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Entretenimento

Um Papo com o Cara por Trás de Final Flesh

magina um adulto vestido de bebê tentando engatinhar de cabeça pra dentro de uma vagina. Uma mulher dando de mamar para um teco de carne crua. Uma mulher se banhando com as lágrimas de uma criança.

Alguns meses atrás nós te contamos sobre Final Flesh, projeto em que o Vernon Chatman pagou uma produtora pornô para filmar um roteiro bizarro que ele escreveu. Imagina um adulto vestido de bebê tentando engatinhar de cabeça pra dentro de uma vagina. Uma mulher dando de mamar para um teco de carne crua. Uma mulher se banhando com as lágrimas de uma criança. Mas muitas coisas ainda resistem a classificação de frases cômicas fáceis: “Homem que acha que está morrendo deitado envolvido em fraldas no seu leito de morte é saqueado por um fantasma com uma máscara do Esqueleto (do He-Man), mas é salvo da morte certa quando uma dama enfia uma salsicha em suas calças e dá umas mordidinhas nele.”

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Dias depois de assistir, estou mais e mais convencido que essa pode ser a obra-prima do Chatman. Em comparação a assistir Invocation of My Demon Brother do Kenneth Anger na semana passada, agora parece que eu estava estudando um tipo chato de tinta.

Chatman já ganhou um Emmy escrevendo para o Conan O’Brien, e roteirizou os sketches do Snoop Dogg pra MTV. Ele também é a voz de Towelie – a toalhinha maconheira do South Park. Ainda assim, mesmo com todo esse inferno de glórias, ele se mantém um cara muito gente fina.

**Vice: Oi Vernon. Assisti ao seu filme outro dia, junto com uma amiga, e tenho uma coisa pra te perguntar. Não é um filme pra assistir a dois, né? **
Vernon: É um filme pra assistir a dois e acabar com a semana.

Bom, pelas sinopses que li, tive a impressão de que não tinha nada explícito – nada realmente pornográfico – no filme. Tendo assistido ao filme, posso confirmar que há sim algo um tanto pornográfico ali.
Bom, tem algo pornográfico em tudo – se você fizer direito.

Os atores na quarta parte do filme parecem muito mais bonitos do que os das partes anteriores. Você teve que pagar mais por isso?
Não, os preços eram bem parecidos. São atores do Porn Valley na Califórnia, e a beleza é uma coisa barata por lá.

Por que você subdividiu em quatro episódios?
Acho que fica mais tolerável desse jeito. Parte do experimento é ver como pessoas diferentes abordam a coisa. E simplesmente porque é interessante para mim ver as diferentes vozes artísticas interpretativas de cada grupo.

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**Qual voz artística você acha que se expressou mais claramente? **
Bom, minha preferida é a primeira. Por um lado é porque foi a primeira, e o choque inicial da situação. E por outro porque acredito que eles são alguns dos instrumentos mais puros para a minha verdade. Eles não interpretam muito. Na maior parte do tempo simplesmente submetiam as palavras no vídeo. Era sem nenhuma afetação – eles eram muito sinceros.

Alguém, fugiu do roteiro? Nenhum autor tem sua visão desenvolvida perfeitamente – houve algum tipo de problema com os atores reinterpretando o material de um jeito que você não queria?
Parte da barganha era que eles tinham que ser totalmente fiéis ao roteiro. Pro resto, eu disse: “façam o que vocês acharem melhor.” E teve, admito, umas cinco palavras que eles esqueceram. Eles foram bem fiéis. Na última parte uma mulher estava fazendo uns sotaques, mastigando o diálogo, curtindo seus momentos ao sol. E não sei se foi pura insanidade ou uma ótima interpretação. E não tenho mais certeza que exista uma diferença.

Então quer dizer que, como uma espécie de projeto cívico, você deu à essas pessoas algo maior para aspirarem em suas vidas monótonas? Ou pelo menos, você deu a eles uma tarde mais divertida do que a que eles teriam?
Certo. Mais diversão e menos pintos nos seus rabos. Na verdade eu sei que muitos deles fizeram faculdade. Vários deles tiraram seus PhDs em filosofia depois dessa experiência. Vários deles abriram instituições de ensino superior. Mas eles nunca se desviaram muito de seu amor primordial – muitos, muitos pintos nos seus rabos.

