Ilustração por Julia Scheele.
Até julho deste ano, eu dividia um flat em Birmingham com dois primos, Lorenz e Alessandro. Quando precisei me mudar de uma hora para outra, fiquei preocupado em deixar os dois na mão, mas meu timing não poderia ter sido melhor. “Estamos nos mudando para a Romênia para abrir um bufê”, eles disseram. O plano me pareceu meio estranho, além de completamente inviável comercialmente, mas eles me garantiram que tinham tudo planejado. Eles conheciam um cara que gerenciava um negócio similar em Bucareste.
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Em setembro, recebi uma mensagem dos primos, pedindo que eu ajudasse a escrever um anúncio para o negócio deles. “Claro, fale um pouco mais sobre ele”, escrevi. “Bom, é um segredo”, respondeu Alessandro. É complicado escrever sobre segredos, eu disse, e, depois de alguma persuasão, ele revelou que não era exatamente um bufê que os dois tinham aberto, mas um estúdio onde garotos e garotas tiravam a roupa e se masturbavam para pessoas de outras partes do mundo via webcams. Eu disse aos dois que não me sentia exatamente confortável em escrever um anúncio sobre esse tipo de coisa. Tudo bem, eles disseram, e depois me convidaram para visitá-los. E foi exatamente o que eu fiz no começo do mês passado.
Estúdios de webcams são para os masturbadores solitários o mesmo que os bordéis são para caras que curtem pagar por sexo ao vivo. E se a internet tivesse um Distrito da Luz Vermelha, esse lugar seria a Romênia, onde atualmente há cerca de dois mil estúdios em funcionamento. Kazampo, o estúdio dos primos, é a mais nova adição a esse grande puteiro digital. Trata-se de uma casa numa rua de Bucareste, num prédio modificado para acomodar mais de 11 “modelos”, que se masturbam em frente a uma webcam para, principalmente, norte-americanos solitários e carentes.
Eu estava bastante ansioso durante a viagem de trem de 21 horas de Belgrado a Bucareste. Esperava encontrar um antro de depravação — com garotos e garotas de olhar trágico e roupas sumárias, usando drogas e dançando ao som da música ocidental de balada que faz sucesso na Romênia (Steve Aoki?). Mas o que me recebeu na chegada foi decepcionantemente normal.
Cheguei ao meio-dia: hora do almoço. Só que o almoço no estúdio acontece às 21h, já que 90% dos “membros” pagantes (o mercado sexual adora um eufemismo, não?) vivem nos Estados Unidos, o que significa que 90% da clientela do estúdio está a sete ou 12 horas de diferença no fuso horário. O horário de pico no Kazampo é entre uma e sete da manhã.
Isso também sugere que os norte-americanos estão começando a terceirizar boa parte de seu trabalho sexual para a indústria romena de webcams — homens solitários estão trocando as mesas dos clubes de striptease por computadores no próprio quarto. O que faz sentido, pois é mais barato, privado, confiável e ainda mais sob medida: os membros podem verificar suas modelos favoritas sempre que quiserem. E isso é algo mais ou menos destacado da realidade, o que significa que eles não precisam ir a lugar nenhum e nem interagir com ninguém cara a cara. Se o Tinder é como pilotar uma moto de corrida sem capacete, os sites de webcams são como pedalar uma bicicleta com rodinhas.
Camelia, a namorada de Alessandro e funcionária/cafetina do estúdio, jogando Farmville.
Fora do horário comercial, a casa é uma nuvem de fumaça de cigarro e baladas dos anos 1980. Ninguém é de falar muito e eles passam muito tempo sentados na cozinha, jogando Farmville no computador comum da casa ou Clash of the Clans no celular. Como não tinha muita coisa acontecendo quando cheguei, Lorenz me fez assistir a uma entrevista de meia hora com Jose Mujica, o presidente do Uruguai. Mujica ficou preso até 1985 por suas atividades com a guerrilha comunista. Desde então, ele foi de inimigo do estado a ateu favorito do Papa Francisco e um marxista sul-americano famoso por estar prestes a legalizar a maconha.
Lorenz ficou em silêncio durante toda a entrevista. Seu rosto está sempre numa expressão pensativa e tensa, como um santo católico em profundo conflito. Quando Mujica terminou sua crítica ao capitalismo ocidental, Lorenz começou a falar sobre seu maior desejo: uma revolução socialista violenta.
