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Revista de 2013 - A melhor fruta da época

Afinal, o Rui não é hipster

Mas disfarça bem.

Há coisa de uma semana (ou dez anos, em tempo de internet), veio à baila um vídeo de um rapaz que, no programa Boa Tarde da SIC, quebrou todas as regras de conduta hipster ao apresentar-se como sendo um deles. Ao vivo e em televisão de canal aberto. Debitou cliché atrás de cliché, enquanto uma Ana Marques extremamente indignada o picava sem dó nem piedade. A internet explodiu. Surgiram páginas e não havia como passar dois minutos no Facebook sem dar de caras com uma partilha do vídeo ou ler artigos-réplica ao sismo que este causou. Correndo o risco de atirar lenha para uma fogueira já quase apagada, fui falar com Rui, o hipster. Queria mesmo saber o que é que alguém que, notoriamente, aprendeu quase tudo o que sabe sobre o assunto na internet tinha para dizer sobre a sua experiência. VICE: No programa referiram que eras hipster há dois anos. O que é que se passou para te converteres ao hipsterismo?
Rui Gameiro: Houve algum equívoco por parte dos jornalistas da SIC — nunca afirmei ser hipster há dois anos. Não, então?
A verdade é que eu próprio não sou um hipster. Isto tudo começou com a página que criei com mais dois amigos, a Sociedade Portuguesa de Hipsters. Conheces? Claro.
Pronto. No princípio também nos aproveitámos do conceito hipster, sempre em tom jocoso, de gozo. Mas, essa fórmula esgotou-se rapidamente e decidimos começar a partilhar os nosso gostos musicais. Situam-se dentro da música alternativa, mas é música que toda a gente conhece. Pode estar a parecer-te estranho eu ter ido ao programa fazer de hipster. Pois, era isso que ia perguntar a seguir. Como é que um gajo que diz não ser hipster vai a um programa da tarde fazer de hipster?
Bem, nós começámos como uma página de sátira, embora apenas durante umas poucas semanas, pois sempre achámos este conceito ridículo. Entretanto, recebemos propostas de entrevistas do Correio da Manhã, da Sábado e do Jornal de Notícias, a perguntarem-nos sobre o hipsterismo. Qualquer pessoa que pesquise pode dizer umas coisas para a comunicação social sobre este assunto. Foi tudo com o intuito de promover a nossa página, a SPH, que estava em crescendo! Ou seja, os jornalistas iam ao Facebook procurar páginas sobre hipsters e o primeiro resultado que encontravam era a SPH, por isso foste à SIC disfarçado de hipster para promover a tua página?
Sim, foi essa a principal razão. Não achas que é ir um bocado longe por uma página de Facebook?
É óbvio que não me sentia confortável naquela posição, sabia a onda de ódio que aí vinha, mas como nunca tinha estado na televisão, quis ver qual seria o meu comportamento perante aquele novo ambiente. Até porque na minha futura vida profissional vou estar sujeito a momentos em que o meu trabalho vai estar a ser observado por várias pessoas e vou estar sob pressão. A outra parte da verdade é que quis criar um bocado de caos e tentar acabar com esse conceito ridículo de hipster. Ao assumir-me como hipster no programa estava logo a quebrar a primeira regra, de nunca se assumirem como tal. O bigode, com duas semanas apenas, era totalmente irónico, mas achei que seria oportuno para a minha intenção de ridicularizar. Quanto ao vestuário, foi pegar nas roupas mais distintas que tinha e tentar fazer uma conjugação menos comum. Quanto ao que eu disse, é fácil ir buscar isso a qualquer site, mesmo ao Urban Dictionary. Bastou-me estudar o discurso. O teu estratagema fez-me lembrar daquelas máquinas em que andam coelhos a tocar tambor accionados por alavancas, enquanto peças de dominós caem para, no fim, deitarem cereais no leite.
Tipo o videoclip dos Ok Go para a "This Too Shall Pass"? É verdade que gosto muito de música e que vou a muitos festivais, mas sou um rapaz normal. Aproveitaste a deixa para ir passear a um estúdio e minar a cultura hipster ao mesmo tempo?
Totalmente! Gostei de ir aos estúdios da SIC, é uma sensação completamente diferente de quem está à frente do televisor, ver aquela organização ao segundo. Considero que foi uma boa experiência. Mesmo com o ódio que recebeste? Chegaste a mudar o teu nome no Facebook para despistar os stalkers mais ferozes…
Não estava à espera desta reacção exponencial das pessoas. A princípio, pensei que o meu estratagema não tinha corrido tão bem, mas depois percebi que não me importava com a opinião dos outros e que até tinha conseguido mais fãs para a nossa página. Meios para atingir um fim. Foi uma forma pouco ortodoxa, mas até gostei desta controvérsia. Afinal, as pessoas deram-me importância, apesar de negativa. Sempre quis fazer uma destas para deixar a minha marca, funciono um bocado assim. "Falem bem ou mal, mas falem de mim", é?
Confirmo, gostei do protagonismo. Pensei que meia dúzia de pessoas fosse ficar ofendida, mas ascendeu aos milhares! Talvez tenha metido o dedo na ferida, vou ficar com o cognome de hipster, mas na verdade ninguém me vai reconhecer se me vir na rua, portanto é na boa. Ya, rapas o bigode e já ninguém sabe quem és, como na banda desenhada.
O meu bigode foi à vida na noite que se seguiu à entrevista. Partia-me a rir sempre que me via ao espelho com aquele aspecto, mas pensei que sem o bigode não seria tão convincente. Só por curiosidade: esta entrevista também foi para promover a página ou entretanto já te deixaste disso?
Já me deixei um pouco. Com a publicidade que fiz na televisão, acho difícil promover ainda mais. Além disso, a maior parte das pessoas não lê jornais nem revistas. Se lessem, saberiam o que andamos a fazer na SPH. Basta ler a descrição da página. É a coisa mais simples do mundo, mas nem os jornalistas o fazem. O que tens a dizer aos verdadeiros hipsters, aqueles que nunca disseram que o são?
Tenho a dizer que tenho uns sapatos vintage do Fred Astaire (segundo a Ana Marques) para vender! Bom preço. Agora a sério, eles são um bocado arrogantes, mas no fundo gostam de música e, como eu também gosto, acho que poderíamos ter boas conversas. Dizia-lhes também para não usarem óculos sem precisarem deles, vão ficar todos apanhados da vista.