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Saúde

Meu antidepressivo está me engordando?

Se sentir incomível deveria contar como efeito colateral.

Recentemente, uma mulher me deu o assento dela no metrô. Ela não desceu na parada seguinte. E ela estava de salto alto. Depois que sentei, percebi que ela pensou que eu estava grávida. Eu meramente tinha tomado o café da manhã. Não parecia uma boa continuar suando tentando encolher minha pança, então entrei no papel para evitar constranger a nós duas ainda mais.

Depois que desci, eu disse a mim mesma que isso poderia acontecer com qualquer pessoa — qualquer uma com um ligeiro inchaço abdominal, que estivesse usando um vestido sem cintura e tênis ortopédico. Recentemente também ganhei seis quilos, o porquê eu não sabia exatamente, mas tinha algumas teorias. Eu deveria ter trocado meu lanche da tarde por castanhas? Eu finalmente estava no peso de uma mulher adulta? Ou talvez minha médica tivesse esquecido de dizer que o Prozac pode engordar um quilo ou dez?

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Segundo o WebMD, meu médico favorito — porque ele não pode dizer que estou sendo ridícula —, para mais de 25% das pessoas, os antidepressivos podem causar ganho de peso de quatro quilos ou mais. Não se sabe exatamente se é de fato o remédio que provoca isso ou a alteração no humor, mas um estudo recente sugere que esse efeito varia de pessoa para pessoa e de droga para droga.

Antes de trocar para o Prozac, eu tomava outro tipo de antidepressivo: Venlafaxina. Ele tratou eficientemente minha ansiedade e produziu alguns efeitos indesejados, como náusea, sonolência e incapacidade de gozar. Para provar ao meu marido que eu não estava "sendo louca", encontrei um teste clínico que descobriu que 19% dos usuários de Venlafaxina descontinuavam o uso devido aos efeitos desagradáveis que eu estava experimentando, e outro estudo mostrando que 40% dos pacientes tomando antidepressivos experimentavam disfunções sexuais. O que seria o fim da minha relação com o remédio, se a Venlafaxina não tivesse o trevo de quatro folhas dos subprodutos farmacêuticos — tão raro que tive que ler duas vezes para acreditar: perda de apetite.

Como muitas mulheres, a vida inteira lutei com minha imagem corporal. Quando era menina, lembro de acompanhar minha mãe no supermercado e já me sentir mal por não parecer como as mulheres na capa da revista Shape. Mesmo hoje, dois míseros quilos podem ser a diferença entre felicidade e o desespero, se sentir atraente ou feia, ir para a ioga ou voltar para casa e lamber até a embalagem de uma barra de chocolate. Por isso boicotei a pílula em favor da camisinha, mesmo sendo casada. Num nível intelectual, entendo que isso parece besteira. Emocionalmente, esse sentimento vem de um lugar muito antigo de insegurança.

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Depois de tomar Venlafaxina por dois anos, eu estava bastante empolgada ao perder 2,5 quilos, apesar de ter sido provavelmente por causa da náusea, um dos efeitos colaterais mais comuns do remédio (perda de peso é tão normal). Mas no final das contas, os efeitos sexuais me fizeram puxar a tomada. Quando você se acostuma com antidepressivos, é fácil dizer: "Estou bem, nem preciso mais de remédio". Claro, essa linha de pensamento tem uma falha óbvia — se sentir "bem" some quando você para de tomar a medicação. Muito louca com minha própria sanidade, não considerei esse fato e larguei os antidepressivos totalmente.

Consegui manter minha ansiedade sob controle sem medicação por um ano frequentando a terapia, mas tive ataques de nervosismo extremo e insônia. Comecei a tomar Rivotril (uma benzodiazepina) para dormir, mas depois de alguns meses fiquei dependente do remédio. Se não tomava nenhum por alguns dias, eu apresentava síndrome de abstinência, o que fazia minha ansiedade decolar; minha cabeça virava uma máquina de lavar de pensamentos centrifugando.

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Os médicos receitam benzodiazepinas para transtornos de humor, ansiedade e insônia. O problema com os benzos, descobri — além de serem um fator em aproximadamente um terço das overdoses fatais de drogas prescritas — é que quando consumidos regularmente, eles produzem sintomas de abstinência notórios. Não dá para simplesmente largar o Rivotril. Tive que comprar um cortador e dividir os comprimidos em quatro para ir diminuindo a dose aos poucos por vários meses. Era como ter uma instalação farmacêutica na minha cozinha. E eu ainda estava ansiosa.

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Então desisti e voltei para os antidepressivos. Dessa vez, minha psiquiatra sugeriu o inibidor seletivo de recaptação de serotonina (SSRI) Prozac. "É bom para a ansiedade", ela disse. "E geralmente tem menos efeitos sexuais do que outros medicamentos." Ela preencheu a receita e eu aceitei a tranquilidade na forma de pequenas pílulas brancas em formato de caiaque. Depois de duas semanas, eu já me sentia mais calma. Mas se eu soubesse o que estava por vir, eu teria um ataque de pânico.

Comecei a tomar Prozac no meio do ano, mas só fui perceber que minhas calças estavam meio apertadas no final de outubro. Para mim, aquilo era só uma flutuação por causa da época do ano. Comendo pacas no outono; passando fome na primavera até chegar ao verão. Mas quando minhas calças não entravam mais, me pesei. "Quê? Quatro quilos?" Comecei a malhar regularmente e acrescentei levantamento de peso à minha rotina de cardio. Mas nos dois meses seguintes, ganhei mais dois quilos.

"Músculos pesam mais que gordura", meu marido disse, mas eu sabia que ele só estava tentando me confortar. Se sentir incomível deveria ser considerado um efeito colateral.

Não passou pela minha mente que eu poderia ter ganhado peso porque estava menos ansiosa e conseguia curtir mais os prazeres da vida. Isso até uma busca louca na internet achar um estudo concluindo que o ganho de peso de longo prazo do Prozac tinha mais a ver com a recuperação de sintomas depressivos do que com a medicação em si. Era possível que eu simplesmente tivesse… melhorado?

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Mas no verão seguinte, quando fui confundida com uma grávida no metrô, as preocupações com a minha saúde mental voaram pela janela. Frustrada com o ganho de peso, marquei uma consulta com minha psiquiatra. Além disso, um pensamento familiar estava começando a se infiltrar ("Estou bem, não preciso mais do remédio"). Em vez de sugerir um substituto, minha médica concordou que mais uma vez eu devia tentar sobreviver sem tomar medicação.

"Veja como você se sente", ela sugeriu. "É o único jeito de saber."

E era isso que eu planejava fazer.

Mas então, uma voz no fundo da minha cabeça — metade chata, metade sábia — fez outra sugestão. E se eu continuasse com o Prozac e aceitasse as coisas como elas eram? Se eu só conseguia ser feliz com meu corpo num certo peso, pensei, eu estaria sempre nadando contra a corrente. Pela minha paz interior, decidi continuar com o Prozac e aprender a me amar em qualquer tamanho.

E se isso não funcionar, ainda tenho a bupropiona.

Tradução: Marina Schnoor            

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