O que é o 'tapping' e como a técnica pode ajudar a curar suas dores

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK.

"Quando tive meu primeiro grande ataque de pânico, achei que estava tendo um ataque cardíaco. Fiz meu marido chamar uma ambulância. Foi horrível — um espaço horrível para se viver. Eu estava passando por muita coisa na época, eu ia dormir e acordava com esses ataques de manhã. O médico disse: 'Não, você tem ansiedade' e só me colocou dentro desse termo. Fiquei frustrada porque eles não estavam me ajudando, então me envolvi com o EFT." Quando Caroline Robinson, de Warwick, na Inglaterra, começou a praticar a terapia alternativa Emotional Freedom Technique, ela se viu no começo de uma recuperação lenta porém contínua.

"Uma hora consegui pensar racionalmente. O tapping podia ajudar. Reduzi o trauma ligado aos eventos que desencadeavam minha ansiedade e agora, quando penso neles, não há mais emoção. Agora vejo as coisas sob uma nova perspectiva e posso seguir em frente como uma pessoa normal." Hoje, inclusive, Caroline ensina a técnica do EFT para seus filhos, para que eles usem essa ferramenta no futuro.

Também conhecido como "tapping", a técnica do EFT foi inventada nos anos 90 por um cara chamado Gary Craig e tira referências de várias teorias de medicina alternativa. Ela se baseia principalmente nos meridianos de energia chineses — ou meridianos do Qi — usados na acupuntura. A ideia básica é que essas linhas de pontos são como rios fluindo energia. Cada ponto corresponde a uma área do corpo. Às vezes bloqueios podem se formar, por emoções fortes ou traumas, o que atrapalha o equilíbrio do corpo e causa problemas.

"Todas as informações nesses meridianos estão guardadas no nosso subconsciente", explica Karl Dawson, um praticante de EFT. "Quando tocamos nesses prontos é como apertar o reset." Durante o tapping, emoções recebem atenção e reconhecimento e são gradualmente liberadas, até que o suposto excesso de energia é limpo, ajudando a restaurar o equilíbrio. Com a acupuntura, isso é feito com agulhas. Com o tapping, você usa os dedos para aplicar pressão enquanto repete certas palavras.

Se você pudesse simplesmente tocar seu queixo e se livrar de uma ansiedade severa, você não tentaria? Claro, mas como a maioria das terapias alternativas, parece bom demais para ser verdade. Ainda assim, a prática está juntando um interesse considerável nos últimos anos. Entre no YouTube e você vai encontrar muitos, muitos vídeos de pessoas se tocando freneticamente para se absolver de todos os pecados e conseguir os desejos de seu coração. Gabrielle Bernstein é escritora de best-sellers e uma das YouTubers new age mais populares, saudada como "a líder do novo pensamento" pela própria Oprah. Ela também defende o "tapping". Num vídeo no qual ela mostra como liberar stress, ela toca a testa, queixo e mão, repetindo as palavras: "Mesmo estando totalmente estressada e sobrecarregada, eu me aceito profunda e completamente". Você supostamente pode repetir isso a qualquer momento do seu dia para ter um efeito incrível, mas sendo realista, ninguém ia querer ser pego fazendo isso em público ou na frente dos conhecidos.

Mas Gabrielle não é o único rosto público do tapping, e nem todos são new agers. Paul McKenna, o famoso hipnotizador e escritor inglês de autoajuda, falou sobre tapping na TV e como isso pode tirar sua fome, e Lily Allen disse que a técnica é a responsável por sua drástica perda de peso. Whoopi Golberg usou tapping para superar seu medo de avião e Alex Reid, o lutador ex-namorado de Katie Price, usou a técnica para superar o stress de sua nova fama.

Quem quer aprender tapping no Reino Unido procura Dawson, um dos 28 "mestres fundadores" do EFT. Ele começou a aprender a técnica em 2002, quando tinha uma dor que os médicos não conseguiam identificar como sendo algo além de depressão e fadiga. "Eu estava num retiro de detox e jejum, e um dos terapeutas residentes conhecia EFT", disse Dawson. "Tocar em certos pontos do seu rosto para se livrar da dor me pareceu ridículo no começo. Mas acabei tentando e a dor foi diminuindo por vários meses. Mesmo que alguma coisa física estivesse errada, quando comecei a lidar com minhas questões emocionais, crenças negativas e traumas do passado, cada parte da minha vida começou a mudar e a depressão se foi, a dor se foi. Depois de um tempo percebi, como muitos praticantes, que eu queria ajudar outras pessoas assim, então me tornei praticante."

