FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Todas as loucuras que acontecem em zoológicos e o público não sabe

Macacos fujões, shows de fantoches com ratos congelados e grandes felinos criados em casa: as histórias mais estranhas de tratadores de zoológicos.
Hannah Ewens
London, GB
O Zoológico de Springfield (screenshot: The Simpsons / Fox).

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

A decência dos zoológicos britânicos está sendo questionada. Foi revelado em fevereiro último que um zoológico em Cúmbria — que desde então não conseguiu renovar sua licença — teve 500 animais mortos em menos de quatro anos. Ano passado, o mesmo zoológico foi multado por problemas de saúde pública e segurança depois da morte de Sarah McClay, 24 anos, atacada por um tigre-de-sumatra.

Publicidade

Claro, esse é um exemplo de zoológico com um péssimo tratamento dos seus animais, mas isso não significa que seja o único culpado por fazer os bichos sofrerem. Apesar da nossa rica história em enjaular criaturas fofas para que as pessoas paguem para vê-las, críticas aos zoológicos não são algo novo — no começo dos anos 90, os zoológicos do Reino Unido estavam passando por uma crise, sofrendo com uma queda significativa no número de visitantes porque ¾ dos britânicos eram contra manter animais em cativeiro.

Pensando nesse interesse público e sempre dispostos a ouvir histórias bizarras, falamos com pessoas que trabalham — ou trabalhavam — na indústria de zoológicos do Reino Unido, para saber o que o público não vê nos zoológicos.

ANIMAIS EM FUGA

Trabalhei num zoológico de conservação, onde o principal objetivo era fazer os animais se reproduzirem e depois devolvê-los à natureza. Mas a mão de obra não era suficiente, então éramos treinados em várias coisas no caso de precisar correr para ajudar em algum lugar. Eles também não tinham muito dinheiro, mas em vez de investir nos animais ou nos funcionários, os donos começaram a gastar em atrações que atraíssem mais visitantes. Para mim, isso não fazia sentido.

Os macacos pequenos sempre escapavam e, claro, quando um animal escapa o zoológico tem que ser fechado, porque as pessoas vão tentar fazer carinho nele e acabar sendo mordidas. Então a gente precisava levar todo mundo para salas trancadas. Um dia, macacos escaparam e estavam correndo por todo lado, pulando em tudo, e eu estava no rádio tentando chamar os outros funcionários para me ajudar.

Publicidade

Mas a coisa mais bizarra que aconteceu foi quando um leão conseguiu entrar na parte da jaula onde o tratador ficava para alimentá-lo, e lembro que fiquei trancada na loja de lembranças por um bom tempo.

– Sandy, 25 anos

PÁSSAROS TRANSÕES

Pouca gente percebe como animais podem ser descontrolados no quesito sexual. Tínhamos um pássaro que sempre transava com a minha cabeça quando tinha chance. Outro pássaro gostava de fazer barulhos idiotas e se esfregar no meu ombro, depois gozava na minha manga. Ele nem era tão grande assim, só um filho da puta selvagem, mas como era bem manso, podíamos levá-lo com a gente quando ele estava calmo. Acho que todos os funcionários tinham cicatrizes no queixo por causa daquele puto — ele tinha esporas bem afiadas. Lembro uma vez em que ele ficou excitado na mesa da recepção e gozou no balcão inteiro. Ele tinha uma cara de orgasmo muito engraçada — as pupilas dele se dilatavam e encolhiam muito rápido.

A maioria dos estabelecimentos em que trabalhei contratavam mão de obra com menos de 18 anos, então ninguém tinha qualificação, e ainda assim você ficava responsável por algumas das espécies mais raras do mundo. Tudo isso por uma merreca de salário. Com tanta molecada trabalhando ali, a situação saía do controle às vezes.

– Polly, 35 anos

FOFURA ILEGAL

Me deram um gato selvagem de tamanho médio para cuidar em casa, o que certamente ia contra o Ato de Animais Selvagens Perigosos, porque você precisa de uma licença para ter esse tipo de animal em casa no reino Unido. Ela podia ser perigosa. Ela tinha sido roubada dos pais numa idade muito vulnerável — umas sete semanas de vida — quando já tinha se ligado a eles. As questões de bem-estar animal nesse caso são realmente complicadas. Foi uma experiência incrível para mim como alguém que trabalha com animais, mas realmente desonesta.

