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cenas

Beber xixi faz bem a tudo

E deixa-te mais forte.

Bal Krishna, mestre budista e médico acupuntor, afirma que a ingestão de urina funciona como uma vacina. Aliás, ingerir este fluido tão pessoal que previne problemas de saúde é um método milenar — praticado sobretudo na Ásia e que tem vindo a ser introduzido no Ocidente. O xixi é um fertilizante comum e é usado em pastilhas elásticas, gelados e cosméticos — até em produtos para branquear os dentes. É um líquido moderadamente tóxico. Para quem está a morrer à sede, não faz sentido bebê-lo: quando se está desidratado, a ingestão de urina (rica em sais) é desaconselhada, mesmo em último recurso. Supostamente também é um elixir, mas tentem convencer a indústria farmacêutica disso. A urina reúne todas as experiências do corpo, físicas e psicológicas, e, quando é reintroduzida no corpo, força o sistema imunitário a lidar com as mesmas dificuldades uma segunda vez. Se é realmente terapêutica, a urina poderia muito bem ser vendida como uma bebida apelativa — a ureia já é importante nas indústrias química e farmacêutica. Por isso, a questão é: beber ou despejar o mijo pela sanita? Fomos até ao centro Pazpazes, no Porto, local onde Bal Krishna pratica medicina tradicional chinesa, urinoterapia e outras cenas estranhas/fixes, para aprender mais sobre o assunto. Recebeu-nos de meias, saia e chinelos. Com palavras inglesas pelo meio do discurso. Sentou-se na marquesa, esticou os braços e sorriu. VICE: O que é ao certo a urinoterapia?
Bal Krishna: Tomei um calmante antes de vir ter contigo, para relaxar [ironicamente]… Mas estamos num ambiente relaxado e intimista.
Parece que vou para a prisão, assim de chinelos e saia [risos]. Diz-me lá que benefícios é que a urinoterapia traz para a saúde?
Já leste o nosso livro? Não, não.
Então, vou oferecer-te um. Poderá elucidar-te. É um livro de leitura simples. A temática é pouco abordada, porque não envolve dinheiro. Então, é acessível a todos.
Sim. Urina é o que nós temos, não é preciso envolver dinheiro. Não é publicitado porque não é rentável. Não se tem de ir à farmácia. É uma terapia antiga e simples. Sei que tens um retiro de meditação e silêncio. É curioso, conheço Monchique desde pequenina.
É um centro de meditação. És de onde? Sou de Silves.
Ah, então conheces bem Monchique. Podes ir lá visitar, aquilo é um sítio aberto, não tem chave. Mas podemos entrar livremente e ver o espaço?
Not like that! Tem de haver um propósito, não temos lá pessoas a fazer turismo. Tem de ser um sítio funcional, com regras. São regras muito extremas?
Não. Não há vinho, não há peixe nem carne. Não há haxixe ou marijuana. Vá lá que a água de nascente de Monchique é boa.
Água pura para manter o espírito limpo. Equilíbrio entre corpo e mente. O que queres saber mais? Sobre o retiro que decidiste fazer depois da faculdade: como foi a experiência?
Qual deles? Fiz vários. O retiro que fizeste sozinho.
Fiz um retiro de seis meses e, sim, estive sozinho, mas em determinadas condições. Depois fiz um de três anos e meio noutras condições. Depende da parte da minha vida. Receaste ou sentiste necessidade de algo mais?
Vou ser honesto: quando entraste aqui, receaste algo? E se, de um momento para o outro, o tecto caísse? Aí, teríamos medo. Não temos de recear nada. Relative statement. No início, não temos medo de nada. Mas se, por qualquer razão, sair um leão da parede… Bem, isso foi profundo. Acho que entendi. Mas isso seria muito improvável.
Era uma situação muito pior. Qualquer coisa pode acontecer. Eu estava muito desprotegido, mas tinha uma finalidade. Procurava estar bem. Tinha uma cabana afastada que tinha uma pequena porta e que deixava passar vento de 15 graus negativos. Era lá que eu dormia. Havia um género de comunidade perto, mas não pertencia a uma aldeia. Passavas o tempo na cabana, apenas a sentir e a pensar? Fora da sociedade e de toda a pressão.
How to say? Sem qualquer contacto. “Vou-me retirar.” É quando decido sair de uma situação, de um espaço, em busca de algo novo. “Vou experimentar.” Olhar para dentro. Já olhei tanto para fora. You see? Sem referências. Os componentes estão dentro de nós. A felicidade surge de dentro. Tenho na ideia ir para África, Cabo Verde. Trabalhar numa quinta biológica, lidar com outra cultura.