Se tocar os pontos corretos do seu corpo para aliviar dores físicas e mentais funciona, por que a necessidade de repetir esses mantras de autoajuda? "Originalmente, havia dois lados da mensagem verbal. Um lado era 'isso é onde estou trabalhando, tenho uma dor forte no joelho esquerdo', o outro lado era 'eu me aceito de qualquer maneira', uma forma de autoaceitação mesmo. Depois de anos praticando tapping, cheguei a conclusão de que isso tem a ver com resolver problemas e o que está acontecendo com seu corpo — essa é a chave, mais do que a autoaceitação."

Segundo Dawson, o tapping nunca pode substituir a medicina tradicional, mas atua junto com ela. No entanto, a variedade de doenças supostamente curadas com a técnica é maior que qualquer tratamento que seu médico poderia prescrever, além de exercícios e dieta saudável.

Como você pode imaginar, neste ponto há um certo nível de cinismo sobre o tapping. A Dra. Becky Spelman, psicóloga e terapeuta comportamental da Private Therapy Clinic, não é a favor da técnica. "Meridianos de energia são um conceito interessante, mas investigações científicas nunca provaram sua existência", diz ela. "Estudos formais sobre a eficiência do EFT indicam que qualquer resultado positivo tem mais a ver com efeito placebo do que qualquer outra coisa. Sim, novos estudos seriam bem recebidos, mas poucos psicólogos clínicos considerariam isso uma terapia válida, e provavelmente sugeririam uma abordagem de eficácia comprovada, como Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares [EMDR em inglês] para pacientes sofrendo com associações de memórias, circunstâncias ou experiências em particular."

Isso não quer dizer que a comunidade científica descartou totalmente a eficácia do tapping. Pesquisadores da Universidade Staffordshire estão fazendo um estudo sobre o EFT no Reino Unido e pediram ao sistema público de saúde inglês para começar a oferecer a técnica como uma terapia eficiente contra depressão, ansiedade e raiva. A técnica exigiria pouco mais de cinco sessões para tratar os pacientes com eficiência, um resultado bem mais rápido se comparado com Terapia Cognitiva Comportamental, que exige um mínimo de 20 sessões.

A Dra. Stephanie Franz é uma clínica geral que largou a prática médica depois que o EFT curou sua dor crônica. "O tapping melhorou toda minha saúde. Às vezes é difícil descobrir se você está deprimido porque está com dor ou [está] com dor porque está deprimido. Mas com o EFT isso não importa. Você pode abordar sintomas emocionais e sintomas físicos. Cheguei à conclusão de que pelo jeito como a clínica geral estava indo, seria difícil para nós ajudar muitos dos pacientes. Os médicos simplesmente não têm tempo. Achei que eu poderia abordar as raízes dos sintomas de muitos pacientes. Sendo assim, decidi largar meu consultório e passar para o EFT."

Depois de ajudar muitos pacientes, Franz está convencida de que terapias complementares como o tapping deveriam estar mais disponíveis. "Conheci pessoas que passaram por 30 anos de análise e antidepressivos, e que tiveram seus sintomas reduzidos em oito sessões. Ou pessoas que estavam tão estressadas que não conseguiam fazer nada, e que agora têm uma boa qualidade de vida com menos de 10 sessões. Já vi pessoas se recuperando quando tratamento médico tradicional não funcionou."

Nonsense ou não, qualquer suposto efeito da técnica em cada indivíduo só será descoberto se for experimentado. O mais interessante do tapping é que isso representa uma forma de cuidado consigo mesmo que não custa nada num tempo de crise econômica. Aprendendo a técnica com um praticante — ou de graça na internet — você também pode tentar. Se o tapping pode ajudar pessoas com problemas de saúde menores, então vá em frente. Só não faça isso na frente do seu chefe.

@hannahrosewens

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.