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Música

Sônia Abreu, a DJ abre alas

Aos 65 anos, a primeira disc jockey mulher do Brasil fala como conquistou seu lugar numa cena majoritariamente masculina.
Foto do Facebook de Sônia.

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.

Ainda hoje, a música eletrônica parece um universo dominado por homens. Aos poucos, porém, o mar vermelho masculino da cena parece se abrir para que mulheres possam passar com os trabalhos delas — e o Moisés brasileiro que deu início a tudo isso foi Sônia Abreu.

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Como a própria DJ me disse, desde meados dos anos 60, "quando os Beatles chegaram", ela estava começando o trabalho com música. Hoje, aos 65 anos, ela nem pensa em parar e segue tocando "em casamentos, bar mitzvahs, festas de 15 anos e na balada mais chic de São Paulo".

Durante a nossa conversa, franca e divertida, ela me contou que pouco importa a impressão que as pessoas têm dela por ser mulher ou "coroa", porque quando ela coloca o som pra tocar, ninguém fica parado.

THUMP: Como você começou a trabalhar com música?
Sônia: Eu comecei com 12 anos. Sempre gostei de música, ela esteve na minha vida desde criança. Minha família é muito musical. Eu não gostava nem de estudar, meu negócio era música. Daí, me envolvi com isso e continuei porque nunca tive essa preocupação de pensar no que eu ia fazer. Fazer Jornalismo, Advocacia, Medicina… Meu pai era médico, ele queria que eu fosse médica. Eu já sabia que eu não queria nada disso. Meu negócio era música. E por eu ter esse foco, esse ponto de partida que ficou na minha cabeça, eu sempre fui muito independente. A música me levou e me leva até hoje. Desde 1963 ou 64, quando os Beatles chegaram, eu também já estava na parada, fazendo festinhas na casa de amigos; depois, com 16 anos, comecei a trabalhar profissionalmente. E assim foi, daí me tornei o que sou hoje, espero ser mais alguma coisa.

Como era o meio nessa época?
Eu era a única mulher. Só em 1990 que começaram a surgir as outras meninas. Mas a cena era bem masculina, como é tudo até hoje, em qualquer setor. A competição melhor é sempre deles, os lineups são masculinos até hoje. Nem vamos falar de ontem, vamos falar de hoje: se você olhar Tomorrowland, Lollapalooza, e qualquer outro festival o lineup é sempre 95% masculino. Mas a gente tá chegando lá.

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Você já sofreu algum preconceito ou alguma situação constrangedora por ser mulher?
Constrangedora não, mas o tempo todo a gente passa por algumas sutilezas. Agora mais ainda, que eu estou mais velha e toco em baladas. No início, as pessoas ficam olhando e na hora que o som começa a rolar mesmo, que o pau comeu, aí o pessoal me adora, me beija, ajoelha, quer fazer selfie… Então isso eu vivo todo dia, essa coisa de preconceito. Antes, porque era mulher, agora por que é coroa. Sei lá, então a gente vai levando, como dizia a bossa nova.

Então, você acha que a aparência influencia muito?
Eu acho que sim. Mas, na verdade, a hora que o som tá rolando é que vai pegar mesmo. Isso eu posso dizer por mim mesma, que tenho 65 anos e toco em casamentos, bar mitzvahs, festas de 15 anos e na balada mais chic de São Paulo: você vê que nem sempre a aparência é que manda. Ela manda, mas tem uma outra coisa que quando é pra ser, é. E quando você é boa naquilo que você faz, a aparência fica em segundo plano. Isso é o que eu tenho vivido porque, com 65 anos, estar nesse front que eu já te falei é porque o profissional tá acima da aparência.

Você acha que está surgindo mais espaço pra essas minas na música?
Ah sim, está surgindo mais espaço porque as meninas são novinhas, bonitas e gostosas. Obviamente, tem umas meninas lá que são bonitas, gostosas e que tocam pra cacete. Tem uma Cynara no setor do drum and bass que a mina arrasa de técnica. Tem muita menina que dá banho, que toca pau a pau com homem. Obviamente tem os mais geniais, que estão a mais tempo, tem uma habilidade maior com tecnologia. Mas vou te falar, pra mim não é só tecnologia e técnica. Obviamente é, mas tem a emoção. Tem a música que você vai tocar, a pista que você vai dar, a pulsação. Isso não tem tecnologia que faça. É o feeling. Então, pra mim, feeling com tecnologia é a receita.

Você tem dicas para mulheres que estão começando agora no meio musical?
Estudar e aprender a ser produtora porque, hoje em dia, DJ que só toca música não existe mais. Tem que saber produzir suas próprias tracks. E gostar de tudo que é tipo de música.

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