Por que os clubes são tão omissos em relação à homofobia?

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Essa reportagem integra a série Brazica, a nossa busca pelo lado mais inusitado do futebol nacional. Acesse todas as matérias aqui.

Qual foi a última vez que seu clube se posicionou diante de um caso de homofobia?

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Como você deve ter notado nesses segundos de reflexão, a postura homofóbica não é uma exclusividade dos atletas ou das torcidas. Ela é estrutural e afeta também as diretorias que fingem que nada acontece.

Dois casos recentes com grandes times paulistas demonstram essa postura omissa. No mais próximo, do começo deste ano, um torcedor palmeirense se posicionou contra um grito homofóbico de sua própria torcida no Twitter e, apesar do apoio de parte da imprensa, foi ameaçado por isso. O Palmeiras não disse uma linha sequer e tentou esconder o fato. Já em 2013, no caso do selinho de Emerson Sheik, um dirigente do clube afirmou que “o Corinthians não se mete nisso não”. Duas claras tiradas de corpo.

“Essas medidas reforçam o ideário de que o futebol é um espaço majoritariamente masculino. No Brasil se consolidou essa ideia de que o futebol é jogo pra macho”, afirma o historiador, pesquisador e mestre em mudança social e participação política Maurício Rodrigues. “A ideia de ser homem é um valor. Quantas vezes se tem essa fala de ‘aqui é um time de homem’ na tentativa de mostrar superioridade diante do adversário? Tem um antagonismo de mostrar que é mais homem do que o oponente. Isso está na disputa simbólica do campo, dos jogadores e na arquibancada também.”

Entre tantos exemplos de omissão, há um solitário posicionamento de time contra a homofobia. Aconteceu em 7 de fevereiro do ano passado no Rio Claro. O clube da Série A2 do Campeonato Paulista fez uma nota oficial em suas redes sociais afirmando lutar “pelo fim de uma vez da homofobia nos estádios de futebol” e se disse contra aos gritos de “bicha” no estádio. Foi algo raro, mas que não reverberou por muito tempo.

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O historiador Maurício Rodrigues. Foto: Caroline Lima

“Eu não sei qual foi a efetividade desta ação, porque a diretoria pode ter feito isso, mas não sei qual foi a resistência criada dentro da arquibancada, entre os torcedores”, diz Rodrigues. O historiador relembra ainda um posicionamento feito pelo Corinthians em 2014. O time alvinegro afirmava em carta que não poderia haver homofobia nem grito de “bicha” no estádio. Serviu, afirma Rodrigues, mais como marketing do que algo efetivo. “Foi um manifesto feito a partir do medo de receber uma punição.”

Ainda assim, Rodrigues vê o copo meio cheio. “Se pegarmos há 10 anos não havia nenhuma discussão, o tema era só motivo de riso”, diz. “Hoje já há certo constrangimento dos clubes serem impelidos de se posicionar. Há uma década eles nem se sentiam constrangidos em ignorar uma demanda sobre homofobia. Hoje tem essas ações, mesmo que pontuais.”

Uma coisa é certa: a homofobia nos estádios não acabará de um dia para o outro. O trabalho será longo. E começa, muito provavelmente, nas arquibancadas e nas diretorias.

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Assista ao nosso documentário Bicha!, um mergulho na homofobia do futebol brasileiro:

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