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Você chegou a pesquisar a obra passada deles pra poder desenvolver uma espécie de relação-controle-remoto com eles através do roteiro?
Não, não olhei muito para o trabalho deles. Eu não sei – eles podem estar todos mortos agora até onde eu sei. Na primeira, quando eles me mandaram a parte pronta, eles também me mandaram uma fita daqueles mesmos atores trepando um com o outro, num dia diferente. O que foi irritante. Porque eu tinha recém terminado, estava naquele êxtase gostoso depois do meu triunfo artístico depravado, daí de repente isso parou, e essa coisa nova começou, e as mesmas pessoas que momentos antes estavam declamando em voz alta minhas pérolas de glória agora estavam ensopadas em pérolas de glória.

Você teve que pagar um extra pelos objetos de cena? Aquela parada de espelhos-nas-testas parecia bem cara.
Eles não fizeram um orçamento aberto, mas eu dizia o que queria, me davam o orçamento, a gente pechinchava, e era isso. Foi tudo muito profissional. Eu recomendaria todas as companhias. Todo mundo cumpriu prazos, e dentro do orçamento. Se você tem o DVD que está nas lojas, tem uns extras, e lá dentro tem uns 15, 20 minutos do segundo grupo vomitando molho de tomate usando roupas de baixo, dando uns tecos, esse tipo de coisa. É o novo Um Rally Muito Louco.

Quanto tempo você demorou para escrever o roteiro? Foi um trabalho de uma tarde? Meio que ‘vamos ver se eu consigo vomitar o máximo de conceitos surrealistas possíveis’?
Bom, demorou um tempão. Eu tive que encontrar meu centro e fazer comunhão com a lua. Quer dizer, muito do que está no roteiro foi a lua que me disse diretamente. Isso demora. E deixa sua marca no corpo. No corpo humano. Mas levei um certo número de anos para acabar. O primeiro foi feito em 2002, o último em 2009. É o mesmo tempo que Orson Welles demorou para fazer Macbeth. E já está sendo comparado à Orson Welles.

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O que John Lee, seu colaborador de longa data, disse sobre o projeto?
Quando ele terminou de vomitar ele disse que gostou.

Você não pensou em incluí-lo?
Bom, era muito pessoal. O primeiro que fiz era para uma mostra de arte numa galeria em Manhattan. Nós fizemos um monte de projetos e esse foi o primeiro. Acho que ele me ajudou a encontrar a primeira produtora. Mas daí virou um trabalho de paixão e amor da minha parte. Eu ia fazer um na Inglaterra também, mas não consegui achar a produtora certa para fazê-lo.

Tem uma cena onde um homem tenta retornar ao útero literalmente engatinhando para dentro de uma dama. Você acha que, em seu subconsciente, o homem quer retornar ao útero?
Eu acho que está acontecendo. Não acho que seja uma hipótese. Você está pensando nisso agora, não está?

Talvez. Você acha que o ator que fez isso teve um barato Freudiano?
No roteiro ele tinha que voltar ao útero. Era para eles passarem manteiga em sua cabeça para ajudá-lo. Mas ele tentou usar o rosto. O que eu acho muito pouco realista. Se você está entrando dentro de um útero, você usa o topo de sua cabeça, certo? Eu questiono a motivação dele nesse momento. Você tentaria pelo menos entrar com um pé, não sei.

Para benefício do terminalmente ignorantes, você acha que pode resumir o argumento de Final Flesh?
Isso é a mesma coisa que dizer que você pode resumir a essência nuclear de toda a existência. Então sim. Claro. Hmm. E acho que acabei de fazer isso.

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Taí um kôan. Por que o lançamento foi tão modesto?
Parecia a coisa certa para o projeto. É melhor num canto escuro. Sozinho ou com loucos parecidos com você. A temperatura em qualquer cinema onde está passando sobre uns cinco graus. Então é um bom jeito de aquecer sua casa, ou o seu cinema. Mas acabei de receber os números e vendeu 6,2 milhões de cópias. Platina tripla. Mas eles não usam platina para DVDs, sabe?

O que mais você está aprontando agora?
Estou trabalhando em um monte de programas para TV. Em alguns projetos de filmes. E trabalhando num livro. E tenho um compromisso marcado com a lua hoje, mais tarde.

É verdade que você está trabalhando em um livro?
É, mas isso é segredo de estado.

O que você vai comer no almoço hoje?
Bom, você sabe, acho que vou comer sopa de bola de matzo. Ainda não tenho certeza.

O tipo de sopa que o Orson Welles comeria.
Olha só, eu não quero ficar me comparando ao Orson Welles.