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Música

A Trajetória de ZHU: de Excluído da Fraternidade à Indicação ao Grammy

Há quatro anos, o misterioso produtor era apenas um estudante universitário. Hoje, ele assinou com a Columbia, tem músicas nas paradas e já foi indicado ao maior prêmio da música.
Steve Zhu em 2011. Foto via BPMtv.com

Não há nenhuma história mais envolvente na dance music no momento do que essa: o crescimento gigantesco do misterioso produtor conhecido como ZHU. Seu hino temperamental "Faded", foi a faixa mais indispensável de 2014, trazendo níveis mainstream de atenção ao produtor de deep house que é uma tendência em ascensão nos Estados Unidos. Tudo aconteceu no começo de fevereiro, com uma indicação ao Grammy por "Melhor Gravação de Dance".

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Mas quem é ZHU? Por que sua identidade é tão secreta? Para além das entrevistas que a sua equipe concedeu ao Los Angeles Times e à Billboard, o próprio artista se manteve quase todo o tempo em silêncio, se pronunciando apenas para dizer que quer que as pessoas foquem na sua música, e não na sua pessoa.

Parte da resistência em se entregar à sua futura fama parece vir do fato de que há apenas quatro anos, Steve Zhu era um estudante na University of Southern California e, de alguma forma, um excluído da fraternidade Ta Kappa Epsilon. Enquanto seus colegas estavam envolvidos na cena nerd estridente de música eletrônica entre as diversas fraternidades da universidade, o nativo da Califórnia e agora louvado gênio da produção preferia relaxar em seu quarto e trabalhar em um estilo de dance music que ainda não era popular entre estes círculos.

Deixando as cenas sociais de lado, quando ele se graduou na Thornton School of Music em 2011, Zhu ainda estava pegando as manhas da produção e até então não tinha encontrado sua fórmula mágica. Naquele ano, ele lançou um remix da música electro experimental "We Fell Off" do BluntGuitar em Los Angeles pelo selo independente No Ego Records. Decididamente mais pesada do que o estilo de produção suave e escorregadia pelo qual é conhecido hoje em dia, a faixa foi licenciada para a MTV e virou trilha sonora de um episódio de The Pauly D Show, uma série baseada em Jersey Shore. Apesar de estar disponível no SoundCloud graças à uma publicação do próprio selo, a música praticamente desapareceu da internet.

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Um ano depois, Zhu tinha crescido consideravelmente. Como parte do "52 to ZHU", um projeto ambicioso no qual o produtor ainda desconhecido lançava uma nova faixa a cada semana desde o verão de 2011 até o verão de 2012, ele lançou "Brute (Bad Bitch)", com participação da cantora/modelo Cassie Cardielle. A música, um electro-house progressivo, engana instantaneamente sobre as preferências de tons e melodias do ZHU, particularmente por conta de sua melodia principal fanha, silenciosa e temperamental. Isso gerou um EP de estreia, Introducing ZHU, com outras três faixas intituladas: "Radar", também com participação da Cardelle, "Back to You" com participação da Angela Via e "Stalemate (Vibe Together)". Apesar de ganhar uma atenção moderada de uma série de blogs de house music, quase todas as faixas desapareceram da web.

Enquanto isso, em outro universo da dance music, um trio eletrônico arruaceiro nascido em Chicago e com tendências rock'n'roll que atende pelo nome de Krewella estava bombando em proporções estratosféricas. Depois de vários anos fazendo turnê e com um hit de rádio chamado "Alive", o álbum de estreia do grupo, Get Wet, conquistou uma posição no "Billboard Top Ten" na mesma semana do lançamento. O empresário do trio, chamado Jake Udell, um amigo de escola com uma língua afiada e um senso de estilo audacioso, em breve estaria em busca de seu novo cliente. Depois de provar seu valor em sua primeira tacada efervescente (antes das complicações inevitáveis cujo o trio enfrentou), Udell sabia exatamente o que queria fazer com o querido Steve Zhu. Supostamente introduzidos por amigos em comum, Zhu e Udell eram o par perfeito: o primeiro, um produtor talentoso e promissor porém com pouca direção e identidade; o outro, um empresário ávido visando solidificar sua reputação através de um trabalho onde seja capaz de manter controle.

