Como emagreci 12kg comendo esfiha

Nesses tempos em que muita gente quer enlouquecidamente o corpo perfeito, não falta quem tente (ou venda) métodos incríveis para emagrecer — de preferência os mais mirabolantes e com facilidade. Se eles funcionam ou não, não sei, mas o que aconteceu comigo entre o final de 2013 e o início de 2014 é de fazer inveja a qualquer shake milagroso: emagreci cerca de doze quilos como resultado de um processo que começou em um fast food.

Nesta época, preciso dizer, trabalhava no fechamento de um caderno de programação cultural de um grande jornal. Quem 'fecha' um jornal tem que ficar de olho em todo o conteúdo até o momento em que se bate o martelo e envia as coisas para a gráfica. Isso normalmente ocorre de noite, então meu expediente, normalmente, se encerrava entre 21h e 22h.

Com essa rotina de trabalho e a preguiça de cozinhar, acabava recorrendo as mais fáceis soluções alimentares. Restaurantes de fast food abertos até tarde da noite e caixinhas de comida congelada se tornaram os grandes alicerces da minha vida de jovem adulto. Não à toa, estava muito acima do peso ideal. Cheguei a pesar 100kg nestes anos, até que tudo aconteceu quando eu pesava 94kg com 1,78m — e tinha um índice de massa corporal (IMC) de 29,7, que indicava algum sobrepeso. A pessoa com peso ideal tem um IMC entre 18,5 e 24,9.

Nesse período em especial, a esfiha era um dos campeões da minha alimentação diária. Elas custavam pouco, não demoravam para ficar prontas, são gostosas e o restaurante em questão ficava perto do meu local de trabalho. Até que, uma noite, jantei no tal fast food após uma jornada de trabalho extenuante e acordei com dor de estômago e diarréia.

A princípio, achei que estava tudo bem. Pensei que era só uma esfiha estragada, e que ficaria bem algumas horas depois. Por motivos que hoje em dia não consigo entender, só comecei a me preocupar quando ainda estava cagando líquido, duas semanas depois daquela fatídica noite no fast food.

Minha primeira reação foi recorrer aos meus pais, ambos médicos. Descrevi os sintomas para eles, e a principal suspeita foi que tinha contraído uma giárdia, um protozoário microscópico que se instala no intestino delgado. Caso fosse isso mesmo, deveria tomar um antibiótico. Tomei metronidazol por três dias — o que, reconfirmei com meu pai recentemente, é o tratamento padrão para a giárdia — e, em pouco mais de uma semana depois do início do tratamento, melhorei.

A principal mudança no meu corpo deu as caras depois de me livrar da giárdia. Fiquei tão focado na dor de barriga e, no decorrer do tratamento, e não me toquei o quanto estava mais magro. Só fui me ligar algumas semanas depois de curado, quando amigos e colegas de trabalho começaram a perguntar da minha aparência. A curiosidade me levou à balança. Passei a ter 82kg.

Logo começaram a pipocar as perguntas sobre como perdi tanto peso em tão pouco tempo. Respondia contando o que você acabou de ler, e, claro, ninguém acreditava. A maioria dava risada, uns faziam piadas. O mais espantoso era ver no monitor, depois da conversa descontraída, a frase "como contrair giárdia" na busca do Google.

Essa história teve um final "feliz", e imediatamente depois do choque de perder tanto peso graças a um protozoário, comecei a adotar uma relação mais saudável com a alimentação e com exercícios físicos, o que me permitiu manter os 82kg por um tempo — ainda que eu saiba que meu peso tenha sido conquistado com uma combinação de sorte com um descaso absurdo com a minha própria saúde. Afinal, ter uma giárdia por duas semanas no meu intestino poderia ter dado muito errado.

Só pra você ter uma noção do que poderia ter acontecido comigo, acabei consultando novamente meus pais que me disseram que se eu tivesse demorado mais tempo para tomar o antibiótico, o efeito prolongado da presença da giárdia no corpo poderia acabar em anorexia, raquitismo, distensão abdominal (uma barriga cheia e dura), náuseas e até mesmo desnutrição e anemia.

Agora, além dos quilos a menos, a principal conclusão que tiro desta história é ver como se quer, a qualquer custo, obter um corpo considerado mais belo ou saudável possível, nem que pra isso você leve a sério aquela busca no google: "como contrair giárdia".

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