Jovens, Envelheçam: Por que É Tão Difícil Deixar os 20 Anos pra Trás

Dois dias antes do meu aniversário de 21 anos, fui fazer um teste de gravidez. Preciso explicar que estar grávida era a última coisa que eu queria naquela idade. Porém, eu sabia que, sim, havia uma chance de ter tido meu jovem óvulo fecundado pelo espermatozoide do meu então namorado. Foi um alívio receber aquele beta-HCG negativo, mas ali vi minha década dos 20 começar. Meu namoro de quatro anos chegou ao fim, mudei de curso na universidade duas vezes e de trabalho outras tantas.

Em resumo: na última década, não me apeguei a nada e colecionei uma pá de experiências nem sempre edificantes. Agora, aos 29, rolou um desejo de mudar. Beber menos, fazer exercícios regularmente, me fixar num emprego, arrumar um namorado. Sossegar, amadurecer. Mas como?

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Não fiquei a última década sentada esperando o retorno de Saturno, mas ele está aí. O astrólogo Zander Catta Preta me explicou que são necessários 28 anos para Saturno dar uma volta ao redor do sol e voltar ao ponto em que estava no seu nascimento. Segundo o astrólogo, o planeta pode influenciar no crescimento, no aprendizado e na maturidade. “O retorno de Saturno pode fazer você negar a dualidade e abraçá-la”, diz ele.

“Somos uma geração mais angustiada pela falta de modelos”.

Será que agora eu, alguém nascido sob o céu de Gêmeos, finalmente vou deixar de ser tão ansiosa, aflita, falastrona e passar a sentir a serenidade que aquelas pessoas autoconfiantes parecem ter? Zander lembra que, na astrologia, se pressupõe que as pessoas mudem com o passar do tempo e que aos 30 anos você seja indiscutivelmente adulto.

Segundo a astrologia e o mundo à minha volta, sou uma adulta. Sem me convencer completamente disso, fui em busca de outras respostas. A taróloga Simone Laterza afirma que “devemos tentar entender as tendências das nossas ações e fazer as nossas escolhas”. Certo, isso quer dizer que, se eu quiser continuar apaixonada por aquele cara que só me liga quando tem vontade de transar, vou continuar na bosta, porque essa é a tendência da minha ação, ainda que a escolha seja só minha, correto?

Para a taróloga, “não devemos entregar nossas ações a nada nem [a] ninguém – nem ao oráculo, nem ao guru”. Simone manda logo a real: “Nenhum tipo de pessoa é responsável pela nossa vida a não ser nós mesmos. Temos de estar preparados para o acaso, porque nossa vida muda todos os dias. A vida é feita de ações e escolhas”.

Simone e sua sabedoria me fazem pensar que, mesmo colecionando “cagástrofes” amorosas nesses últimos anos, eu não deveria culpar ninguém pelas minhas decisões. “Você é corresponsável pelo seu próprio destino”, frisa a taróloga.

“Nenhum tipo de pessoa é responsável pela nossa vida a não ser nós mesmos”.

Responsabilidade é algo que sempre tive quando o assunto é pagar as contas. Posso ter mudado de emprego algumas vezes na última década, mas, desde os 20, tenho meu próprio dinheiro. Pagar aluguel é minha prioridade número zero, o que talvez aponte alguma maturidade nesses trinta anos. Isso e o fato de o meu sistema reprodutor biologicamente ter alcançado a maturidade.

Quem me explica isso é a ginecologista Ana Luiza Antunes, do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, ao dizer que nosso corpo envelhece um pouco todos os dias. As mulheres, ela destaca, possuem todos os seus óvulos armazenados desde o seu nascimento. Diferentemente dos homens, que produzem novos espermatozoides a cada três meses.

“Ao dividir as taxas de fertilidade por idade na mulher, levando em conta um espaço de tempo de cinco anos, e tendo como referência base dos 20-25 anos – quando a maioria das mulheres costumava engravidar –, observamos que as mulheres 25-29 anos têm taxas de fertilidade 6% menores; aos 30-34 anos, 14% menores; e, aos 35-39 anos, uma queda de 31% comparado ao grupo inicial”, relaciona a ginecologista.

Ainda assim, Ana Luiza lembra que não podemos afirmar que há uma idade ideal para se ter filhos. “Não podemos dizer que a gravidez não é possível nessas idades.” Para a médica, o importante mesmo é responder a algumas questões, como:

a)Você quer ser mãe?

b)Você quer engravidar?

c)Qual a importância da gravidez na sua vida?

As dúvidas sobre essas (e outras questões) ainda são grandes para mim. Aos 21, certamente teria abortado. Hoje, não sei. E o NÃO SEI na minha vida começou a ficar muito grande, assim como a angústia e a ansiedade se tornaram sentimentos cada vez mais frequentes. Por isso, depois de ouvir um astrólogo, uma taróloga e uma ginecologista, fui em busca da palavra de um psicanalista.

“As mulheres, ela destaca, possuem todos os seus óvulos armazenados desde o seu nascimento. Diferentemente dos homens, que produzem novos espermatozoides a cada três meses”.

Claudio Montoto, psicanalista lacaniano, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, destacou que “somos uma geração mais angustiada pela falta de modelos”. O psicanalista explica que a geração Y, os millennials, euzinha e todos os nascidos entre a década de 80 e 90, sofremos com os novos padrões familiares. Muitos dos nossos pais e mães estavam preocupados demais trabalhando e delegaram nossa criação a babás e à escola. Isso deu um nó nas nossas cabeças infantis; assim, crescemos sem uma estrutura, digamos, mais sólida na qual nos espelhar.

O resultado desse novo modelo familiar, diz o psicanalista, são jovens mais angustiados, cheios de dúvidas e com certa dificuldade em amadurecer. Ainda assim, Montoto lembra que, se você é um jovem de trinta anos desempregado que vive na casa dos seus pais, isso talvez seja mais responsabilidade dos seus próprios progenitores. Ou, em outras palavras, está na hora de a mamãe convidar você a sair de casa.

Logo, isso quer dizer que sou uma mulher madura? “Amadurecimento tem a ver com o sujeito se aproximar de um senso crítico para bancar suas próprias escolhas”, atesta Montoto. “Quando o sujeito consegue se desligar do imperativo do outro (de estar preso à reação do outro), isso é o amadurecimento”.

Então, tá. Vou lembrar que, conforme a orientação de todos os profissionais ouvidos para esta matéria, as decisões que farão de mim uma adulta madura (como ter uma máquina de lavar roupa, admitir que estou em um relacionamento sério e pensar em constituir uma família) dependem unicamente de mim. Continuarei tentando.

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