Uso de bombas pela PM de São Paulo explode em 90%
Uso de bombas de gás na Av. Paulista em janeiro de 2016. Foto: Felipe Larozza/ VICE

FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Uso de bombas pela PM de São Paulo explode em 90%

Nos dados obtidos com exclusividade pela VICE, foram explodidas 23.391 bombas de gás lacrimogêneo entre janeiro e agosto de 2016.

A utilização de munição química feita pela Polícia Militar no Estado de São Paulo "bombou" nos oito primeiros meses de 2016. Segundo dados obtidos com exclusividade pela VICE, foram explodidas 23.391 bombas de gás lacrimogêneo entre janeiro e agosto deste ano. Comparando com os 12.291 artefatos de tipo semelhante usados no mesmo período do ano passado, houve um aumento de 90%.

PM "bombando"em janeiro de 2016. Vídeo: Felipe Larozza/ VICE Brasil

Publicidade

Documento enviado pela corporação informa que, além das bombas de gás, também foram detonadas 11.725 bombas de efeito moral entre janeiro e agosto de 2015 e outras 15.165 no mesmo período deste ano. Bombas de efeito moral são usadas para inibir multidões só com barulho.

LEIA SP, 2016: SÉRGIO SILVA, FOTÓGRAFO E CULPADO.

Uso de bombas de gás na Av. 9 de Julho em setembro de 2016. Foto: Felipe Larozza/ VICE Brasil

Considerando os números de janeiro a agosto deste ano, pode-se afirmar que a PM explodiu 95,8 bombas de gás por dia no estado de São Paulo. Fazendo a divisão para o mesmo período do ano passado, somente com explosivos de gás, foram 50,5 utilizações diárias. Acrescentando as bombas de efeito moral usadas nos oito primeiros meses de 2015 e 2016, com as já mencionadas bombas de lacrimogêneo, foram quase 99 e 158 munições químicas/dia utilizadas pelos agentes da lei, respectivamente.

A PM explodiu 95,8 bombas de gás por dia no estado de São Paulo

Nota da PM afirma que os explosivos foram usados durante operações, instruções e treinamentos. A corporação não especificou a quantidade de bombas manuseadas por policiais em cada tipo de situação.

Cenário político exalta os ânimos

O especialista em segurança pública e privada Jorge Lordello, o Doutor Segurança da Rede TV!, afirmou que houve um aumento "substancial" no número de manifestações de rua e, por isso, também houve aumento no número de intervenções policiais nos atos. "Antes do processo de impeachment (da presidente Dilma Rousseff, PT) as pessoas se dividiram em grupos pró e contra (o impedimento). Após o afastamento dela, começaram os movimentos 'Fora, Temer'. Isso fez com que a polícia agisse mais."

Mulher desmaia dentro de um ônibus por conta dos efeitos do gás lacrimogênio. Setembro de 2016. Foto: Felipe Larozza/ VICE Brasil

Publicidade

Lordello acrescentou ainda que, por estarmos em um "ano político", os ânimos também ficam mais exaltados. "As pessoas criticam o uso de armamentos não letais, mas eles são usados exatamente para manter a ordem".

Questionado sobre abusos cometidos por agentes da lei, Lordello acredita serem "casos isolados". "O policial que se deixar levar pela emoção (usando as armas não letais sem critério) precisa ser responsabilizado".

A mais usada para intoxicar e asfixiar

Documento expedido pela Secretaria de Estado dos Negócio de Segurança Pública com números da chamada "munição química" utilizada pela Polícia Militar do Estado. Foto: reprodução.

Ainda segundo documento enviado pela PM, o tipo de bomba mais usada pela corporação, tanto em 2015 como em 2016, foi a de carga múltipla fumígena (que intoxica e asfixia).

Foram 4.741 artefatos usados entre janeiro e agosto do ano passado e 7.439 no mesmo período deste ano, um aumento percentual de 56 pontos.

Uso de bombas de gás em frente a Prefeitura de São Paulo em janeiro de 2015. Foto: Felipe Larozza/ VICE Brasil

No site da empresa Condor o artefato é descrito como "ideal" para ações de média e longa distância "garantindo a integridade física dos agentes da lei".

A reportagem questionou a empresa sobre o valor deste tipo de bomba. Nenhuma resposta foi encaminha até a publicação desta matéria. Dados colhidos pela Folha de S. Paulo em Diário Oficial do Estado de São Paulo, porém, apontam que desde 2013 o Governo do Estado gastou pelo menos R$ 77 milhões com arsenal anti-tumulto. Uma granada, em 2013, saia em média por R$ 226.

Estilhaço cega manifestante

Em 31 de agosto Deborah Fabri, 19, foi ferida com o estilhaço de uma bomba lançada pela PM durante manifestação contrária ao impedimento de Dilma Rousseff. Na ocasião, a vítima escreveu sobre o incidente em uma rede social. "Oi pessoal estou saindo do hospital agora. Sofri uma lesão e perdi a visão do olho esquerdo, mas estou bem. Obrigada pelas mensagens e apoio logo respondo (a) todos!!!"

Após ser ferida, Deborah foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, de onde foi encaminhada e atendida no Hospital de Olhos, no Paraíso, região central de São Paulo. Saiu do local na manhã do dia seguinte ao ferimento.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.