Os primos nasceram em uma família privilegiada e cresceram a aproximadamente 16 mil quilômetros de Bucareste (eles pediram para que seu país de origem não fosse especificado, com medo de serem identificados). Quando criança, Lorenz acreditava firmemente nas políticas de extrema-direita de seus pais. Como estudante de uma das melhores universidades da capital de seu país, ele “começou a entender as diferentes realidades da vida” depois de se misturar com garotos de classes mais baixas e ler e refletir por si mesmo.
Depois de formado, ele deixou a Europa para aprender a arte da autossuficiência. Ele conta que foi a experiência de se juntar à “classe trabalhadora”, no que ele descreveu como “um país realmente socialista”, que causou sua radicalização. Ele viu que os ricos prosperam com o sofrimento e a pobreza dos menos abastados. “Eu vi que se você estiver disposto a compartilhar — ou seja, trabalhar junto por um interesse comum — as coisas podem ser realmente boas”. Resumindo, ele encontrou o socialismo.
“Se todo mundo se unisse, as pessoas poderiam mudar as coisas”, disse Lorenz. Dada sua paixão pela revolução, perguntei por que ele não estava atrás das barricadas. Ele respondeu com um pragmatismo de cafetão: “Se eu tentasse viver minha vida de acordo com os meus ideais, não acho que seria possível. Sou só uma pessoa”. E ele se arrependia de ter dado as costas ao seu país? “Se eu tivesse ficado em casa, isso” ele disse, apontando para seu escritório mobiliado na Ikea, “nunca teria acontecido”.
Acho que isso, provavelmente, queria dizer que ele nunca teria a oportunidade de se mudar para um país onde o salário médio é de menos de €190 e onde as pessoas estão dispostas a fazer quase qualquer coisa por dinheiro.
Perguntei se ele via alguma contradição entre seus ideais socialistas e sua decisão de entrar para o equivalente digital da profissão mais antiga do mundo. Ele não entendeu a pergunta. Apontei que, como dono de um estúdio de webcams, ele é o dono dos meios de produção e que as modelos são os trabalhadores oprimidos. Ele pensou um pouco, antes de explicar que não, ele não se encaixava nessa visão. “Não somos os gerentes, as modelos não são empregadas”, ele explicou. “Elas nos pagam parte de seu lucro em troca das instalações que ocupam. Somos facilitadores.”
Na verdade, Lorenz não está nessa pela grana: “Isso não é estritamente um negócio”, ele disse, “é algo que vou gostar de fazer e usar para me tornar uma pessoa melhor. Não quero ficar rico, só quero não precisar me preocupar com dinheiro”. O que, tenho quase certeza, é a definição de ser rico.
Raffi, o cachorro do estúdio Kazampo.
Se Lorenz é o idealista, Alessandro é o prático. Enquanto fazíamos compras um dia, ele me explicou a cartilha crua da economia de um estúdio de webcams: “conheço um estúdio que tem 15 modelos, todo homens”, ele disse. “A cada período, o lugar retorna mais de €25.000 (por volta de R$79.400). Um período neste negócio são duas semanas. Agora, pense que esses caras fazem metade do que as garotas fazem; imagine que você tem 15 garotas trabalhando para você — isso significa 50 mil a cada duas semanas. Esse é meu sonho.”
Enquanto terminávamos nossos cigarros do lado de fora do supermercado, uma garota passou por nós e minha aula foi da matemática para a estética: “Essa garota, o rosto dela — ela pode fazer muito dinheiro. Eu olho para o rosto dela e vejo grana”.
De volta à casa, vi livros de autoajuda espalhados por toda parte; a biografia de Richard Branson; Como Ser um Milionário em Sete Anos, escrito por um mago nas finanças alemão — esse tipo de coisa. Lorenz pode ter entrado nesse jogo por um conjunto confuso de razões espirituais, mas os olhos de Alessandro estão no prêmio. Nenhum deles parecia motivado por tesão. Com o tempo, Alessandro vai querer deixar o Kazampo nas mãos de um gerente e perseguir outros empreendimentos, e Lorenz me prometeu: “Não vamos ter uma atitude de cafetão. Para as modelos e para nós, isto é só um trabalho. Como nossas trabalhadoras, elas merecem respeito”. Para este fim, Alessandro contratou sua namorada romena, Camelia, como funcionária/cafetina. Nas palavras dele: “É bom ter ela por perto. Se as modelos saem da linha, ela grita com elas, tudo volta aos eixos e eu não fico sendo o cara mau”.