É fácil lembrar das coisas ruins, mas também tinha muita fofura. Você chegava pela manhã e ia conferir como os animais estavam, e você sabia que um animal estava para parir, e um dia você chegava e dizia "O que é isso?", e uma carinha linda espiava você. Um bebezinho!

Publicidade

– Amy, 37 anos

MATANDO TEMPO

Meu colega me contou essa história alguns anos depois que ela aconteceu. Ele tinha chegado mais cedo [no zoológico] pela manhã, e como não tinha nada para fazer, chegou por trás de um pássaro bem grande — não vou dizer a raça — e gritou "raaaah". Pássaros são muito propensos a choque e stress. O coração do coitadinho explodiu. E ele caiu morto. Todos os animais que morrem precisam passar por uma autópsia para sabermos a causa da morte, e a causa foi rompimento do coração. Mas é isso que você ganha por contratar um monte de moleques em vez de gente mais responsável.

Como muitas pessoas nessa linha de trabalho, acabei estudando animais na faculdade, e agora percebo como zoológicos são ruins para eles. Na época, eu sabia que os animais estavam entediados. Eu fazia coisas como jogar um monte de minhocas e grilos pelo chão para os animais terem alguma coisa para fazer, o que meu chefe não gostava muito.

Acho que o público se importa com os animais, mas fica puto com as coisas erradas. Você ouve as pessoas comentando: "Ah, aquele animal está sozinho — que crueldade!", quando aquele animal vive sozinho na natureza; se você colocar outro da mesma espécie ali eles provavelmente vão se matar. As pessoas também acham que um animal está sendo fofo quando está mostrando sinais de stress.

– Jane 38 anos

O Zoológico Krakow, que não é o cenário de nenhuma dessas histórias, mas tem uma placa muito conveniente no portão. Foto: Radoslaw Nowak, via.

SHOW DE FANTOCHES

A gente recebia um monte de ratos, coelhos e camundongos mortos no zoológico — é com isso que você alimenta os outros animais — e os camundongos vinham nas posições em que tinham sido congelados. A gente fazia um palquinho e apresentávamos um show de fantoches com eles. Alguém dizia "Esse aqui parece uma bailarina, esse outro é todo tímido".

A gente tinha um freezer com animais mortos que eram vendidos para empresas de ciência e taxidermistas, e as iguanas eram congeladas num formato perfeito de pirulito. A gente pegava as iguanas e ficava girando pelo rabo.

Publicidade

Muitos proprietários de zoológicos particulares não tem a mínima noção, como era o caso do zoológico onde eu trabalhava. O dono estava tentando ter uma boa diversidade de espécies, então saía sozinho para comprar animais diferentes. Um dia ele voltou com um raro pássaro rosa, mas não era aquela espécie mesmo — era um pássaro comum pintado com spray. E ele colocou o pássaro em exposição mesmo assim.

– Adam, 32 anos

UM LUGAR HORRÍVEL

Parte do trabalho era manter os animais vivos, outra era tentar amenizar o tédio deles. O problema é que não importa quanto você tente, é impossível replicar como o animal se sentiria livre na natureza. Então você faz a ronda de alimentação, abrindo as jaulas, etc., mas quando terminou de alimentar todos os animais, é hora de alimentar de novo. Descobri que não tinha realmente chance de pensar em algo para aliviar o tédio deles porque estava sempre limpando cocô.

Trabalhar com as girafas era péssimo, elas ficavam presas nessas jaulas minúsculas e às vezes nem tinham chance de sair para o pátio — e lembro de pensar "Isso é horrível". Tínhamos macacos-aranha, e um dos tratadores teve que expulsar visitantes uma vez porque eles tinham dado cigarros aos macacos. Outra vez, vi um garoto chacoalhar o poleiro de papagaio até ele cair. Você vê jaulas onde jogaram lixo, vê pessoas zombando dos animais — especialmente dos macacos —, e um negócio triste.

Em todo zoológico, você vê os tigres andando de um lado para o outro, animais mostrando os dentes, mastigando as barras das jaulas. Pode parecer fofo e normal para um visitante de zoológico comum, mas é algo chamado "estereotipia". Os animais se comportam assim porque estão frustrados. Desde que trabalhei lá, montei um site sobre bem-estar animal chamado "The Happy Orca", porque acredito que zoológicos são fundamentalmente errados.

– Nova, 36 anos.

@hannahrosewens

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.