Quando o usuário compra drogas ilegais, ser enganado é meio que um ritual de iniciação: todos já passaram por isso pelo menos uma vez. Talvez comprando Carambar em vez de maconha, um grama de cocaína que na real era farinha… ou talvez só sendo enganado sobre a qualidade e peso da compra. Enquanto a maioria dos traficantes não engana os clientes – o que é ruim para os negócios, já que o objetivo é construir uma base fiel de compradores – às vezes eles fazem isso por razões que variam de pobreza a vingança. Toda cidade tem uma certa área ou bairro onde o pessoal passa a perna em turistas inexperientes, e os golpes variam muito.
Mas como um traficante sabe que está lidando com um otário? Por que eles decidem enganar certos clientes, e como eles fazem isso? A VICE França falou com quatro traficas – que admitiram livremente ter enganado clientes que eles chamam de pombas (a gíria em francês para “otário” ou “burro”) de vez em quando – para aprendermos com eles.Os nomes foram mudados para proteger os entrevistados.Bastien cultiva maconha em casa há décadas. Produzir a erva permite que ele consuma de graça, e aumente a renda todo mês vendendo para os colegas do trabalho (ele trabalha com seguros). Ele ri quando lembra de ter vendido “um grama por 21 euros” (na França, 2 gramas de maconha geralmente saem por 10 euros).VICE: Na sua opinião, quem é um bom otário?Bastien: Alguém que não sabe nada sobre o produto, que não vai pesar depois e não tem muitos contatos.Como você escolhe seus otários?Geralmente pessoas com muita grana, e que estão no mesmo círculo profissional que eu – que não conhecem muitos traficantes e que geralmente têm acesso à maconha de baixa qualidade por 10 euros o grama. Então quando veem o que estou oferecendo, eles nem prestam atenção no preço.Como você engana esses caras?Acho que eles nem desconfiam que estão sendo enganados, porque falo o preço de cara. Essas pessoas não sabem nada sobre o processo, então acertamos as coisas de um jeito muito direto – quase honesto.
Bastien (31 anos), traficante de maconha
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Assista: Como tratar traficantes de maconha, segundo um traficante de maconha
Nathan tem um golpe diferente e mais arriscado. Ele nunca foi um traficante de verdade, porque nunca teve como comprar drogas em grande quantidade. Na verdade, ele geralmente precisa de dinheiro para financiar o próprio uso. Então ele engana estranhos que conhece “por acaso” – vendendo farinha em vez de cocaína.VICE: Na sua opinião, quais os traços de um otário?Nathan: Um otário é um novato – e acima de tudo alguém que não conheço, que não vai me encontrar depois. É alguém que vai confiar em mim, mesmo não me conhecendo realmente – alguém que não sabe porra nenhuma sobre tráfico.Como você escolhe sua presa?Honestamente, são eles que acabam me escolhendo! São estranhos que me abordam à noite, nas ruas ou por mensagem no celular, para fazer uma compra. Não engano qualquer um. Geralmente viso gente mais jovem, fisicamente mais fraca que eu, que não vai tentar me atacar quando perceber que foi enganado.Você pode contar mais sobre seus métodos?Encontro essas pessoas num lugar público, geralmente na rua. Em casa, preparo um papelote com farinha suficiente para parecer um grama de cocaína; colocando dentro de vários sacos para a pessoa não sentir o cheiro ou ver o produto direito. Quando encontro o otário, faço pressão dizendo que vi a polícia ali perto, que temos que fechar negócio rápido, e quando me dão os 80 euros, saio fora o mais rápido possível e bloqueio o número. É emocionante. Pra mim, eles não deveriam ter confiado num estranho tão rápido. Acho que eles são parcialmente responsáveis pela situação – e de certa maneria, têm sorte que só vendo farinha pra eles: quando você compra desse jeito, de uma pessoa aleatória, você pode acabar com algo muito pior que farinha no seu nariz.

Nathen (27 anos), traficante de cocaína
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Serena (23 anos), traficante de maconha
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