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Viagens

Cidades de merda por onde passei: Bucareste, Paris, Varna

Nem todas as viagens são maravilhosas.

— Joca para os amigos  tem 31 anos. Tirou História, mas tem uma loja de roupa vintage. Já tocou em várias bandas (ex-Green Machine, ex-Fetal Incest, ex-Weird Nox, ex-Botswana, ALTO!, 10 000 Russos), mas só começou a escrever música aos 30. Já deu umas voltas pela Europa (licenciado na ex-Jugoslávia) e gramou uns sítios. Outros não. Esta coisa aqui abaixo é, precisamente, sobre isso. Depois de ter colaborado  pontualmente connosco, o Joca inicia agora uma participação mais activa e regular. Bucareste é um nojo. Está cheia de lixo, de putos a cheirar cola e de matilhas de cães (estima-se que sejam 300 mil). Foi lá que comi o pior kebab da minha vida: falafell mais duro do que broa. Foi lá que me meti por ruas sem qualquer tipo de iluminação pública, onde um telemóvel é a salvação, porque só as avenidas são iluminadas à noite. Tentei ser enganado por todos os taxistas e fui perseguido por cães — um turista japonês sangrou até à morte depois de um ataque destes. O horror habita aqui. Basta ver que Bucareste quis ter uma avenida com mais 100 metros do que os Campos Elísios, em que dantes jorrava água das fontes. Agora, só sai lixo. Nesta saga de terror, inalei cimento sem querer — os edifícios estão a desfazer-se em milhões de partículas — e olhei com especial repulsa para a casa do parlamento romeno (o segundo na lista dos maiores edifícios governativos do mundo e primeiro na dos mais feios). Quanto a Paris… Sinceramente, odeio Paris. Não se consegue comer direito em lado nenhum, o sistema de metro está todo rebentado (só aquela linha que passa pelo Arco do Triunfo e pelo Louvre é que está direita). Não há uma loja de discos em condições, não há livrarias de jeito (excepção feita à maravilhosa Shakespeare and Co, que só tem livros em inglês). O ambiente em algumas zonas da cidade é de cortar à faca — dois blacks, um magrebino, o branco do bairro e um pitbull. A campa do Morrison parece um bolo de noiva, as filas para o Musée d’Orsay ultrapassaram as três horas. E, bem pior do que tudo isto, tem montes de franceses. Se a Bulgária é o esgoto da Europa, Varna será o seu maior ralo. Mundialmente conhecida pelo Dracula de Bram Stoker, Varna não tem absolutamente nada. Ou melhor, tem, mas está tudo ao contrário. As maiores termas romanas da Europa oriental encontram-se aqui, mas estão sempre fechadas. Há um parque mesmo em frente ao mar delicioso, mas está cheio de tanques e de navios da primeira guerra. A zona da praia tem um areal bem gigante e a temperatura da água ronda os 20 graus — só há um problema: há dezenas de bares a debitarem turbofolk para o areal (desengane-se quem pensa que isso é música à Kusturica, é mais Santamaria em búlgaro. Cirílico é a caligrafia). E a cereja em cima do bolo: a cidade tem tantos buracos nos passeios e ruas que é, literalmente, impossível não enfiar o pé numa destas poças negras. O resultado é mais meia hora de higiene diária ao fim do dia só para raspar da base dos pés toda a merda que Varna caga.