Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D Espanha.Muita coisa aconteceu desde que, em 1995, um electricista vingativo roubou o vídeo sexual mais famoso dos anos 90 e um dos primeiros fenómenos virais propagados através da Internet. Os seus protagonistas eram, nem mais nem menos, Pamela Anderson e Tommy Lee, um do casais mais explosivos e icónicos de finais do século XX.Na famosa cassete podíamos ver uma versão terna e real de duas celebridades em plena lua-de-mel, ao mesmo tempo que nos convertíamos em espectadores da intimidade de um casal no fogoso início da sua relação.
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Longe de Hollywood e da moda das "sex tapes" de famosos, deparamo-nos agora com a Lustery, a nova web dirigida pela actriz, realizadora e produtora porno Paulita Pappel. A lustery funciona como uma comunidade onde casais de todo o Mundo podem partilhar os seus vídeos sexuais, num espaço seguro e respeitador. A única condição é que sejam efectivamente duas pessoas que mantêm uma relação sexual, seja monógama, aberta, ou ocasional. A finalidade é que o conteúdo seja diversificado, tanto no que diz respeito às pessoas, como aos corpos, tipos de relações e orientação sexual.
Paulita Pappel. Todas as fotos cortesia da artistaMais que porno amador, Paulita prefere ver o projecto como uma espécie de sexo documental. Com uma estética simples, mas cuidada, os protagonistas não interpretam nenhum papel, nem seguem qualquer tipo de coreografia pré-definida. São, simplesmente, eles próprios, em frente à câmera. É por isso que não há práticas sexuais que tenham necessariamente de estar representadas, "o importante é que as pessoas se sintam cómodas, que captem a intimidade e confiança que existe entre elas e, claro, a sua paixão e energia sexual".Para além de ser um paraíso para exibicionistas e voyeurs, o site é, também, um local onde se pode aprender e partilhar informação e experiências sexuais, de uma forma sã e positiva, sem qualquer culpa ou proibição. Através do blog agregado, podemos conhecer um pouco melhor os casais protagonistas dos vídeos, ler artigos sobre ejaculação feminina, brinquedos sexuais, ou sobre diferentes tipos de relações que podem ocorrer entre pessoas, para lá do cliché do casamento, ou do namoro.
Ironicamente, hoje em dia, Pamela Anderson - imagem mítica e definitiva do império Playboy e ícone sexual de várias gerações - dedica-se a fazer campanha contra a pornografia, dando inclusive palestras na companhia do rabino judeu ortodoxo Shmuley Boteach, sobre os supostos danos que causa.Por sorte e para compensar a incoerência da famosa playmate, há cada vez mais pessoas como Paulita. Artistas, trabalhadoras sexuais e casais anónimos, que demonstram que o porno - aquele que é feito com sinceridade, carinho e respeito - pode servir para curar as feridas que, quer a religião, quer a ignorância, causaram à sociedade e que, através dele, podemos aprender mais sobre nós próprios. Sobre o nosso corpo, género, sexualidade e relações.