Apesar da visão meio distorcida do que é ser o cara mau, os primos esperam que o estúdio inspire algumas pequenas mudanças dentro da indústria romena de sexcams. Por exemplo, os dois fazem questão de receber apenas 40% do lucro dos modelos. No resto de Bucareste, porcentagens entre 60 e 75% são normais. Eles falam sobre isso como se fosse um ato de caridade. Na verdade, isso é uma necessidade comercial; há tanta gente fazendo isso na Romênia — e os estúdios são tantos — que é difícil encontrar modelos para um novo estúdio.
Tão difícil, na verdade, que o Kazampo só tinha três modelos trabalhando quando visitei o lugar, no começo de novembro. Oito das 11 estações de trabalho estavam desocupadas.
Uma das salas do Kazampo.
Essas estações de trabalho lembram algo entre um quarto de adolescente e uma cabine privativa num clube tosco de striptease. Cada sala tem uma cama de frente para um computador e conta com o real significante do erotismo: uma garrafinha de desinfetante. As paredes atrás da cama são pintadas de rosa e cobertas com tiras de papel de parede com motivos românticos ou outras coisas igualmente açucaradas. As outras paredes — aquelas que a câmera nunca mostra — são deixadas nuas.
Lorenz estava envergonhado com o trabalho meia-boca feito nos quartos, mas se orgulhava de um que contava com uma barra de pole dance. Os antigos donos também tinham um estúdio e esqueceram uma sala equipada quando saíram. Isso aparentemente foi uma boa para os primos, que ainda investiram num globo de espelhos e numa máquina de laser para o quarto. Não cheguei a conhecer propriamente a garota que trabalhava lá, mas sempre ouvia dance music quando passava em frente à sala.
Numa tentativa de preencher as salas vazias, Alessandro tem viajado regularmente para Belgrado — onde pouca gente ouviu falar desse tipo de negócio — para tentar recrutar rostos novos. A popularidade relativa da carreira como modelo de webcam na Romênia tem suas raízes nas experiências do país sob o comunismo, então, a capital sérvia parece uma boa cidade para captar modelos de outros países do antigo Bloco Oriental. Belgrado era a capital do que costumava ser a Iugoslávia comunista, que se separou de Moscou em 1948. Sua experiência de comunismo foi de prosperidade cultural e econômica, e até hoje é possível encontrar retratos de Josip Tito, o ex-líder do país, na sala de estar das casas — ou até em ocupações anarquistas.
A Romênia, por outro lado, não se livrou do jugo russo tão rápido. Depois da tomada comunista no final da Segunda Guerra Mundial, várias empresas “SovRom” (soviéticas e romenas) foram estabelecidas para gerar fundos para a reconstrução, com as duas partes dividindo igualmente os lucros. No entanto, os empreendimentos foram pensados principalmente para garantir acesso soviético ao petróleo, gás natural, minério de ferro e urânio romenos — um acesso explorado por uma década, drenando o país de seus recursos, até que as autoridades romenas dissolveram as SovRoms entre 1954 e 1956.
Então, quando as coisas finalmente começaram entrar nos prumos na década de 1980, o Partido Comunista romeno decidiu foder com seus cidadãos. A produção de alimentos, por exemplo, nunca foi suficiente, mas ainda assim, o secretário geral Nicolae Ceaușescu forçou a população a subsistir num racionamento de fome, enquanto construía o prédio ironicamente batizado de “Palácio do Povo”. Ainda hoje, o palácio mantém o recorde mundial de maior prédio administrativo do mundo.
Depois de quase meio século de pobreza, não é difícil entender por quê — 24 anos depois da execução de Ceaușescu pelo pelotão de fuzilamento — muitos romenos ainda estão bêbados demais com o capitalismo para fazer qualquer coisa produtiva dele. Hoje, eles fetichizam o dinheiro e torram tudo que têm.
