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Por que suas encomendas ficam presas um tempão em Curitiba?

O Brasil não é um país fácil para quem curte tecnologia ou aparelhos eletrônicos. Se você quer construir um robô de combate, por exemplo, grande parte dos componentes necessários para construir o seu amigo mecânico é produzida fora do país. Caso, como alguns amigos nossos, você queira uma mangueira inteligente — sim, aquela que esguicha água e que agora vai ganhar conectividade na Internet das Coisas — você não têm a quinquilharia disponível no mercado nacional.

Como você já deve imaginar, a alternativa é importar. Não são poucos aqueles que recorrem a sites chineses em busca de drones ou outros eletrônicos. O problema é quando esses produtos chegam ao território nacional. Há, segundo incontáveis relatos nas páginas da Receita Federal e dos Correios do site Reclame Aqui, uma espécie de buraco negro onde essas compras ficam paradas por um tempão (às vezes meses) até chegar à casa do comprador: Curitiba. Por que isso acontece?

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Bem, vamos por partes. Primeiro é preciso saber que, quando a encomenda chega ao Brasil, ela é enviada a uma das três Unidades de Tratamento Internacional dos Correios, que ficam em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. As duas primeiras unidades recebem encomendas de até 30 kg, enquanto o grande volume de produtos vai para a unidade de Curitiba, que recebe encomendas de até 2kg.

Conforme esclareceu os Correios por meio de sua assessoria de imprensa, uma vez em Curitiba, essas encomendas de pequeno porte permanecem lá pelo tempo necessário para que seja realizado o “desembaraço aduaneiro”. Isso consiste basicamente na fiscalização da carga pelos órgãos anuentes, a exemplo Receita Federal, ANVISA, VIGIAGRO, Exército, IBAMA, entre outros. Ou seja: leva um tempinho para esse pessoal ver se tá tudo em ordem com a importação.

Apesar da reclamação recorrente da demora na entrega dos produtos, o serviço de postagem garante que cerca de 95% da carga recebida em Curitiba é expedida em até uma semana. E justifica que a dificuldade de parte dos compradores acontece por conta da forma da postagem. “As pequenas encomendas econômicas, que possuem código de registro iniciado pela letra R, por exemplo, não pertencem ao serviço de encomendas, segundo a legislação postal e, por essa razão, não possuem rastreamento completo.”

Essa posição também é sustentada pelo professor José Meireles de Sousa, coordenador do curso CST de Comércio Exterior e Finanças da Universidade Anhembi Morumbi. Para ele, como as pequenas encomendas não têm rastreio no percurso internacional, isso leva o importador “a crer que a demora é exclusiva do serviço alfandegário”.

Sousa também aponta a demora no recebimento do produto acaba sendo agravada pelo modelo de transporte interno no Brasil. Embora a maioria das pequenas encomendas chegue ao Brasil por via aérea, as viagens podem demorar vários dias. “Os aviões fazem várias escalas e, após chegada aos aeroportos brasileiros, a movimentação até Curitiba se faz via rodovia, o que também pode demorar”, explica.

Já em Curitiba as coisas não são mais calmas. Pelo volume de pacotes que chegam (cerca de 200 mil ao dia) e o aumento no rigor da fiscalização da Receita Federal, a demora pode ser agravada. “Agora com dados compartilhados com os correios, afetam os produtos eletrônicos que carecem de autorizações de órgãos anuentes nas importações”, comentou.

Apesar da situação não muito feliz para o entusiasta da aparelhos eletrônicos, Sousa é otimista em relação ao futuro da situação. Ele aponta que os Correios têm melhorado o sistema de importações com a automação dos serviços em colaboração com a Receita Federal e com a facilidade no pagamento de tributos na importação.

Mesmo assim, talvez você tenha que ser um pouco paciente. Seu drone vai chegar… eventualmente.

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