Conheça o Erro99, coletivo de foto que queima imagens em praça pública
Queimão fotográfico na Virada Cultural de Belo Horizonte, 2015. Foto: Erro99

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Conheça o Erro99, coletivo de foto que queima imagens em praça pública

Um grupo de fotógrafos de Belo Horizonte reúne gente em eventos gratuitos para repensar o mercado fotográfico nacional com direito a queimão de fotos e show de likes.

Leilão de foto é pior que leilão de boi na televisão de madrugada. Só uma minoria entende de verdade como funciona o mercado da compra e venda dos Nelore, e menos gente ainda parece entender e participar da comercialização de imagens no Brasil. Na base da ousadia e da alegria, o coletivo mineiro Erro99 está mudando essa cena.

Foi um convite inusitado para ocupar a Casa da Insanidade Mental, um grande ponto de encontro dos "loucos" que colam no festival de fotografia de Tiradentes, que levou Bruno Figueiredo, Daniel Iglesias, Matheus Rocha e Gustavo Campos, todos de alguma forma ligados à Casinha Cultural de Belo Horizonte — espaço que abriga de fotógrafos a roda de capoeira —, a bolarem ideias para começar uma espécie de reformulação popular do tal mercado fotográfico.

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Com a ideia de discutir a efervescente fotografia brasileira, surgiu em 2013 o Erro99. Com eventos no melhor estilo show de auditório podrera, até pouco tempo atrás lindamente apresentados por Matheus, vulgo Ceará, o coletivo reúne gente para julgar as fotos em leilões com lances bem modestos, num formato bem de rua e gratuito.

Desde o primeiro festival organizado pelo grupo — que hoje em dia não conta mais com o Ceará, mas que recebeu um reforço de São Paulo, Gabriel Cabral. — existem algumas das melhores atrações do Erro99, o Queimão Fotográfico e o Show de Likes.

Poster de divulgação do primeiro Queimão Fotográfico.Tiradentes(MG), 2013. Foto: Erro99

O "Queimão Fotográfico" é uma espécie de leilão bem simples que funciona com as seguintes regras:

1 - Qualquer pessoa pode inscrever fotos para serem leiloadas, basta levar a imagem impressa na hora do evento;
2 - O lance inicial inflacionou e hoje é R$ 5;
3 - Fotos não vendidas são queimadas;
4 - O comprador pode escolher queimar a foto.

Imaginar a rejeição do público e a clemência coletiva para que sua imagem vá para a fogueira dá um certo medo. É o que nos diz Bruno: "Tem gente que não coloca foto no leilão com medo de ela ser queimada", mas um dos integrantes também dá uma aliviada no receio. "No fim, o que menos acontece é queimar foto, acaba virando uma grande troca de imagens entre as pessoas."

Para se ter uma ideia de como o negócio funciona, em uma noite perdida de 2013 um "black bloc" foi o carrasco do Queimão que rolava no festival Paraty em Foco. A foto que estava sendo leiloada retratava uma rua vazia usando uma técnica hoje já bem manjada, o Tilt Shift do Instagram.

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Durante a apresentação da imagem sempre rolam uns comentários, tipo "essa é a foto mais artística que eu já vi de um cachorrinho" ou um simples "essa foto é monstra, vale R$20". E assim, de lance em lance, sem que o público saiba a autoria da imagem, segue o leilão até o valor final.

Vintão foi a bagatela oferecida pela tal imagem da rua fechada. Prontamente o comprador apertou o botão da incineração depois de não ter visto nenhum valor aparente na imagem.

Festival Paraty em Foco, 2013. Foto: Erro99

Durante a queima é também o momento em que o autor da foto é revelado: Claudio Edinger, fotógrafo das antigas, com uma lista enorme de prêmios no currículo e famoso também pelo preço exorbitante cobrado por suas obras.

Aquela mesma foto que em 2013 virava cinzas na ponta do isqueiro do "black bloc", havia sido vendida no festival de Tiradentes em 2011 por nada menos que R$ 4.500. "O grande lance do Queimão não é queimar as fotos; queimar é uma piração porque é performático", explica Bruno, que também diz que a mudança está em não revelar o nome do autor durante o leilão. Sem a grife, a decisão de comprar é baseada apenas na mensagem da imagem.

Bruno ainda fala sobre como é o cenário de um leilão de fotos convencional: "Em 2009, eu fui no leilão do Paraty em Foco, entrei na sala e era aquele ambiente esquisito, não tinha ninguém que eu conhecia e a primeira foto tinha um lance inicial de R$ 2 mil", conta. "No nosso leilão tem morador de rua dando lance."

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Festival Erro99, Belo Horizonte, 2014. Foto: Erro99

Outro grande evento promovido pelo Erro 99 é o "Show de Likes", "uma curadoria popular, presencial, catártica e futebolística", na definição de Daniel. Concurso de ensaios fotográficos em formato de campeonato, no evento o público vai decidindo os vencedores de cada confronto até chegar no grande campão.

A votação é feita em praça pública com placas de "like" e "deslike". Os confrontos são definidos por sorteio e qualquer pessoa pode se inscrever. Segundo Gabriel Cabral, fotógrafo e membro do coletivo, "o show de likes é tipo um campeonatinho de FIFA". Gabriel, inclusive, ostenta o título de vencedor do "Show de Likes" do primeiro festival do coletivo em 2014 na capital mineira.

Depois de tanto lutar por um espacinho nos festivais de fotografia Brasil afora, o grupo conseguiu, enfim, em 2014 — com ajuda de seus seguidores —, realizar o seu próprio festival de fotografia nas ruas de Belo Horizonte.

Na época, rolou esse vídeo maneiro explicando o lance todo.

E, assim, a rapaziada do Erro99 tem pintado, malandramente, nas últimas edições da Virada Cultura de BH de 2015 e 2016. Uma das ações na última virada foram instalações interativas com cenas marcantes da história recente de BH: "Aquele pixador da foto, por exemplo, foi multado em R$ 15 mil por ter pixado aquela mesma pilastra", explica Bruno.

LEIA: "Belo Horizonte declarou guerra ao pixo"

Fazer parte da programação paralela do festival significa não fazer parte, é como colar sem ser convidado pra festa e organizar outra festa, assim sempre que as atrações do festival terminam, começam as atividades do Erro99.

Com sorte, o coletivo vai estar nas ruas por muito tempo invadindo o rolê.

"ERR 99: shooting is not possible"

Acompanhe aqui o Erro99.

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