Marius e Anica — namorados e modelos no Kazampo — me disseram que tanto os jovens quanto os velhos romenos não pensam no amanhã. Quando uma garota ganha seus primeiros €1.000 (um pouco mais de R$3.000) como modelo de webcam, ela não economiza para pagar o aluguel — ela gasta tudo num vestido caro e perfume chique.
Como um filho da revolução, Marius, 24 anos, estava no exército antes de se tornar modelo, mas o salário era tão ruim que ele costumava fazer bicos no setor privado nos dias de folga. “Neste país — especialmente neste negócio — as pessoas não pensam no futuro, só no que podem ter hoje.” Então, ele gasta todo dinheiro que consegue.
Marius dirige uma pequena BMW, considerada um carro esportivo quando saiu de linha em 1993. Agora, o motor engasga e tosse ao menor toque no acelerador graças a um exaustor rachado — nunca sobra dinheiro para consertar. Mas o carro combina com Marius; em outra vida, ele poderia ser um piloto de rali. Marius dispara pelas ruas de Bucareste como se estivesse jogando Need for Speed, desviando de bondes vindo no sentido oposto e cortando pelo meio do tráfego.
Dirigindo por Bucareste com Lorenz e Marius.
Quando não estão torrando tudo em sapatos e carros, os romenos em geral usam o trabalho como modelo de sexcam para financiar sua educação. Anica tem um diploma em Gestão de Turismo, mas nenhum trabalho relacionado a isso renderia mais do que atuar como modelo de webcam. Mas ela me disse: “Esse trabalho é comum, mas é ainda mais comum transar por dinheiro”. O ramo em questão nunca a atraiu.
Pergunto a Anica e Marius se eles nunca pensaram em atuar juntos — já que isso costuma render um bom dinheiro. Os olhos de Marius se iluminam, até encontrar os dela. “O dinheiro não é o suficiente para quanto você está machucando a si mesmo”, ela disse, sua descontração repentinamente ausente em sua voz. Mudo de assunto e pergunto como ela entrou para o ramo.
Anica não começou fazendo atos eróticos solo através de um cabo de fibra ótica. Ela iniciou a carreira sendo paga apenas para conversar com os membros de um site. Estranhamente, o dinheiro que ela faz agora com performances eróticas não é muito melhor do que o que ela fazia no começo.
O pão-com-manteiga da renda de uma modelo vem dos encontros “privados”. Numa sessão privativa, os membros pagam $2 (cerca de R$4,50) por minuto num chat com a modelo. A metade disso normalmente vai para o site de hospedagem, de 40 a 75% vai para o estúdio, e as modelos ficam com 60 a 25 centavos por minuto.
A chave, mesmo para as modelos eróticas, é manter as roupas pelo maior tempo possível — a ejaculação, diferente do que se pode imaginar, não é tanto uma prioridade para os membros. A maioria deles são homens divorciados, procurando um pouco de companhia naquele espaço de tempo que costumava ficar entre o Downton Abbey e o sexo monótono. Pela descrição de Anica, modelar é quase como trabalhar em vendas: faça muitas perguntas, mostre interesse pelo que eles dizem e eles vão te amar para sempre — ou até o dinheiro acabar. No fim, o cliente pode até pedir que a moça tire a roupa, depois elas costumam se deitar na cama e pensar na Romênia.
Fazer de $15 a $36 (de R$34,60 a R$83) por hora não seria desprezível em circunstâncias normais, mas dada a natureza do trabalho, é bom que existam alternativas de receita para as modelos.
A primeira delas é a gorjeta. Os membros podem dar gorjetas às modelos dentro e fora de chats privados, para tentar conseguir uma emoção extra. Quando trabalhava em outro estúdio, Marius compartilhava um quarto com uma das modelos. No final do turno, ela sempre esquecia seu copo de água na sala, como aquele colega de apartamento que sempre deixa o prato sujo na pia. Numa noite, um cliente ofereceu uma generosa gorjeta para que Marius urinasse em frente à câmera. Ele achou o pedido meio estranho, mas não viu mal nisso, então procurou por alguma coisa onde mijar na sala, e lá estava — o copo.
