FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Tudo Azul Pro Nego Blue

Semana passada o Nego Blue soltou um clipe novo. O som existe faz um tempo, mas mudaram a batida e ilustraram com uma viagem tipo Usher incorporando um Exu de boa.

Foto retirada do Twitter dele.

Semana passada o MC Nego Blue lançou um clipe novo. É da música "Hoje Eu Não Sou de Ninguém", que no YouTube você acha em vários links e com vários nomes e que tem trocentas visualizações. Não tantas quanto as do sucesso anterior e abre alas "As Mina Do Kit" -- aliás, foda-se a internet: você viu bem a foto aí em cima? --, mas já sucesso em subwoofers e bailes por grande parte do território. A faixa até tem um tempinho, mas a versão do vídeo tá com uma batida diferente, produção melhor e toda uma viagem tipo Usher encarna Zé Pelintra. É que ele próprio defende que sua pegada é outra. "Canto pra levantar a auto estima das mulheres", como diz ter aprendido com o Sabotage. Hoje o Evandro Miranda Lauriano, 26, da Cidade Tiradentes (São Paulo) vive exclusivamente de levantar bailes. Quando conversamos pelo rádio ontem, o cara tinha acabado de se recuperar de uma apresentação na noite anterior e se preparava pra mais três na noitada de quinta-feira. São, segundo ele, mais ou menos 20 shows por semana -- fora o plano de gravar um DVD. Segura essa, Rota.

Publicidade

VICE: De quando é essa música?
Nego Blue: Essa aí vai fazer uns seis, sete meses. Compus com um parceiro meu. Mas a primeira que estourou foi a "As Mina do Kit", que tava pronta desde 2010, mas deu uma explodida agora, no final de 2011. Ela que abriu meus caminhos. Essa foi um sucesso nos em tudo quanto é canto do Brasil. Foi pra Recife, Salvador, Rio de Janeiro… Outro dia, faz mais ou menos um mês, tomei um enquadro da Rota lá na Zona Leste. Eu tava num carrão, o cara me parou e eu falei "Fudeu!". Aí expliquei que era cantor, que era o Nego Blue -- inclusive tinha até um CD no meu carro, e um pôster também. Aí o tenente me falou "Puta que pariu, negão! Minha filha fica cantando sua música direto. É 'deixa ela passar' pra cá, 'deixa ela passar' pra lá…" Aliviou, né? [Risos] Aí ficamos trocando uma ideia.

Haha. Essa versão da "Hoje Eu Não Sou de Ninguém" agora tá com uma produção bem boa. Só que as batidas estão diferentes da que você ouve no YouTube. Por quê? Quem fez a produção?
Foram uns caras no Rio, os DJ Batata e LH. A gente tentou dar uma renovada. Tem muita gente procurando coisa diferente, né? Eu ouço muito rap, e uma vez comprei um CD do Sabotage que tinha uma entrevista gravada com ele. Aí ele comentou que não tem coisa melhor que tocar pras mulheres, pra levantar as mulheres. E eu resolvi fazer isso aí, dar uma revolucionada nesse funk. Sem putaria, sem apologia -- dá pra levantar o público assim. Então comecei a fazer umas letras diferentes, pra levantar o ego das mulheres.

Tem um pessoal deixando comentários dizendo que o vídeo não combina com a música. Essa viagem Usher encarna Zé Pelintra do clipe foi ideia sua?
[Risos] Eu tive essa ideia com a equipe [Bando Studio, os mesmos produtores do programa Reis da Rua], de fazer um negócio diferente, com uma roupagem diferente. Uma pegada diferente. Porque todo mundo sempre põe muito carro e essas paradas, aí fica aquela muvuca. Pensei: "Não, Nego Blue vai ser diferente de todo mundo". Aí nós pegamos e fomos comprar terno, bengala… Eles sempre esperam esse negócio de nave, moto e tal. Muita ostentação. E a maioria desses caras não têm nada disso, mano. Então resolvi fazer uma parada diferente. A molecada critica pra caramba, mas quem conhece de música tá fortalecendo, achando legal. Sem carro, sem nada, só mulheres no barato. Quem for esperto percebe.

Mas tem um episódio do Reis da Rua que você mesmo diz que não curtia funk. O que mudou?
Tudo aquilo que tá no programa é verdade mesmo. E é importante porque tem muita história pra contar, mesmo pra quem pega o bonde andando e não conhece a realidade. Foi pra mostrar quem é o Nego Blue. Eu não curtia muito o funk, não. Como as outras pessoas que criticavam, eu era uma delas. Não criticar, vai, mas achava meio vulgar. Eu tenho duas filhas, e não sei se ia agradar que elas ficassem ouvindo só putaria, sabe? Mas agora tô ajudando a fazer o pessoal enxergar o funk de outra maneira, porque antes achavam que só putaria levantava baile. Hoje eu provei que consigo levantar baile sem palavrão. Ah, e lembra que no programa eu falava que ainda não vivia do funk, né? Hoje eu não só estou vivendo do funk, como estou dedicando a minha vida ao funk.

Mas você canta outros estilos também, né?
Também. Eu comecei no samba, né, mas também já cantei soul. E todo mundo já me chamava de Nego Azul, aí ficou MC Nego Blue. No funk de verdade eu fui começar no grupo Mensageiros da Favela. Eles me chamaram pra fazer uma participação. Fiz um back vocal numa música deles mesmo, aí eles gostaram, eu gravei uma, duas, três… Mas aí não deu certo, e cada um foi seguir seu caminho. Eu canto tudo com timbre, então tem samba, rap, soul music… E é legal porque tô recebendo propostas de participar do trabalho de muita gente -- Sampa Crew, Emicida, e uns de funk e de pagode. A gente tá fitando todas as áreas, independente de ser religioso ou não… Cada dia que passa é um dia diferente. Pra você ver, eu tô entrando em baile que nunca ninguém do funk entrou, seja do Rio, de Santos… Até em baile sertanejo. Um monte. De todos os estilos de música. Isso tá sendo legal pra caramba, mas com o pé no chão sempre.