício em Nova York. Muitos ficaram fora da igreja repetindo gritos de guerra, enquanto outros deitaram na rua para impedir o trânsito ao longo da 5º Avenida. Outros ainda invadiram a missa das 10h15, uma ação direta contra o então Cardial John O'Connor, que pregava contra a homossexualidade e era contra o uso de camisinha durante a epidemia de AIDS. "Alguns manifestantes se acorrentaram aos bancos dentro da catedral, enquanto outros gritavam ou deitavam nos corredores", relatou o New York Times. "Muitos dos manifestantes foram carregados para fora em macas depois de se recusarem a levantar." Foi exatamente isso que o fotojornalista Brian Palmer capturou enquanto documentava o protesto de São Patrício: um jovem ativista do ACT-UP sendo carregado numa maca por policiais do NYPD. Essa imagem — com outras mostrando protestos pelo direito ao aborto e manifestações contra a violência policial — foram expostas em 'Whose Streets? Our Streets!' New York City: 1980-2000 do Bronx Documentary Center.
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Coletando trabalhos de 38 fotojornalistas independentes, Whose Streets? é um registro único da Cidade de Nova York. As imagens impactantes, que nunca tinham sido exibidas juntas antes, capturam momentos da história moderna quando os novaiorquinos se uniram nas ruas que compartilhavam — seja no Tompkins Square Park ou em Bensonhurst, Brooklyn.As causas das revoltas, comícios e atos de resistência mostrados em Whose Streets? variam. Talvez porque a exposição teve curadoria de novaiorquinos com perspectivas e especialidades variadas: Meg Handler, ex-editora fotográfica do The Village Voice; Tamar Carroll, historiador e autor de Mobilizing New York: AIDS, Antipoverty and Feminist Activism; e Mike Kamber, fundador do Bronx Documentary Center.
Algumas imagens mostram esforços de protesto combinados. A grande rede de ativistas em tempo integral da ACT-UP criou atos altamente visíveis e confrontadores — como a manifestação na Catedral de São Patrício, ou outros envolvendo lápides pintadas com a mensagem "Morto pela Intolerância". Whose Streets? mostra ações como essa, além de respostas espontâneas a casos de violência policial (como a morte de Amadou Diallo, de 23 anos), e decisões judiciais polêmicas (como uma de 1989 que limitou o direito ao aborto conseguido no caso Roe contra Wade).
Whose Streets? apresenta um retrato poderoso desses embates públicos muitas vezes violentos, mas também ilumina as lutas particulares do outro lado desses períodos voláteis. Além do protesto da ACT-UP que parou o trânsito, levando milhares de pessoas para a linha de frente, os fotógrafos também capturaram imagens de funerais, salas de hospitais, famílias e amigos se apoiando diante da dor. A exposição é um registro de uma cidade em fluxo durante duas das décadas mais transformadoras do século 20. Ela mostra novaiorquinos se expressando sobre o que achavam errado, e defendendo o que achavam certo. E em momentos como o nosso — com Trump no poder — a reunião de fotos de Whose Streets? não poderia ser mais urgente, dolorosa e motivadora.
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