O que aconteceu quando fui a uma oficina de 'squirting sagrado'
Foto por Aleksandra Kovac via Stocky.

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O que aconteceu quando fui a uma oficina de 'squirting sagrado'

Fiz uma aula para tentar liberar alguma emoção da minha vagina.

Foto por Aleksandra Kovac via Stocksy.

Esta matéria foi originalmente publicada no Broadly .

"Levante a mão quem já teve uma ejaculação feminina."

Cerca de 50 mulheres estão espalhadas pelo chão, sentadas sobre as toalhas que nos pediram para trazer. Umas oito levantam a mão. Nossa instrutora Christine, que fez a pergunta, balança a cabeça com um ar sábio.

Estamos numa sala quente e abafada num salão comunitário, numa oficina sobre a arte do "Squirting Sagrado". Há uma relação ancestral entre mulheres e água, diz o site do festival Taste of Love, que prometia uma "sessão cerimonial" com o espaço para "explorar nossa natureza feminina, e liberar emoções armazenadas na vagina".

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O festival acontece em Byron Bay, o epicentro australiano de todas as coisas New Age, e eles aceitavam cartão de crédito. Christine é uma dançarina, cantora, compositora, "parteira espiritual" e "guerreira da luz" dinamarquesa, que mora num yurt na ilha de Møn na Dinamarca, então se alguém pode ensinar mulheres curiosas a ejacular, e como fazer isso espiritualmente, provavelmente é ela.

Depois que nos sentamos, Christine começa a falar numa voz suave sobre ejaculação feminina. Prestamos atenção, tentando absorver todos os segredos de squirting dela. "Seu ponto G é uma porta para sua alma", diz ela.

Uma mulher levanta a mão: "O que sai é água ou urina?"

"É água dos grandes tecidos que cercam o ponto G", responde Christine. "Ejaculação feminina é uma questão da conexão e de suas águas sagradas."

Squirting, ou ejaculação feminina, tem sido um ponto de curiosidade intensa por toda a história. O tópico foi abordado pela primeira vez no Ocidente por Hipócrates e Aristóteles, e aparece em textos taoístas do século IV que destacam as propriedades místicas e medicinais do líquido.

No século 19, no entanto, a coisa era menos celebrada. "Richard von Krafft-Ebing — o primeiro 'médico de sexo' moderno — descreve ejaculação feminina como algo relacionado quase que exclusivamente à homossexualidade em mulheres", disse Alex Dymock, professor da Edge Hill University de Lancashire, à VICE. "Isso estava ligado ao medo de pessoas degeneradas, cuja 'fraqueza' se devia a aberrações sexuais."

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"Sinta as partes ásperas. Sinta as ondulações na sua vagina."

Não mais: a palavra "squirt" agora é o terceiro termo pornô mais buscado na Austrália, e a oficina é parte de um movimento global para ajudar mulheres a explorar sua sexualidade e espiritualidade. Atribuir espiritualidade a experiências sexuais se tornou um movimento, ou indústria, com festivais e aulas pelo mundo oferecendo desde "Dança Eros" e "Ioga Yoni" a "Arte do Spanking Zen".

Enquanto isso, aqui no "Squirting Sagrado", estamos tentando imitar Christine, que está girando os quadris e nos instruindo a sentir nossa preciosa energia feminina. Momentos depois, ela está no chão, nua fora sua saia longa e esvoaçante enrolada até as cochas. Ela desliza dois dedos para dentro da vagina, explicando como encontrar o ponto certo para estimular.

"É diferente para cada mulher", ela explica. "Agora tentem!"

Em menos de um minuto, a maioria das mulheres já se despiram. Christine continua seus movimentos, descrevendo o que está fazendo. Depois de um tempo ela começa a fazer algo que só pode ser descrito como um guincho; aí ela inclina a pélvis e, com um grande sorriso no rosto, libera uma fonte de sua vagina, que — sem piada — espirra nas mulheres da primeira fileira.

As mulheres gritam e riem. O fluído continua saindo. Uma mulher da primeira fileira está com água sagrada nas asas de anjo tatuada em suas costas.

"É uma liberação!", diz Christine.

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Em seguida, uma conversa de dois minutos sobre técnica, e de repente é nossa vez. Cinquenta mulheres começaram a masturbar a área ao redor do nosso ponto G; algumas deitadas, outras agachadas ou de joelhos. "Uau!" uma mulher grita levantando a mão, enquanto as contas de seu colar balançam em volta do seu pescoço. "Primeira da classe!" alguém grita em resposta.

Foto por HOWL via Stocksy.

Nessa hora eu já tinha tirado minhas roupas. Com a sala esquentando, foi um alívio. Mas minhas medidas tornavam meu ponto G difícil de alcançar: tenho mais de 1,80 metro e um torço longo.

"Sinta as partes ásperas — vá além", Christine nos encoraja. "Sinta as ondulações na sua vagina." Ela chama mulheres para a frente e as guia no processo, cantando e fazendo barulhos com a boca como uma mãe pássaro. Então ela joga uma caixa de luvas de borracha e óleo de coco no centro da sala, instruindo casualmente que a gente "encontre uma parceira e façam isso uma com a outra".

O barulho na sala vai aumentando. Algumas mulheres gemem, outras riem. "Mantenham a voz suave", lembra Christine, acrescentando que as bocas das mulheres se relaciona com suas vaginas. "Se sua boca estiver macia, sua vagina vai se liberar."

Outras mulheres parecem gozar, posso ouvir seus gemidos semiconscientes pontuando a sala abafada. Outras continuam tentando fazer acontecer, como se estivessem num tipo de corrida. Do meu lado, duas mulheres se revezavam tocando uma a outra: uma deita e a outra entra com os dois dedos na luva de borracha. Uma diz que sentiu o orgasmo, mas infelizmente não havia nenhum líquido.

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Se ejaculação feminina "existe", na falta de uma palavra melhor, ou não é tema de debate entre especialistas há décadas, com apenas alguns estudos procurando pela mecânica disso.

Em 2015, uma pesquisa publicada no The Journal Of Sexual Medicine investigou as secreções de sete mulheres que diziam emitir cerca de um copo de fluído durante o sexo. Depois de analisar o fluído, os pesquisadores descobriram que o líquido das sete consistia principalmente de urina — apesar de que em cinco amostras também havia um pouco de enzima antígeno (PSA), localizada na próstata do homem e nas glândulas de Skene nas mulheres.

Então, quanto se a ejaculação feminina é apenas xixi, a resposta é sim. E não também. Mas principalmente sim.

Claro, ninguém está pensando nisso enquanto a segunda hora termina, e Christine pega seu violão para cantar uma música em sua língua nativa. Enquanto ela passeia pela sala e toca, as mulheres terminam suas tentativas de ejacular. Um casal do meu lado se beija, chora e ri ao mesmo tempo.

Quando Christine termina a música e as cortinas se abrem, todo mundo senta reto e se veste, prontas para ir embora. "Isso foi muito foda", diz uma participante, apertando a mão dela em gratidão. "Você é uma inspiração. Obrigado por compartilhar o que sabe."

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