Há também o Skype. O Skype permite que as modelos fiquem com 100% do lucro, contornando os estúdios e os sites. Elas também ganham mais por minuto, dizendo aos clientes que conversar fora do expediente é mais caro. Os sites têm regras contra isso; as modelos são proibidas de compartilhar informações de contato com os clientes — o que não quer dizer que isso não aconteça, além de ser muito rentável para as modelos.
A sala de trabalho de Marius.
A Anica me contou sobre um cliente chamado Clarence. Clarence é um administrador sênior de uma universidade norte-americana. Ele ganha $15.000 (cerca de R$34.500) por mês e está tão apaixonado por Anica que voou para a Romênia na primavera para encontrá-la pessoalmente. Ela sempre foi honesta com seus clientes, então levou Marius ao encontro e o apresentou como seu namorado. Ela também explicou ao admirador que, mesmo ele sendo seu “melhor amigo” (talvez não tão honestamente assim), se ele fizesse algo a seu namorado real, ela cortaria a garganta dele. Implacável, Clarence continua a colocar $1.000 por mês num cartão de crédito que enviou a Anica, juntamente com um iPad e qualquer outra coisa que ela pedir.
Nessa indústria, é fácil apontar que os donos de estúdio e membros dos sites usam a relativa pobreza das modelos para explorá-las sexualmente. E usam mesmo, o que é antiético, para dizer o mínimo. Mas as modelos também exploram a solidão e a frustração de seus clientes do outro lado do mundo — o que Anica não nega: “Claro que me sinto culpada, mas preciso do dinheiro”, ela explica.
Marius conhece histórias de membros apaixonados ou viciados que gastaram tudo para manter modelos em chats privados por noites inteiras, todos os dias. Ele também contou a história de um membro que usou o crédito de outras pessoas para manter uma modelo num chat privado todas as noites. Mas quando o dinheiro acaba e os membros imploram por algum tempo extra, as modelos de sucesso geralmente se mantêm fortes e recusam entrar em contato, até que eles possam pagar novamente. Pode soar cruel, mas as modelos precisam comer.
Mas nem tudo é tristeza e exploração. Toda noite, Camelia e Anica preparam o jantar para os modelos, os donos e para mim — era o momento de destaque dos meus dias lá. Num desses jantares, Marius me disse: “Ei, olha a casa nova do meu amigo”, me passando seu celular. Era a foto de uma casa de cerquinha branca, bem ao estilo norte-americano. “Ele é um membro?”, perguntei. “Não, é meu amigo”, ele respondeu. Marius foi o primeiro modelo de webcam com quem esse cara falou; agora a relação deles é completamente casta.
Com quase 30 anos e vivendo no sul dos Estados Unidos, o amigo de Marius ainda não se assumiu para os pais, mas Marius está ajudando e apoiando ele durante o processo. Embora o relacionamento deles não seja mais comercial e sexual, o amigo de Marius tenta enviar algum dinheiro para ajudá-lo sempre que pode, mas Marius insistiu que a amizade deles vai continuar mesmo se o dinheiro parar de chegar.
Os primos não são os únicos estrangeiros gerenciando um estúdio desses em Bucareste. A internet está cheia de pessoas dos Estados Unidos e Europa Ocidental procurando por conselhos de como montar um estúdio na Romênia, e muitos estúdios são financiados por dinheiro estrangeiro. Não há nada particularmente glamoroso no negócio, mas o retorno do investimento pode ser fenomenal. Num país onde o PIB per capita é de humildes R$19.000 por ano, uma modelo talentosa pode gerar quase a mesma renda num mês.
Oficialmente, o governo romeno não é muito fã do entretenimento adulto. A lei exige que todo site pornô aberto no país seja protegido por senha e muitas leis foram propostas na última década para permitir o bloqueio de sites adultos. Extraoficialmente, muito investimento é feito na infraestrutura de telecomunicações do país e agora a Romênia tem a maior velocidade de download entre as nações do G20. Gostando ou não, as webcams são uma ótima maneira de injetar capital estrangeiro na Romênia e isso não vai mudar até que apareça uma alternativa melhor.
Os nomes foram mudados para proteger a identidade dos indivíduos mencionados na história.
Edição (09/12/13): Uma versão anterior deste artigo não deixava clara a natureza da relação pós-Segunda Guerra Mundial entre União Soviética e Romênia. O parágrafo em questão foi revisado para fornecer mais detalhes.
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