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Como é viver apenas com alimentos crus

Falámos com Cristina Muñoz, crudivegana e Health Coacher, sobre alimentos não cozinhados, libertação de toxinas, dietas e como nos podemos encontrar a nós mesmos.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

Cristina Muñoz abraçou há relativamente pouco tempo a alimentação crudivegana e agora fez desta filosofia - que não é só alimentar - o centro da sua vida. "Saía, fumava e bebia aos fins de semana. Era vegana, mas levava uma vida um bocado louca. A determinada altura, tive um problema hormonal e comecei a alimentar-me de forma natural, motivada pelo desejo de encontrar maneiras alternativas de me curar. Tinham-me receitado comprimidos, mas eu já tinha tomado a decisão de não usar nada que fosse tóxico. Comecei a fazer yoga, a conhecer-me a mim própria e isso fez-me mudar de hábitos. Tudo isso resultou, no final, numa mudança de consciência".

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Cristina começou a investigar sobre questões alimentares e focou-se em várias teorias sobre alimentação até decidir manter a mais natural, como ela própria define, a crudivegana. A partir daí começou a trabalhar, não apenas ao nível do seu corpo, mas também a nível profissional. "Quando algo se conecta contigo e se transforma na tua paixão, dedicas-lhe muitas horas e podes tornar-te um especialista. Decidi começar um blog e também continuar a estudar. Ao fim de um ano larguei o meu trabalho para me dedicar a isto. Fiz um curso de Coach de Saúde e daí a dois meses, em Janeiro de 2014, já estava a trabalhar com os workshops e cursos. Agora estou com um modelo de negócio maior, como lançamentos de produtos, programas online e seminários de maior dimensão".

VICE: Não faço ideia o que seja a alimentação crudivegana, por isso queria falar contigo sobre o assunto. Por onde começo?

Cristina Muñoz: Na verdade, a comida crua vem da filosofia higienista, alimentarmo-nos do que a Natureza nos dá. Tudo o que gera toxinas no nosso corpo, porque foi processado, é a fonte de um monte de doenças. Esta filosofia sempre existiu e agora, felizmente, voltou.

Antes não era tão necessária, porque os nossos avós, embora comessem carne, tinham estilos de vida muito naturais e não havia tantas doenças que agora se sabe serem resultado de uma forma de vida tóxica. Por oposição à comida processada, drogas, tabaco ou álcool, está a emergir o outro lado. O crudiveganismo, mais que uma maneira de comer ou uma dieta, é uma filosofia de vida que inclui a alimentação. E o mais natural é o que se ingere directamente da Natureza, sem processar, nem cozinhar.

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É um tipo de alimentação que tem muitos nutrientes, não intoxica e também purifica, para que estejas na tua melhor condição física e mental e em harmonia com o meio ambiente e animais. Inclui frutas, verduras cruas, frutos secos, sementes, algas, brotos, ou superalimentos. Não vivemos à base de alface e cenouras, embora seja o que a maioria das pessoas pensa (risos). É uma cozinha com imensas possibilidades: esparguete, lasanha…

Lasanha sem passar pelo forno?

Claro. Sem cozinhar. Em vez de massa, cortas courgette em fatias e podes fazer um recheio de cogumelos macerados, molho de abacate e tomate . É uma cozinha que não é nada chata. No meu dia-a-dia como de forma muito simples. Por exemplo, um batido no qual ponho cinco ou seis bananas e folhas verdes. Mas também posso fazer um prato de massa com courgette.

Fazes as cinco refeições que são recomendadas?

Este estilo de vida também inclui a optimização dos recursos energéticos do teu corpo. Está demonstrado que temos mais energia se comermos com menos frequência, porque a digestão nos rouba muita energia. Se o que queremos é ter mais energia, eu proponho comer duas a três vezes por dia, comer mais, mas coisas que não sejam densas. Sou a favor do jejum, tanto de água como de sumos. Durante o jejum experimentamos altos níveis de energia, porque o teu corpo não está a gastá-la na digestão. Na sociedade moderna comemos apenas porque estamos com fome, não se pensa na nutrição que isso vai trazer, nos tóxicos.

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E o jejum está dentro da filosofia crudivegana ou é algo teu, pessoal?

Nem todos os crudiveganos fazem jejum, mas é verdade que dentro de um estilo natural se pratica muito o "detox". Uma palavra que está na moda - o que me agrada. Geralmente são feitas com sumos. Há até empresas que os vendem já feitos. Se não ingerirmos coisas sólidas, o nosso corpo - fígado e rins - em vez de estar ocupado com funções digestivas, mete-se a eliminar as toxinas que todos temos acumuladas durante anos. Estas desintoxicações com sumos também são consideradas jejum e podes fazê-las de forma intermitente. Por exemplo, não ingerir sólidos até à hora de comer, apenas sumos, ou pode ser um dia, uma semana ou um mês.

Um mês sem alimentos sólidos?

Eu conheço pessoas que passaram três meses a beber unicamente sumos. Nota que levam fruta e verdura. Num sumo podes ingerir um quilo e meio de fruta e verdura, por isso é impossível que te faltem nutrientes. A primeira pergunta geralmente feita é: mas não me irão faltar nutrientes? Não. Irão faltar a quem se alimenta à base de massa, carne e alimentos processados.

