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Música

Discos: Capitão Fausto

Tame Gazela? Não, muito mais que isso.

Pesar o Sol

Sony Music

Em ano de Capitão Falcão, não esquecer Capitão Fausto. O seu segundo disco mal saiu e já há muita gente a falar dele. Como vos compreendo. Há casos em que isso é mau, mas este caso é dos bons. À partida soa um niquinho a Tame Impala cantado em português mas não é um niquinho a azedo, antes pelo contrário, é um niquinho doce de genial produção, cortesia da masterização de Greg Calbi, que, adivinharam, produz gente como Tame Impala ou Kurt Vile, e aqui ajudou a por si só excelente mistura de Nuno Rock, perdão, Roque.

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O que esta rapaziada andou a fazer ou deixou de fazer por aí, entre o primeiro

Gazela

 e este

Pesar o Sol

, não me interessa saber. Na verdade interessa, mas não, não interessa. Honestamente o

Gazela

 soa a vinho branco e este

Pesa O Sol

 soa a cenas. Mas isso não me interessa. Quanto pesa o sol, sim. Pesa-se como? Mede-se em quê? Hologramas? Eh pá, só um minuto… Sim Alice, é um coelho gigante!… Desculpem, já estou bem. Como dizia aquela velha máxima que vou inventar agora “para ser psicadélico não basta tomar drogas, pode até nem ser preciso”, porventura mamãs dos meninos dos Capitão Fausto, não se preocupem, eles não tomaram nada. Só têm imenso, imenso talento. Mas porra, como parece que tomam coisas! Uma certeza: ouvem muitas coisas. Boas. Ok, devem curtir Tame Impala à brava, se calhar até White Fence, mas desceram (ou não, eu é que sou maluco) Bardo Pond e Stereolab para baixo e chegaram a XTC, Television Personalities, muito Krautrock, passando pelos melhores Pink Floyd, malta de Canterbury, Gentle Giant, a King Crimson, entre outras coisas boas.

Insisto que não sei se depois do Gazela foram à Índia (não é a filha da Malhoa seus geo-iletrados!), mas cada tema dá-nos de forma lusitana, preenchendo quiçá um deserto inteiro entre oásis, um maná de rock psicadélico de fino recorte propulsionado por teclas alquimistas, cortesia de quem costuma ir à Índia e neste caso de Francisco Ferreira que não sei se já foi á Índia. Desculpa lá ex-mítico acid-prog José Cid do entre Vénus e Marte blá blá. Népia. Aqui é cosmos mamén, pós-pós-Chinchillas (os nossos Mutantes). Porra, demorou tanto tempo. Falta ainda falar de

Tomás Wallenstein na guitarra e voz, Domingos Coimbra no baixo, Manuel Palha na outra guitarra, e Salvador Seabra na bateria. Heróis lisérgicos com ar de figurantes do “Conta-me Como Foi”, a partir de agora protagonistas definitivos da música nacional com faixas inesquecíveis que vieram para ficar, como “Nunca Faço Nem Metade”, “Litoral”, “Tui”, “Flores do mal”, “Pesar o Sol”, “Célebre Batalha de Formariz”, “Ideias”, “Prefiro Que Não Concordem”, “Maneiras Más”, “Lameira”. Ou seja, o disco inteiro.