O ser humano põe tudo muito sólido. Há informação, tanta informação. A linha que pretendemos é estar bem, minha querida. Tibetano, português, grego. It doesn’t matter. Rico, pobre. África ou não. Todos nós queremos estar bem. Universal truth. Da República Centro-Africana, ninguém fala: está em guerra, sabias? Tem mais diamantes do que a África do Sul e ninguém quer saber. A mudança é boa, alargar horizontes, buscar novas situações, mas a visão interior é uma maneira diferente de procurar esse mesmo bem-estar. Pensamos que xixi é uma porcaria, mas não é nada de mal. Há aquela ideia de que a urina acabada de sair pode melhorar ou até mesmo curar as frieiras.
You do it, in fact. Não é um mito, é uma realidade. A minha mãe em criança tinha frieiras e o irmão mais novo fez-lhe xixi para as mãos. Na verdade, resultou. Mas podia ter sido coincidência. Também tenho frieiras e ri-me quando soube dessa história.
Shanti, a minha filha de 30 anos, que está em África, disse-me: “Pai, tu falas sempre da urina, mas funciona para os pés?” Ela apanhou qualquer coisa numa piscina e nenhum creme lhe resolvia o problema. Então, decidiu experimentar e resultou. A urina mantém a pele muito saudável e tem vantagens simples que podemos usar para problemas mais profundos. Mas não de qualquer forma. A urina espelha os nossos hábitos, o que comemos. Se bebemos álcool, ou não. Adiciona-se algo à urina?
Sim, pode adicionar-se. Um sumo juntamente com o xixi, por exemplo. Uma vez vieram aqui uns repórteres da Visão e pediram para pegar num copo e fingir que estava a beber urina. Eu disse-lhe: “Minha querida, desculpa lá, mas não vou fazer isso! Vou beber a urina, não vou fazer um show de mentira.” Vinho branco!
Ora, vinho branco de Vilarinho [e mija-se a rir]! A urina pode ser utilizada para os olhos, para o nariz, para os ouvidos. Tudo isso, casos mais simples. Se o problema for mais grave, aí já tenho de ver o tipo de dieta a seguir. Aproveitar e beber a primeira urina da manhã, deixar passar a primeira e última parte. Colher e depois beber. Bebe-se só um copo?
Se vierem dois, bebem-se dois. Se vier meio, bebe-se meio. As pessoas perguntam-me: “Mas como é que o bebo?” Como se estivesse a beber o chá. Cada caso é um caso. A urinoterapia pode aumentar a capacidade de defesa do organismo. A cor, o sabor e o cheiro modificam-se dependendo da alimentação e de certos hábitos, certo?
Quando há excesso de calor, o cheiro intensifica. Tem cor e tem sabor. Ao beber, a urina é um pouco salgada. Percebemos logo o que comemos no dia anterior. Se foi bacalhau, se a comida tinha sal a mais ou não. Conseguimos ter uma percepção da situação, como que um simples diagnóstico. Se tomares, vais perceber. Vai mudando sempre. E existe mesmo um hospital de urinoterapia na Índia?
Sim, um hospital em Kadapur. Quando lá estive conheci uma bailarina americana que tinha cancro. Estava em sofrimento, consultou vários médicos nos EUA e nenhum lhe apresentou uma hipótese de melhoria. Foi para a Índia, na esperança de ter mais do que três meses de vida. Quando melhorou, voltou para a América. Seis meses depois teve uma recaída e foi novamente para o hospital de Kadapur. Ficou em recuperação dois anos e meio. Estava bem lá, não voltou para casa. Depois da faculdade andaste na maluqueira de viajar à boleia.
Estive no Irão, no Afeganistão, andei por aí. E também tinha uma enorme curiosidade em conhecer a Europa. Na Índia ouvia-se falar da cultura europeia, era quase como um sonho, um boom de drogas e vivacidade que me despertava muito interesse na altura. Trabalhaste nalgum sítio durante essa viagem?
Não levei dinheiro. Fui sem depender dos meus pais, foi uma decisão minha, então fui à descoberta. Durante toda a viagem, alimentei-me daquilo que me ia sendo proporcionado. Não comprei, nem vendi nada. Viveste do que a terra te tinha para oferecer?
Absolutely. Já viajei com um engenheiro desde o Norte de França até ao Sul, só a comer chocolates. A new experience! A viajar, aprendi. Experiência é o presente, o actual, o que está a acontecer agora. O vivido fica na memória e leva à experiência. Eu sou feliz porque procuro sempre estar bem comigo.