Para DJ Marfox, a música das periferias está conectada

DJ Marfox

Em 2012, o selo lisboeta Príncipe Discos fazia seu primeiro grande lançamento: Eu Sei Quem Sou, que também era uma estreia para seu autor, o DJ português Marfox. Entre os ritmos frenéticos e inspirados pelo kuduro e kizomba de Angola, Marfox, a Príncipe e a “batida” — nome que se deu ao gênero de música eletrônica afro-portuguesa acelerada, surgida entre imigrantes e seus descendentes nas periferias de Lisboa — cresceram juntos daí pra frente e acabaram, cada um a seu tempo, conquistando o mundo. Marfox já se apresentou em diversos cantos da Europa, no festival do MoMA em Nova York e, nessa sexta (23), chega ao Brasil pela segunda vez para se apresentar na festa Grave Mundial, no Orfeu, em São Paulo.

Mas esse estouro não aconteceu antes que Marfox e a Príncipe tivessem que lidar com conflitos em sua própria cidade natal. Tal como as periferias também estão à parte do centro de Lisboa, a batida também foi sendo colocada à margem dos sons mais populares na capital portuguesa. Em entrevista com Marfox por e-mail, ele conta que é isso o que une os ritmos negros e periféricos em muitos lugares do mundo: o poder de expressar o cotidiano de um meio social que sempre está à margem.

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Leia o restante da entrevista abaixo e cole no Orfeu na sexta-feira para curtir um Grave Mundial com DJ Marfox, Dago Donato, Viní e UBUNTO.

Noisey: Quando você começou a fazer música? Nessa época, o que te inspirava?
DJ Marfox: Sempre ouvi um pouco de tudo, mas o batida e a sua variante lisboeta entre 2001/2002, criada pelas mãos do DJ Nervoso, serviram e servem até a data de hoje de inspiração.

Qual o contato mais antigo que você lembra de ter tido com ritmos africanos, como kuduro, kizomba etc?
Desde de sempre, não consigo precisar mas o aparecimento do kuduro vindo de Angola na minha vida foi uma mudança drástica.

Como foi formada a Príncipe Discos? Você esteve envolvido com o selo desde o começo?
A Príncipe nasce para dar uma estrutura mais formal à música em Lisboa em relação ao mercado, que não conseguia perceber que existia na periferia uma nova música afro-portuguesa. Em 2007, foi feito o primeiro contato e daí em diante as coisas foram fluindo com certa naturalidade, até chegarmos à concretização do projeto com o lançamento do primeiro vinil e da iniciação de uma residência regular no Clube Musicbox, no centro de Lisboa.

Quando você notou que o som da Príncipe (e a batida num geral) estava saindo de Portugal e se popularizando no resto do mundo?
Depois dos primeiros discos conseguirem cativar a atenção não só de promotores, mas também da própria mídia especializada em música. Acredito que grande momento para mim foi quando a batida tocou no MoMa PS1 pela primeira vez, em agosto de 2014.

De que forma a batida é usada como democratizadora do espaço em Lisboa? O gênero traz à tona questões sociais e raciais?
A batida, sendo uma música quem vem das periferias de Lisboa, foi sendo colocada à parte, tal como as periferias em Lisboa estão à margem do centro da cidade. O feito da batida foi desafiar o que estava pré-estabelecido e normalizado no centro de Lisboa.

Rolam muitos ritmos de alto BPM feito por negros em muitos países – a batida, o footwork norte-americano, nosso funk 150 BPM. O que você acha que esses movimentos têm em comum?
O que existe em comum é que esses ritmos vêm de periferias super desfavorecidas e acabam por ser uma forma de expressividade do cotidiano desses meios sociais. Falando um pouco sobre a batida de Lisboa, a música foi evoluindo juntamente com a dança, porque em cada nova faixa os bailarinos de kuduro/batida inventam um novo passo. Acredito que tanto no footwork como no funk brasileiro se dê esse mesmo fenômeno.

Você já se apresentou no Brasil? Acredita que a colonização portuguesa traga semelhanças entre o Brasil e Portugal, para além da língua?
Será a minha segunda visita ao Brasil, desde já posso dizer que o Brasil é um país lindíssimo e estou ansioso por voltar passados quatro anos. Acredito que lusofonia estará sempre culturalmente ligada.

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