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A dieta favorita dos alt-right

John Durant, autor do Manifesto Paleo e presença controversa no Twitter, fala sobre sua intensa dieta carnívora e política de direita.

O biliardário do Vale do Silício, Peter Thiel, apoiador de Trump, segue a dieta paleo na esperança de chegar aos 120 anos de idade, segundo a  Bloomberg. O socialista democrata Bernie Sanders "fazia a dieta paleo antes da dieta paleo ser cool", disse uma de suas filhas em uma entrevista para a revista People. Mas será que a paleo — uma dieta basicamente centrada em nozes, vegetais e vísceras — reflete um posicionamento político?

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The Paleo Manifesto [O Manifesto Paleo], livro de 2014 sobre a dieta, traça o perfil nutricional da paleo por meio de uma série de anedotas históricas, explicando como o nosso corpo ainda não se ajustou ao choque da "revolução agrícola", centrada em trigo. O livro é apolítico, exceto pela sua proeminência em debates acadêmicos sobre o valor da psicologia evolutiva e da medicina evolutiva. No entanto, John Durant,o autor do  Manifesto, formado em Harvard, é tudo menos isso: ele é figura carimbada da direita alternativa.

Durant caracteriza a paleo de sua preferência como uma dieta menos política que as versões anteriores do movimento contra alimentos processados.

"Depois da Segunda Guerra Mundial, todos os americanos praticamente passaram a comer a mesma comida processada", ele me contou. "Em termos históricos, a polarização do movimento alimentar começou com a esquerda. O primeiro movimento orgânico estava fortemente alinhado com o vegetarianismo, e ambos eram considerados de esquerda. E mesmo hoje, poucas pessoas de direita são veganas. Isso significava que, caso não-liberais quisessem uma identidade alimentar mais saudável — e identidade é uma fonte importante de motivação a longo prazo —, eles não tinham ao que recorrer. Ou seja, a dieta paleo oferece uma identidade alimentar menos politizada do que o movimento dominante de esquerda, centrado em plantas."

No Twitter, Durant mantém uma postura pretensiosa e eloquente, ao passo que volta e meia defende Donald Trump e figuras como o cartunista de "Dilbert", Scott Adams, e o líder nacionalista holandês Geert Wilders. Mas seu livro, disse ele, ignora política, e a dieta em si dialoga com diversos perfis demográficos.

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"Não falo por todos do movimento paleo. As pessoas seguem a paleo diversos motivos, a maioria deles funcionais — como, por exemplo, problemas autoimunes ou perda de peso —, nada a ver com política", disse ele. "E quando se trata de política, a paleo não é monolítica, tem seguidores de tudo quanto é visão. Então seria bobagem generalizar assim. Contudo, em comparação com o vegetarianismo, a paleo definitivamente atrai mais conservadores, libertários, políticos independentes e pessoas que simplesmente não querem arcar com a bagagem política e religiosa da alimentação centrada em plantas. Quanto mais caminhos para comer comida de verdade, melhor!"

Todavia, muitos atletas de renome e profissionais do esporte, como os lutadores Dana White (UFC) e Vince McMahon (WWE), o queridinho dos Patriots Tom Brady e o técnico do Buffalo Bills, Rex Ryan, apoiaram Trump nas eleições.

"Parece que pessoas com mais testorena tendem a ser mais de direita — embora esse fator possa ser mensurado também com base em classe social, visto que classes mais baixas com bastante testosterona são mais favoráveis a políticas revolucionárias", disse Durant. "Se você pesquisar quais celebridades de Hollywood são mais de direita, vai notar que tendem a ser as estrelas musculosas ou caras durões. Basta reparar nas tendências políticas de militares também."

Ao ser questionado sobre status econômico e aderência à dieta — pessoas que comem carne em sociedades industrializadas geralmente vivem em melhores condições que pessoas mais desfavorecidas, cujas calorias ingeridas provêm, em grande parte, de carboidratos —, Durant observou que um mercado funcional resolveria esses problemas.

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"Se as pessoas optarem por dedicar uma pequena porção de seu orçamento a alimentos de melhor qualidade — especialmente produtos animais, que têm maior impacto ético e ambiental —, já fará uma grande diferença para os novos empreendimentos. O mercado é assimétrico, visto que uma perda de 1 milhão em vendas para a Tyson não significa o mesmo que 1 milhão para os fazendeiros pingados que tentam fazer a coisa certa", disse ele, ecoando os argumentos centrais do best-seller  The Omnivore's Dilemma [O Dilema do Onívoro], estudo da cultura alimentar conduzido por Michael Pollan.

E embora haja maneiras pouco custosas para pessoas desfavorecidas aderirem à paleo, como caça de cervos e produtos com descontos, a dieta americana não vai melhorar da noite para o dia. "Alimentar os desfavorecidos é uma questão complicada. Muitas pessoas da área de alimentos querem taxar coisas prejudiciais, ou percebidas como tal, mas não boto muita fé nessa abordagem porque as autoridades já erraram no passado", disse ele. "Também creio que haja uma questão cultural mais ampla, sobre a qual Pollan já escreveu, que os Estados Unidos nunca tiveram cultura e tradições culinárias próprias à maneira de outras nações. Somos muito atomizados. E não cozinhamos mais. E algumas mulheres olham torto para a cozinha, embora a saúde de todo mundo tenha ido por água abaixo quando passamos a terceirizar a culinária para grandes corporações — o papel tradicional das mulheres é importante, e não deveria ser banalizado… seja por feministas de carteirinha, por empresários viciados no trabalho, pela direita ou quem quer que seja."

Em suma, para melhorar a qualidade da comida americana, Durant está mais do que disposto a cruzar as fronteiras entre partidos. "A dieta paleo atrai pessoas inteligentes, que levam a evolução biológica a sério. É o que vejo na maioria dos círculos de tecnologia paleo", disse ele. "Com diretrizes de saúde tão nebulosas no país, a paleo é uma boa hipótese de dieta saudável. E não uma declaração política."

Quanto a outros tópicos, Durant já abraça mais a direita alternativa. "Arruaça violenta em Berkeley/degradação de uma cidade esquerdista/Milo vende livros/Trump sobre nas pesquisas/Constrói um muro ao redor de Berkeley", ele tweetou recentemente.

Tradução: Stephanie Fernandes