Levar uma dieta crudivegana emagrece?

Sim.

Pode haver uma pessoa crudivegana obesa?

Praticar o crudiveganismo não é sinónimo de estar bem alimentado. O ideal numa dieta deste tipo é basear a alimentação em frutas, verduras, muitas folhas verdes e pouca quantidade de frutos secos e sementes. Muitas pessoas, quando começam, baseiam a sua comida na densidade, nos frutos secos que engordam muitíssimo. É tudo gordura e são indigestos, devem ser o acessório da comida. Isso aconteceu comigo, passas para crudivegano de um dia para outro, não dás ao teu corpo uma transição e ficas ansioso. Quando proíbes o teu cérebro de algumas coisas aparece a parte instintiva. O fruto seco tem a componente de ser mastigado e torna-se um substituto para o cérebro dos cereais, ou da massa. Portanto, as transições têm que ser de forma gradual.

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Se eu quiser juntar-me à tua filosofia, por onde começo?

A primeira coisa que te diria é que não precisas de ser crudivegano para desfrutar dos benefícios de uma dieta rica em frutas e verduras. A filosofia é muito bonita, mas primeiro é preciso considerar em que ponto está cada um de nós. Se alguém anda há 30 anos a fumar, a tomar drogas, medicamentos, a comer carne, farinha e açúcar, terá um organismo muito intoxicado. Como tem a maioria.

Se mudas a tua alimentação de um mês para o outro, o teu corpo começa o processo de purificação, a liberação de toxinas. A mim encheu-se-me o rosto de acne, inchei muito, porque as mudanças bruscas perturbam o metabolismo. As mudanças precisam de ser feitas muito lentamente. A alimentação à base de frutas, sendo o ideal, não é o óptimo. Saber também onde estamos a nível mental é muito importante. É preciso ir devagar. Não assumas uma alimentação crudivegana de repente, se fumas e bebes, ou tomas medicamentos. Primeiro deixas o trigo, ou os laticínios e vais introduzindo alimentos mais limpos, que não geram resíduos tóxicos. Mas, lentamente, de modo que tudo flua.

É uma dieta cara?

Felizmente, quem quer alternativas encontra-as. A primeira coisa que tens de considerar são as prioridades na tua vida, para lhes dedicares os recursos necessários, tanto em tempo como em dinheiro. Para mim é engraçado as pessoas que dizem que não podem dar-se ao luxo de pagar três euros por um quilo de fruta e depois vejo-as com uma bebida de 10 euros na mão ao fim-de-semana. Não digas que não podes, diz que preferes gastar o dinheiro noutra coisa. Também não tens que comprar os superalimentos, as sementes e as tâmaras, podes viver à base de frutas e verduras, se possível ecológicas. Assim que entras neste estilo de vida, vais dando passinhos.

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Existem contra-indicações?

Há algumas, "contra-indicações". Os alimentos naturais não são contra-indicados, o problema aparece quando começas a eliminar muitas toxinas e o fazes repentinamente. Acontece a muitas pessoas, especialmente com o tema da ansiedade. O teu cérebro instintivo leva tempo para se acostumar. O mais importante é que, dentro de um estilo de vida limpo, não deves fazê-lo a partir do medo, porque a nossa mente cria doenças a partir do medo.

Se me convidasses para jantar em tua casa, a mim que não sou crudivegano, qual seria o menu que me oferecerias?

Recorro sempre aos meus clássicos para surpreender. Entendo que as pessoas que comem carne, não comem apenas carne. Por princípio, eu não a vou cozinhar. Costumo fazer vários pratos que baseio em substitutos. Por exemplo, uma tábua de queijos crudiveganos à base de sementes e frutos secos; coisas com sabores intensos e molhos; makis, em que, em vez usar arroz uso couve-flor triturada que simula a textura do arroz e, em seguida, encho-o com molho e verduras; massa crudivegana com courgette e molho de tomate seco e manjericão; queijo ralado com amêndoas, sal do Himalaia e levedura nutricional; coisas como húmus, guacamole, patê de cenouras, caril ou bolachas, o substituto do pão que fazemos no desidratador (máximo 42 graus), ou ao sol no Verão.

E com isso fica-se bem alimentado?

Todos os nutrientes estão na Natureza. Muitos vegetarianos não estão bem alimentados, porque baseiam a sua dieta em farinhas ou cereais, mas, sim, ficarás se o fizeres com frutas, verduras, cereais sem glúten. Estamos a falar de superalimentos que têm mais ferro do que a carne e mais cálcio do que o leite, são ricos em vitaminas e minerais. É hipernutritivo. Mas o teu corpo tem de aprender a sintetizá-los, cada caso é diferente. A vitamina B12 é onde está a controvérsia, mas a deficiência afecta omnívoros e veganos da mesma forma. O melhor é fazer análises e se houver falta desta vitamina, a solução é suplementar. Embora as análises neste momento nos indiquem apenas cerca de 10 por cento do nosso estado de saúde.