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"Moves Like Ms Jackson", um mashup engenhoso e contido de hits do Outkast feito pelo ZHU, estourou no SoundCloud em fevereiro de 2014, sem o nome do artista anexado, surtindo conversas especulativas sobre a identidade do produtor e induzindo aqueles que conheciam ZHU a darem pistas no Reddit e fóruns de música eletrônica. Associações ao trabalho anterior do ZHU começaram a aparecer, incluindo remixes de gravações da Sasha e Tiësto, uma parceria da vocalista Krista Richards chamada "Can't Be Stopped" (ainda disponível no Beatport) e um remix oficial do Ali Love com YLUV e Spencer & Hill, todos lançados pelo selo Dim Mak. As pessoas que contatamos para falar sobre os momentos iniciais da carreira do ZHU se recusaram a comentar sobre a história, alegando que ambos o artista e sua equipe de empresários deixaram claro que essa nova era do ZHU não deveria ser contaminada por nenhum trabalho antigo ou experimentação.

"Faded" surgiu em abril de 2014 e foi um hit instantâneo. O timing foi perfeito. Sombria, inquietante, contagiante e memorável, ela capturou a atmosfera de uma geração em busca de modificar a imagem prepotente da onda atual da música eletrônica. Para Udell e sua empresa Th3rd Brain, ela adicionou uma outra dimensão ao portfólio, uma mais independente de refrãos antagônicos e das personalidades proeminentes do Krewella. Com o lançamento dessa música e do Nightday EP, os rumores sobre a identidade do ZHU continuaram a circular, os mais audaciosos sugerindo que eram astros estabelecidos como Porter Robinson ou Skrillex assumindo um novo pseudônimo. Isso tudo serviu para aumentar o hype e depois arruinar a maior jogada de ZHU: escondendo a identidade do artista, seus substitutos poderiam dizer que o foco de ZHU era na música, mas na verdade ele estava atraindo ainda mais atenção para a questão da identidade, ou a falta dela.

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A primeira aparição ao vivo de ZHU nos Estados Unidos foi no especial Day of the Dead na HARD em novembro de 2014, onde se apresentou escondido atrás das telas e envolto por neblina e luzes. Foi um dos melhores sets do festival inteiro e anulou quaisquer reticências que seus fãs poderiam ter sobre sua habilidade enquanto performer. Naquele mês, a Columbia Records anunciou ter assinado ZHU em um contrato mediado por Andrew Keller, o mesmo cara que assinou com o Krewella e levou o disco do trio ao topo das paradas. No mês seguinte, "Faded" foi indicada a "Melhor Gravação de Dance". O nome de ZHU foi anunciado à uma audiência internacional, enquanto o próprio se manteve escondido.

Um hit, um contrato com uma grande gravadora e uma indicação ao Grammy depois, a identidade de ZHU ainda está oficialmente sob sigilo, apesar de seu nome agora ser conhecido publicamente graças a uma entrevista cuidadosamente monitorada com o August Brown da LA Times. Tudo o que sobrou do seu passado é um perfil no DJTechTools e algumas pistas em publicações em blogs do seu período pré-fama. É quase como se o cara chamado Steve nunca tivesse existido.

Enquanto a identidade e personalidade de Steve Zhu estiverem sob controle de outros, suas atividades artísticas e capacidade de impactar a cultura também estarão. Em particular, os debates iniciados pelos fãs quanto a identidade de ZHU sempre giraram em torno de sua raça. "É um carinha asiático" tem sido o discurso. Ele faz parte de uma pequena lista de DJs/produtores americanos-asiáticos proeminentes incluindo Steve Aoki, TOKiMONSTA, e Henry Fong. Como um astro genuíno e contribuidor cultural, o impacto que ZHU pode ter na representação de pessoas de cor na dance music é imensurável.

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Ainda assim, a identidade de ZHU não é sobre política. É sobre sua arte. Sua música é importante. Como poucos artistas de dance são convidados ao palco mundial da premiação do Grammy, não seria inconcebível se Steve se revelasse de uma vez por todas no tapete vermelho nesse domingo. Porém, considerando o controle rigoroso feito por sua equipe sobre a "questão ZHU", isso parece ser improvável.

Steve Zhu, a pessoa, fez um longo percurso desde seu dormitório solitário em uma fraternidade. Já que o mundo como um todo está celebrando seu trabalho, não há mais motivo para se esconder.

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Jemayel Khawaja é o editor assistente do THUMP US e não tem problema em revelar sua identidade no Twitter: @jemayelk

Tradução: Stefania Cannone