Lanchamos Na Porta Do Shopping Campo Limpo Com O MTST

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Lanchamos Na Porta Do Shopping Campo Limpo Com O MTST

O rolezão popular do MTST no Shopping Campo Limpo acabou em sanduba na frente do portão.

Pra Natália Szermeta, da coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), e os cerca de, segundo ela, 800 integrantes das ocupações Dona Deda e Vila Nova Palestina que tentaram ir ao Shopping Campo Limpo no final da tarde de ontem para o que batizaram de Rolezão Popular, o recado parecia claro: as portas estão fechadas para os pobres.

O máximo que eles conseguiram foi comer pão com mortadela e queijo em frente aos portões fechados, já que o shopping foi um dos que conseguiram liminar para evitar a realização dos anunciados rolezinhos. Eis aí a parte chata da internet. Se por um lado ela facilita a convocação dos passeios como um pavio de pólvora pelo Brasil nos inflamados dias atuais, também acaba com o fator surpresa.

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Na liminar, o juiz Nélson Ricardo Casalleiro, da 7ª Vara Cível, afirma que o shopping, “um local fechado, com corredores estreitos e poucas saídas para todos (…) não possui qualquer condição de recepcionar milhares de pessoas”, sob argumento de que a reação normal seria de pânico e desordem. Em seu site, o Shopping Campo Limpo define-se como empreendimento que beneficia, com oferta de lojas, serviços e lazer, os moradores de bairros como Capão Redondo, Jardim São Luis, Vila Andrade e Jardim Ângela.

Sua assessoria de imprensa disse desconhecer a média de pessoas que circulam diariamente pelos corredores, mas a página do shopping informa que o estacionamento tem capacidade para 1.300 veículos. Em uma rápida conta, considerando momentos de estacionamento lotado e somando pessoas que chegam ao local via transporte público ou a pé, podemos concluir que, se o shopping “não possui qualquer condição de recepcionar milhares de pessoas”, estamos falando de algum outro problema.

A galera saiu do Parque Ipê, onde fica a ocupação Dona Deda, e do Jardim Ângela, mais precisamente Vila Nova Palestina, para dar uma olhada nas vitrines e, de quebra, dizer que ninguém tem o direito de demarcar territórios de ricos ou de pobres. Enquanto concentravam-se na Estação Campo Limpo, bem ao lado do shopping de mesmo nome, outro grupo mobilizava-se para dar um passeio no Shopping Jardim Sul, no Morumbi. Mas lá pelas 17h, os dois já tinham as portas de ferro baixadas e o estacionamento fechado.

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Tambores soando e bandeiras do MTST a postos, o grupo deixou a Estação Campo Limpo e subiu até a Estrada de Itapecerica. Em frente aos portões fechados, os tambores deram uma trégua para Natália berrar, em frases curtas, repercutidas em coro por quem estava lá: “O rolezão de hoje é para dizer que os shoppings, os donos de shoppings e os ricos deste país não vão dizer onde nós, trabalhadores e pobres, podemos ir. Nós não vamos nos calar diante deste muro social. Os trabalhadores têm o direito de entrar onde quiserem e ninguém vai dizer a roupa que devemos vestir e a cor que temos que ter para entrar em qualquer lugar. Viemos aqui também para fazer um lanche, mas o shopping fechou as portas. Não vamos comer no McLixo e  nos restaurantes dos ricos. Vamos comer o nosso humilde pão com mortadela aqui fora mesmo. Mas voltamos em breve para sentar nos bancos dos shoppings”.

Não teve lanche para todo mundo, mas teve também quem rejeitasse mais sanduba. Depois da última mordida no pedaço de pão que tinha mortadela, a mulher cutucou o primeiro que viu passar para entregar uma metade que ficou só com queijo.

“Ó! Pega aqui.”

“Não quero, não, tia.”,  dizia o moleque com a boca cheia e um fiapo de pão ainda nas mãos pra próxima mordida.

“Pega! É que eu não como queijo.”

“Nem eu.”

Lá se foi a mulher com o resto na mão.

Ao redor, deu para sentir que, naquela hora, som mais alto, sandubas na mão, gente dançando, o objetivo também era se divertir num espaço que deveria ser de todos. Independente se do lado de dentro ou de fora, o shopping havia fechado para eles, exclusivamente para eles.

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Quando se organizavam para voltar ao ponto de partida, rolou o momento mais exaltado do rolezão, quando dois homens usando máscaras lançaram latas com tinta em direção às portas do shopping. Não ficou claro se faziam parte do grupo e nem para onde se mandaram. Mas sumiram em seguida.

Para Natalia, o fechamento das portas legitima o racismo e o fato de que uma parcela da população é proibida de entrar em determinados locais. “Os shoppings erraram na dose quando criaram barreiras”, diz. Por outro lado, ela percebe a reação como uma alternativa, mesmo que estabanada, às condenáveis repressões policiais que ocorreram em outros rolezinhos e que chamaram atenção do país.